Tajani visita a China com críticas à participação de Itália na Nova Rota da Seda

Governo italiano tem cada vez mais dúvidas acerca dos benefícios em integrar a ambiciosa iniciativa de investimentos a nível global de Pequim e pondera abandonar o projecto.

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Antonio Tajani (à esquerda) vai estar três dias em visita oficial à China EPA/CLEMENS BILAN
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A participação de Itália na Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative ou BRI, de acordo com a designação oficial chinesa), promovida pela China para aumentar a sua influência em todo o mundo, pode estar perto do fim. O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, vai visitar Pequim nos próximos dias, mas deu poucos sinais de que a manutenção do país no mega-projecto de investimento e infra-estruturas irá continuar.

Falando poucas horas antes de embarcar para Pequim, Tajani lamentou que o comércio entre os dois países não tenha crescido desde que em 2019 a Itália decidiu integrar a iniciativa. “A Rota da Seda não trouxe os resultados que eram esperados”, afirmou o chefe da diplomacia, durante um encontro num fórum económico.

Tajani viajou este sábado para a China para uma visita de três dias e deixou em aberto a possibilidade de uma saída de Itália da Nova Rota da Seda. “Teremos de avaliar, o Parlamento terá de decidir se vai ou não renovar a nossa participação”, explicou o ministro.

“A mensagem de Itália é muito clara: queremos trabalhar com a China, queremos estar presentes no mercado chinês, estamos preparados para o investimento chinês, mas é importante estarmos em igualdade de circunstâncias”, acrescentou Tajani, que é também vice-primeiro-ministro, em entrevista à CNBC News.

Desde que Itália se juntou à iniciativa chinesa, as exportações para a China aumentaram de 14,5 mil milhões de euros para 18,5 mil milhões, enquanto as importações de produtos chineses aumentaram de 33,5 mil milhões de euros para 50,9 mil milhões, segundo dados compilados pelas Nações Unidas.

Em 2019, o Governo italiano decidiu juntar-se à Nova Rota da Seda, tornando-se numa das primeiras economias ocidentais de grande dimensão a fazê-lo.

A Belt and Road consiste numa série de projectos com investimento chinês, sobretudo na área das infra-estruturas e transportes, espalhados em todo o mundo, mas concentrados maioritariamente na Ásia Central. Alguns analistas sublinham que se trata de um instrumento fundamental para que o regime liderado por Xi Jinping aumente a sua influência económica e política num grande número de países.

Em Outubro, Pequim vai receber o terceiro fórum internacional da Belt and Road, que visa assinalar os dez anos de lançamento da iniciativa, disse na semana passada o Governo chinês.

A entrada neste projecto de um país como a Itália, terceira maior economia da União Europeia e membro da NATO e do G7, causou desconforto e preocupação nos seus aliados.

No entanto, mais do que a oportunidade para usufruir de relações privilegiadas com a China, a integração de Itália na Nova Rota da Seda tem sido, sobretudo, uma fonte de frustração e é cada vez mais criticada. No final de Julho, o ministro da Defesa, Guido Crosetto, disse que a decisão foi “um acto improvisado e atroz”.

A própria primeira-ministra, Giorgia Meloni, já manifestou publicamente muitas dúvidas sobre a manutenção de Itália na iniciativa chinesa.

“Uma saída italiana da BRI iria reflectir a crescente convergência transatlântica em relação ao desafio que a China representa”, escreve o analista do Council on Foreign Relations, David Sacks, num artigo publicado há um mês. “Os países europeus vêem cada vez mais a China como um rival, e não como um parceiro ou competidor”, acrescenta.

Se nada for feito, a permanência de Itália na Belt and Road Initiative será renovada automaticamente em Março do próximo ano, mas, até Dezembro, Roma poderá desvincular-se formalmente, explica a Reuters.

Em Julho, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China fazia uma avaliação positiva da participação italiana na iniciativa, concluindo que “a China e a Itália devem explorar mais o seu potencial de cooperação”.

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