Presidente eleito da Guatemala denuncia tentativa de golpe de Estado

Bernardo Arévalo diz que o aparelho de justiça está a tentar impedi-lo de tomar posse e pede o apoio da comunidade internacional.

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Arévalo obteve na segunda volta das eleições mais de 60,9% dos votos, o que lhe permite iniciar o mandato a 14 de Janeiro de 2024 EPA/ESTEBAN BIBA
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O Presidente eleito da Guatemala, Bernardo Arévalo, denunciou que as autoridades judiciais, às quais se referiu como “uma máfia política enquistada nas instituições do Estado”, estão a levar a cabo um golpe para impedir a transição do poder.

“Existe um grupo de políticos e funcionários corruptos que se negam a aceitar este resultado e que puseram em marcha um plano para destruir a ordem constitucional e agredir a democracia. Estas acções constituem um golpe de Estado que é promovido pelas instituições que deveriam garantir a justiça no nosso país”, afirmou durante uma conferência de imprensa.

Neste sentido, Arévalo apontou responsabilidades directamente a procuradora-geral, María Consuelo Porras, o chefe da Procuradoria Especial contra a Impunidade, Rafael Curruchiche, ao sétimo juiz da Primeira Instância Penal da Guatemala, Fredy Orellana, bem como a Junta Directiva do Congresso.

Arévalo disse que há “um golpe de Estado em curso” e que o “aparelho de justiça” está a ser usado “para violar a própria justiça”, “enganando a vontade popular expressa livremente nas urnas” através de “acções espúrias, ilegítimas e ilegais”.

“Relembramos que é legítima a resistência do povo para a protecção e defesa dos direitos e garantias fixados na nossa Constituição”, sublinhou, apelando à população que actue, acrescentando que já foram tomadas “acções legais e políticas” necessárias para “garantir o respeito da vontade popular”.

Arévalo, respondendo às perguntas da imprensa, afirmou que sente “satisfação que a comunidade internacional” se tenha “posicionado em defesa da democracia”, uma vez que “compreende a agressão feita contra o Movimento Semilla (Semente)”.

O Presidente eleito sublinhou que o processo tem ainda “quatro meses pela frente”. “Durante esses quatro meses estamos a ver tentativas de várias naturezas (…). Coações a funcionários, pressionando o Tribunal Supremo Eleitoral, os magistrados [e] os funcionários de registo de maneira vergonhosa”, explicou.

“Não se trata de construir pactos políticos: trata-se de construir uma unidade nacional para rejeitar os corruptos de uma vez por todos”, afirmou, acrescentando que é preciso acabar com essa “elite corrupta que hoje está a enfraquecer a Constituição”.

Segundo os dados eleitorais, Arévalo – candidato do suspenso Movimento Semilla – obteve na segunda volta das eleições presidenciais mais de 60,9% dos votos, o que lhe permite iniciar o mandato a 14 de Janeiro de 2024.

A Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos afirmou que a decisão de suspender o registo do Movimento Semilla “tinha como finalidade impedir a tomada de posse dos membros do partido que foram eleitos para a presidência e vice-presidência da República”.

Desde que o Semilla alcançou resultados surpreendentes – face àquilo que previam as sondagens – na primeira volta eleitoral, a 25 de Junho, o Ministério Público guatemalteca tem tomado várias acções para inviabilizar os resultados ou ilegalizar a formação política, acções que foram recebidas com condenação pela comunidade internacional.

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