Poluição atmosférica é primeira ameaça mundial para saúde humana

Estudo mostra que poluição do ar representa um risco maior para a saúde global do que o consumo de tabaco ou álcool. Incêndios florestais, amplificados pela crise climática, só agravam o problema.

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Sarajevo, na Bósnia, é uma das cidades mais poluídas do mundo EPA/FEHIM DEMIR
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Os habitantes do Bangladesh poderiam ganhar 6,8 anos de esperança de vida se o limiar de poluição fosse reduzido para o nível recomendado pela OMS Reuters/MOHAMMAD PONIR HOOSSAIN

Um estudo publicado esta terça-feira indica que a poluição atmosférica representa um risco maior para a saúde global do que o tabagismo ou o consumo de álcool. De acordo com o relatório do Instituto de Política Energética da Universidade de Chicago (EPIC) sobre a qualidade do ar a nível mundial, a poluição por partículas finas, emitidas pelo sector industrial e dos transportes, assim como durante incêndios, representa "a maior ameaça externa à saúde pública" a nível mundial.

Os fundos para a luta contra a poluição atmosférica representam, contudo, apenas uma fracção ínfima dos fundos consagrados às doenças infecciosas, sublinhou o relatório. A poluição por partículas finas aumenta o risco de doenças pulmonares e cardíacas, de acidentes vasculares cerebrais e de cancro.

O EPIC estimou que, se o limiar da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a exposição a partículas finas fosse respeitado em todas as circunstâncias, a esperança de vida global aumentaria 2,3 anos, com base nos dados recolhidos em 2021. Em comparação, o consumo de tabaco reduz a esperança de vida global numa média de 2,2 anos e a subnutrição infantil e materna em 1,6 anos.

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Ásia e África em maior risco

No Sul da Ásia, a região do mundo mais afectada pela poluição atmosférica, os efeitos na saúde pública são muito pronunciados. De acordo com os modelos criados pelo EPIC, os habitantes do Bangladesh poderiam ganhar 6,8 anos de esperança de vida se o limiar de poluição fosse reduzido para o nível recomendado pela OMS.

A capital da Índia, Nova Deli, é a "megalópole mais poluída do mundo", enquanto a China "fez progressos notáveis na luta contra a poluição atmosférica" iniciada em 2014, disse a directora dos programas de qualidade do ar do EPIC, Christa Hasenkopf.

A poluição média do ar no país diminuiu 42,3% entre 2013 e 2021, mas continua a ser seis vezes superior ao limiar recomendado pela OMS. Se este progresso se mantiver ao longo do tempo, a população chinesa deverá ganhar uma média de 2,2 anos de esperança de vida, referiu o estudo.

De um modo geral, as regiões do mundo mais expostas à poluição atmosférica são as que recebem menos recursos para combater este risco, observou o relatório.

"Existe uma profunda discrepância entre os locais onde o ar é mais poluído e aqueles onde são mobilizados mais recursos colectivos e globais para resolver este problema", explicou Hasenkopf.

Embora existam mecanismos internacionais de luta contra o VIH, a malária e a tuberculose, não há equivalente para a poluição atmosférica. "E, no entanto, a poluição atmosférica reduz a esperança média de vida de uma pessoa na República Democrática do Congo e nos Camarões mais do que o VIH, a malária e outras doenças", salientou o relatório.

Nos Estados Unidos, o programa federal "Clean Air Act" contribuiu para reduzir a poluição atmosférica em 64,9% desde 1970, aumentando a esperança média de vida dos norte-americanos em 1,4 anos.

Na Europa, a melhoria da qualidade do ar ao longo das últimas décadas seguiu a mesma tendência que nos EUA, mas continuam a existir grandes disparidades entre o leste e o oeste do continente.

Todos estes esforços estão ameaçados, entre outros factores, pelo aumento do número de incêndios florestais em todo o mundo, causado pelo aumento das temperaturas e por secas mais frequentes, associadas às alterações climáticas, provocando picos de poluição atmosférica.