Rui Valério sobre as vítimas de abuso na Igreja: “O primeiro passo é uma solidariedade e compreensão”
O novo patriarca saudou as vítimas “de todo o tipo de abusos”, a quem transmitiu solidariedade no discurso de poss. Rui Valério tem 58 anos e foi bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança.
O novo patriarca de Lisboa, Rui Valério, disse este sábado que tenciona dedicar atenção a vítimas de abusos sexuais, pedindo que estas sejam colocadas no centro das preocupações por toda a sociedade. "O primeiro passo é uma solidariedade e compreensão", assumiu em declarações aos jornalistas, no exterior da Sé de Lisboa, após tomar posse como patriarca, admitindo que as acções que tem em mente podem passar por ouvir e estar com vítimas de abusos sexuais.
"Temos de proceder a uma conversão para com as vítimas. O que é que isso significa? Significa que elas verdadeiramente devem estar no centro. Só a partir da centralidade das vítimas é que podemos ter o discernimento de saber os passos a fazer", respondeu quando questionado pelos jornalistas sobre um tema que havia abordado no interior da igreja, logo a seguir ao acto formal da posse.
Padre há mais de 30 anos, Rui Valério, revelou que acompanhou duas pessoas que foram vítimas de familiares e destacou a situação de uma jovem que ainda hoje apresenta dificuldades de concentração, até mesmo numa conversa comum.
Questionado sobre a formação dos sacerdotes a este respeito, respondeu que já existe. "Existe desde o princípio", referiu, citando palavras do Evangelho, atribuídas a Jesus: "Deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o reino de Deus". "Nós aprendemos e somos formados para proporcionar a todas as pessoas vulneráveis o reino de Deus, não um reino de terror", sublinhou.
"Acredito na cura integral, envolvendo todos os aspectos possíveis", acrescentou, prometendo dar à igreja de Lisboa o que sempre deu como padre: presença e proximidade. "Vou ser um bispo da estrada, um bispo da rua. Um bispo junto das pessoas. É nessa ótica que vou alinhar a minha direcção", declarou.
Rui Valério recordou as missões no estrangeiro como bispo das Forças Armadas e defendeu uma igreja missionária, para "ajudar a humanidade". República Centro Africana, Mali, Roménia e Lituânia foram países por onde passou, enumerou.
O patriarca manifestou ainda vontade de escutar os jovens e associou a Jornada Mundial da Juventude, realizada em Agosto em Lisboa, ao Pentecostes. "Ao fim desse acontecimento, há uma cena em que se faz a pergunta 'O que devemos fazer?'. Penso que a resposta já se encontra no coração de cada jovem que participou naquela jornada", afirmou.
O novo patriarca de Lisboa, Rui Valério, tomou posse este sábado, 2 de Setembro, na Sé Patriarcal e a cerimónia da sua entrada solene decorre no domingo, na igreja de Santa Maria de Belém, nos Jerónimos, segundo informação divulgada pelo Patriarcado. A posse decorreu diante do Cabido da Sé, ou colégio dos consultores, e a entrada solene será a primeira missa presidida por Rui Valério enquanto patriarca de Lisboa. O novo patriarca saudou as vítimas "de todo o tipo de abusos", a quem transmitiu solidariedade no discurso de posse. "Convosco carregarei o fundo do vosso sofrimento", disse o prelado.
Rui Valério, que trabalhou durante vários anos como padre no Patriarcado, sucede a Manuel Clemente, que pediu a resignação por limite de idade.
O Vaticano anunciou, em 10 de Agosto, a nomeação do bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança como novo patriarca de Lisboa. O novo patriarca tem 58 anos e é natural de Urqueira, no concelho de Ourém. Foi ordenado padre em 1991, em Fátima. Torna-se agora o 18.º patriarca de Lisboa. Pertencente aos Missionários Monfortinos, foi o primeiro padre português daquela congregação a ser ordenado bispo.
Manuel Clemente, que esteve à frente do Patriarcado de Lisboa nos últimos 10 anos, completou 75 anos no dia 16 de Julho, idade prevista para a apresentação da renúncia ao lugar de titular da diocese.