Vem aí uma “Lua azul”. Mas isso não quer dizer que a Lua mude de cor
Na noite desta quarta para quinta-feira, uma super-Lua vai coincidir com uma “Lua azul”, nome que se dá à segunda Lua Cheia no mesmo mês.
O céu vai ser iluminado por uma “super-Lua azul” na noite desta quarta para quinta-feira, 31 de Agosto, mas esta designação não significa que o satélite natural vai mesmo mudar de cor. Isto porque “Lua azul” é o nome que se dá à segunda Lua Cheia no mesmo mês.
Agosto conta com duas super-Luas: a primeira ocorreu no dia 1 e a segunda vai estar visível nesta quinta-feira. Uma super-Lua acontece quando uma Lua Cheia coincide com o ponto de maior aproximação do satélite da Terra, ao qual se dá o nome “perigeu”. O ano de 2023 contará com quatro super-Luas, incluindo duas que já passaram (em Julho e no dia 1 de Agosto), a super-Lua desta quinta-feira e outra que estará visível em Setembro.
Ou seja, nesta noite de quarta para quinta-feira uma super-Lua vai coincidir com uma “Lua azul”, dando origem a uma “super-Lua azul” — um fenómeno que é bastante raro. Segundo a agência espacial norte-americana NASA, as próximas “super-Luas azuis” só estarão visíveis daqui a 14 anos, em Janeiro e Março de 2037.
Máximo Ferreira, director do Centro Ciência Viva de Constância, começa por explicar ao PÚBLICO que a super-Lua de 31 de Agosto “é a mais super das quatro” que vão marcar o ano de 2023, visto que será a super-Lua que estará mais próxima da Terra — a cerca de 357.344 quilómetros. Estará, portanto, “cerca de uns 200 quilómetros mais perto” da Terra do que a super-Lua de 1 de Agosto.
Quanto à “Lua azul”, Máximo Ferreira salienta que “não tem nada que ver com a Lua mudar de cor”. “A Lua tem sempre a mesma cor e não é possível prever com muita antecedência qual vai ser a cor que a Lua apresenta”, refere. O astrónomo acrescenta que a “Lua reflecte a luz do Sol” e, quando a luz atravessa a atmosfera da Terra, “há uns comprimentos de onda que são absorvidos — umas vezes mais, outras vezes menos — e nós podemos ver a Lua com uma cor mais ou menos amarelada”.
A NASA destaca, numa publicação no seu site, que “uma ‘Lua azul’ é a segunda Lua Cheia num mês”, acrescentando que, “normalmente, os meses têm apenas uma Lua Cheia, mas ocasionalmente surge uma segunda”. “As Luas Cheias estão separadas por 29 dias, enquanto a maioria dos meses tem 30 ou 31 dias; assim, é possível encaixar duas Luas Cheias num único mês. Isto acontece, em média, de dois em dois anos e meio”, nota. A próxima “Lua azul” (sem ser super-Lua) vai estar visível em Maio de 2026.
De onde vem a designação “Lua azul”?
A NASA diz ainda que “a data de uma Lua Cheia, por si só, não afecta a cor da Lua”. Mas, então, como surgiu esta designação? Segundo a agência espacial dos EUA, houve uma altura “em que as pessoas viam Luas azuis quase todas as noites”, referindo-se ao ano de 1883, quando um vulcão indonésio chamado Krakatoa explodiu. “Nuvens de cinzas subiram até ao topo da atmosfera terrestre. E a Lua ficou azul”, explica, salientando que “algumas das nuvens de cinzas estavam repletas de partículas com cerca de um mícron [um milionésimo de metro] de diâmetro — o tamanho certo para dispersar fortemente a luz vermelha, permitindo a passagem de outras cores”.
Mas este não terá sido um acontecimento único, tendo outros vulcões tornado também a Lua azul — entre os quais, a erupção, em 1983, do vulcão El Chichón (México); a erupção, em 1980, do Monte Santa Helena (EUA); e a erupção, em 1991, do Monte Pinatubo (Filipinas).
Máximo Ferreira explica que “a atmosfera da Terra altera-se por várias razões”, nomeadamente por “variações de temperatura” e depois “há gotas de água que absorvem comprimentos de onda e a luz que chega cá é diferente de umas vezes para as outras e, portanto, a Lua pode parecer-nos ter uma cor ou outra”. “Acontece que se existirem vulcões activos ou tiverem existido nos últimos tempos, as poeiras que são lançadas para o espaço absorvem comprimentos de onda.”
O astrónomo frisa que a atmosfera ainda não está, por exemplo, “completamente limpa” da erupção do vulcão nas ilhas Canárias, em 2021, e “a atmosfera vai sendo lavada à medida que chove” com a água a arrastar essas partículas para a Terra. “É material que vai naturalmente absorver alguma luz que a Lua reflecte para a Terra.”
Para observar a “Lua azul” nesta noite de quarta para quinta-feira, “qualquer local é bom”, refere Máximo Ferreira, embora saliente que “quanto mais afastados estivermos de zonas de iluminação artificial nocturna mais espectacular será o luar intenso a espalhar-se pelo horizonte e tudo o que estiver à nossa volta”. Em Portugal, a melhor altura para ver o satélite natural da Terra será entre as 2h e 3h da madrugada de quinta-feira, “quando a Lua estará praticamente a sul e quase em Lua Cheia”.
O convite está feito: “Passem uma parte da noite ao ar livre a falar uns com os outros sobre esta Lua.”
Notícia corrigida às 17h45 sobre a “Lua azul” que é na noite de quarta para quinta-feira