Que nuvem rara é aquela que apareceu em Lisboa ao crepúsculo?
Nuvem com uma forma invulgar foi avistada, nesta segunda-feira, em Lisboa e arredores. Podia ser avistada até a uma grande distância da capital.
Pelas redes sociais têm surgido várias fotografias de uma nuvem com uma forma invulgar – uns diriam que parecia um donut, outros que é uma argola ou ainda uma ferradura. Esta nuvem que muitos observaram esta segunda-feira na cidade de Lisboa e arredores, ao final da tarde e início da noite, apresenta de facto uma forma invulgar que captou olhares cá de baixo e foi fotografada por muitos, ainda que seja um tipo de nuvem relativamente frequente. Não fiquemos desiludidos, porque saber o porquê das coisas é sempre fascinante.
O meteorologista Diamantino Henriques, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explica que tipo de nuvem é esta. “É um altocumulus. São nuvens médias, que se encontram entre os três mil e os seis mil metros de altitude. São nuvens relativamente frequentes”, diz o investigador. “Esta nuvem de altocumulus com esta forma em particular é que parece pouco frequente”, acrescenta Diamantino Henriques, para quem este alto-cúmulo, pelas fotografias que viu, lhe parece um donut ou uma argola.
“Os altocumulus têm várias formas. Geralmente, tomam formas alongadas ou lenticulares. Estas formas em anel são menos frequentes”, esclarece o meteorologista. “As nuvens têm a particularidade de às vezes terem formas caprichosas.”
Vendo mais fotografias desta nuvem curiosa, Diamantino Henriques vai ao pormenor da sua classificação (em latim, porque prefere os termos em latim). Então, é uma nuvem do género altocumulus, da espécie lenticularis e da variedade undulatus. Explicando ainda nas palavras do meteorologista a classificação destas nuvens: “Lenticularis: em forma de lente ou amêndoa, às vezes muito alongadas e normalmente com contornos bem definidos. Têm geralmente origem orográfica. Undulatus: com ondulações.”
Portanto, ficámos a saber que as nuvens têm género, espécie e variedade.
O facto de esta nuvem altocumulus lenticularis undulatus ter surgido ao final do dia, já com o Sol a caminho de se esconder, ajudou a completar o cenário, pintando-a entre tons de rosa e alaranjados. “Denota-se o reflexo do pôr do Sol. Vê-se a cor rosa à volta da nuvem, o que lhe dá um efeito particular”, considera Diamantino Henriques.
O que originou então a forma invulgar de um tipo de nuvem relativamente vulgar? “Isso não tem uma razão própria. Onde as nuvens ocorrem há correntes e elas acabam por ter certas formas, dependendo do regime de ventos no momento. À medida que os ventos mudam de intensidade e direcção, as nuvens vão também mudando de forma.”
Pelas inúmeras fotografias partilhadas, entretanto, pelos leitores, Diamantino Henriques estima que esta nuvem em forma de anel, ou de argola, estaria entre 4000 e 5000 metros de altitude. Como são nuvens altas, a nuvem em forma de anel – e que depois foi mudando de forma à medida que foi sendo transportada e evoluindo até acabar por se dissipar – podia ser vista a grande distância, ainda que mais pequenina. Até a uns 70 quilómetros de Lisboa, calcula o meteorologista, e a forma com que era vista também dependia da perspectiva.
Uma dúzia na região de Lisboa
Algumas das imagens enviadas poderão ser de outras nuvens altocumulus lenticularis observadas igualmente na região de Lisboa. Isto porque, segundo as imagens de satélite, formaram-se algumas (embora poucas) nuvens deste tipo na região da capital.
“Ontem, o céu estava quase limpo. Existiam poucas nuvens – à volta de uma dúzia. Foram aumentando de número e de tamanho à medida que o dia ia avançando. Também eram espectaculares, também lenticularis muito bonitas”, considera o meteorologista. “Só havia essas nuvens, que normalmente indicam a presença de montanhas por perto e de ondas de montanha, que causam essas nuvens”, explica Diamantino Henriques. Por exemplo, a presença de um sistema como o de Montejunto-Estrela, propagando-se as nuvens depois para outras regiões.
“As ondas de montanha são causadas pelo ar, pelo vento, que passa sobre uma cadeia montanhosa e, em determinadas condições, vai formando ondas que se propagam na vertical. Essa propagação causa as nuvens, se houver humidade, claro.”
Sejam da nuvem a alto-cúmulo em forma de anel, sejam de outro representante deste tipo de nuvens que não deixou de deslumbrar no céu da capital e arredores distantes, as inúmeras fotografias dos leitores são uma prenda para todos apreciarmos.
Se tirou fotografias deste alto-cúmulo e quiser enviar-nos as suas imagens (para o email ciencia@publico.pt), gostaríamos de partilhá-las com os nossos leitores.