O Sporting encontrou um bem precioso, mas quis dividi-lo com o Sp. Braga

Não foi fácil ao Sporting chegar ao 1-0, mas os “leões” aceitaram “dividir” essa vantagem preciosa, pela forma como recuaram no terreno na segunda parte.

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Gyokeres e Niakaté em duelo no Minho EPA/MANUEL FERNANDO ARAUJO
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O empate (1-1) entre Sp. Braga e Sporting, neste domingo, para a I Liga, teve contornos curiosos. É que será justo dizer que o Sporting teve, durante parte do jogo, um processo ofensivo interessante e elogiável. E também que o Sp. Braga, que dominou territorialmente boa parte da partida, pareceu sempre algo incapaz de criar perigo.

Mas, curiosamente, é um facto que os minhotos acabaram por rematar mais e tiveram até um valor de golos esperados (xG) acima dos “leões”. E é sempre rico quando os números negam a observação. E também por isso, mesmo que não apenas por isso, o empate até parece justo – porque o Sporting quis bem muitas vezes, mas o Sp. Braga, mesmo não querendo tão bem, talvez tenha querido mais.

Não foi fácil ao Sporting chegar ao 1-0, mas os "leões" aceitaram "dividir" essa vantagem preciosa, pela forma como recuaram no terreno.

Receita repetida

O jogo na Pedreira mostrou que o Sporting tem, por estes dias, um processo ofensivo que explora até à exaustão. O primeiro Sporting de Rúben Amorim apostava numa defesa baixa para depois explorar a profundidade, depois evoluiu para uma equipa mais subida, de ataque posicional, e agora parece estar a voltar às origens, mas sem a defesa baixa – é uma equipa mais requintada nesse aspecto, sendo ela própria, com bola, a criar situações de ataque ao espaço.

A ideia é quase sempre a mesma: um dos três avançados baixa em apoio frontal (sobretudo Gyokeres), arrasta um defensor adversário e um dos outros dois atacantes vai desmarcar-se em profundidade.

Para que se perceba o que está em causa, segue a enumeração dos minutos em que jogadas deste tipo apareceram: 2’ (Gyokeres em apoio e Pote não atacou o espaço), 5’ (apoio frontal de Paulinho para desmarcação de Gyokeres), 15’ (Pote em apoio e Gyokeres no espaço), 21’ (Gyokeres em apoio, mas má definição de Pote), 23’ (Gyokeres em apoio com mau domínio), 25’ (Gyokeres em apoio soltou Esgaio) e 30 (Gyokeres em apoio libertou Nuno Santos).

Foram pelo menos sete jogadas deste tipo (fora as que foram tentadas, mas sem Gyokeres conseguir ganhar a posição à frente do central), sempre com movimento de um avançado num sentido e movimento oposto de um colega.

Aos 27’ e 25’ deram-se dois dos poucos momentos de ataque diferente. Aos 27’ a equipa explorou a largura pelo corredor, com Pote e Esgaio, e dois minutos antes “pediu” a Diomande para encontrar Pote entre linhas, algo que a equipa tinha explorado pouco.

O português enganou Vítor Carvalho, que na última vez que olhou tinha Pote à sua direita e quando olhou novamente ele já estava à sua esquerda, escondido no “ângulo morto”, pronto para um grande remate de fora da área, que selou o 1-0.

Do lado minhoto já tinha havido um grande remate de Ricardo Horta de fora da área, para defesa de Adán, e uma boa transição rápida de Bruma, mas pouco mais. A equipa, que sem bola reduziu o apelo à pressão individualizada (como com o Panathinaikos), com bola apostou, primeiro, em transições.

Recuo "leonino"

Só a partir do golo “leonino” a equipa de Artur Jorge conseguiu chegar-se à frente e conseguiu mesmo “alugar” o meio-campo do Sporting durante alguns minutos a fio – mas sem criatividade.

Numa fase em que os apoios frontais estavam a ser mais bem condicionados pelo Sp. Braga, Gyokeres começou a explorar a lagura. À esquerda (como aos 37’) e à direita (como aos 42’), começou a pedir a bola em zonas diferentes e num desses momentos criou o desequilíbrio que deu golo anulado a Hjulmand.

Aos 57’, Gyokeres esteve perto do golo, isolado por Edwards num contra-ataque, mas a partida após o intervalo foi globalmente mais “morna”.

O Sp. Braga teve muita bola e adiantou os laterais para alas e Bruma e Horta para sobrepovoarem as zonas interiores, mesmo que sem especial perigo. O Sporting foi baixando as linhas, defendendo como podia e atacando, em transições, quando podia.

Até que uma falta sofrida por Banza deu ao Sp. Braga a possibilidade de atirar à baliza, algo que até então pouco fazia. Álvaro Djaló, recém-entrado, bateu o livre com arte, por cima da barreira, e empatou o jogo.

O golo penalizou o recuo excessivo do Sporting, ainda que, em rigor, seja justo dizer que os minhotos não estavam especialmente perigosos.

A saída de Hjulmand também não ajudou o Sporting, que sofreu ainda com a energia de Banza e Djaló, muito influentes na reacção minhota na segunda metade da segunda parte.

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