Edouard percebeu, finalmente, quais são os tiros certos no futebol

A carreira do avançado do Crystal Palace esteve em risco quando, um dia, decidiu disparar um tiro de pressão de ar a um cidadão, deixando-o surdo. Não foi preso, mas prendeu a própria carreira.

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Édouard (à esquerda) celebra pelo Palace Reuters/TONY OBRIEN
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Odsonne Édouard garantiu neste domingo o triunfo do Crystal Palace por 3-2, frente ao Wolverhampton, com dois golos – já leva quatro em cinco jogos nesta temporada.

Para contexto, estamos a falar de alguém que já chegou a deixar Kylian Mbappé na sombra. Uns meses mais novo do que o craque do PSG, Édouard foi, durante alguns anos, uma figura mais relevante do que Mbappé.

Depois de crescer na América do Sul, na Guiana francesa, os pais do jogador foram viver para França, onde se instalaram em Bobigny. Um jovem Mbappé também morava ali perto e foram amigos e rivais desde cedo, já que começaram a jogar em clubes adversários nos arredores de Paris. “Conheço-o muito bem, porque somos amigos de infância. Morávamos ao lado um do outro, mas não jogávamos pela mesma equipa”, chegou a explicar ao Onze Mondial.

Até aos sub-17, Édouard era, mais do que Mbappé, o avançado para quem todos olhavam – incluindo o PSG, que o contratou mais cedo do que ao agora capitão. Foi o melhor jogador do Euro sub-17, em 2015, e esteve no Mundial da categoria e no Euro sub-21 – sempre com golos.

Depois, tudo mudou. Quando foi emprestado ao Toulouse, com 19 anos, Édouard trocou os tiros do futebol – que nem andavam certeiros nessa temporada – por outros bem menos impressionantes.

Um dia, meteu-se num carro com Mathieu Cafaro, colega de equipa, e pararam junto a um cidadão de 62 anos, que julgou que os dois jovens queriam indicações. Assim que colocou a cabeça perto da janela, houve um disparo – relato do próprio. O homem caiu no chão, com o ouvido a sangrar e os jovens foram embora.

Francis Guiral, a vítima, acabou surdo. E Édouard, um dos criminosos, acabou com uma pena de quatro anos de prisão (suspensa) e uma indemnização de mais de 20 mil euros para pagar – multa que ignorou durante algum tempo.

O Toulouse suspendeu o jogador e enviou-o de imediato de volta a Paris. Possivelmente beneficiado pela juventude e por não ter cadastro, Édouard safou-se de ter uma carreira fortemente prejudicada pela prisão.

O PSG não quis ter muito que ver com este tipo de postura extra-futebol e arranjou forma de o enviar para longe de Paris. Em Glasgow, Édouard reencontrou-se com os golos.

O Celtic, que o tinha por empréstimo, acabou por ficar com ele em definitivo, num negócio cujos valores só foram batidos quando o clube comprou Jota ao Benfica.

Na Escócia, começou por ser visto com desconfiança, até pelo episódio que lhe enevoou a imagem. Mas foi buscar a confiança aos golos.

Tanto assim foi que passou a ser dos preferidos dos adeptos, que começaram a cantar “I wanna be Édouard” no refrão do famoso “I wanna be adored”, dos The Stone Roses 8 (vídeo em cima). Chris Sutton, lenda do clube, chegou mesmo a dizer que Édouard era o mais próximo que o clube tinha tido de Henrik Larsson.

Depois de três temporadas de Édouard acima dos 22 golos – pelo meio, foi acusado de os celebrar pouco –, o Crystal Palace achou que havia ali qualquer coisa. Havia ali um avançado com capacidade finalizadora num campeonato de segunda linha, mas que iria oferecer, na Liga inglesa, uma mistura de capacidade física com potência.

Alto e forte fisicamente, o jogador consegue ter, em simultâneo, alguma capacidade de explorar o espaço, combinação sempre muito apreciada no futebol britânico.

Seis golos no primeiro ano e sete no segundo, sempre com mais de 30 jogos, não são um cartão-de-visita de encher o olho? Não. Mas quatro golos em cinco jogos, nesta temporada, sugerem que Édouard acertou, finalmente, a mira – a mira certa, não a da pressão de ar.

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