Multimilionário anuncia candidatura à presidência de Taiwan para a ilha não ser “a próxima Ucrânia”
Terry Gou avança como independente depois de os conservadores do KMT terem recusado apoiá-lo. Investimentos do empresário na China geram desconfiança.
O multimilionário taiwanês Terry Gou anunciou esta segunda-feira a sua candidatura à eleição presidencial de Taiwan, prometendo “50 anos de paz” para a região e assegurando que “não irá permitir que a ilha se torne a próxima Ucrânia”.
Agendada para Janeiro do próximo ano, a votação realiza-se num dos períodos de maior tensão das últimas décadas entre a República Popular da China e o território que Pequim encara como uma província chinesa, com a realização de exercícios militares sem precedentes no estreito de Taiwan e promessas da liderança do Partido Comunista Chinês de que a “reunificação” está para breve.
Fundador e accionista da Foxconn, um importante fornecedor de componentes electrónicos da multinacional norte-americana Apple, que também tem investimentos avultados China, Gou, de 72 anos, rejeita, no entanto, as acusações de conflitos de interesses ou de vassalagem à China, vindas dos seus opositores, dizendo estar disposto a “sacrificar” os seus activos em solo chinês.
“Nunca estive sob o controlo da República Popular da China. Nunca segui as suas ordens”, garantiu, citado pela Reuters.
Tal como na corrida para a eleição presidencial de 2019, Gou concorreu, este ano, à nomeação para ser o candidato do Kuomintang (KMT), mas o histórico partido nacionalista e conservador optou pelo presidente da câmara de Nova Taipé, Hou Yu-ih, para desafiar o Partido Democrata Progressista (DPP).
No poder desde 2016, e perante a impossibilidade de voltar a apresentar a Presidente Tsai Ing-wen, que atinge o limite de dois mandatos, o partido de centro-esquerda nomeou William Lai, actual vice-presidente e favorito à vitória, segundo as sondagens, para a votação de Janeiro.
Apesar de ter sido recusado pelo KMT, Terry Gou vai avançar como independente e não desiste de apelar à união de todas as candidaturas para derrotar o DPP, a quem acusa de estar a empurrar Taiwan para a guerra com a China.
“A nível internacional, o domínio do DPP nos últimos sete anos, ou mais, levou Taiwan até ao perigo da guerra. Internamente, as suas políticas estão cheias de erros. Dêem-me quatro anos e prometo que trarei 50 anos de paz para o estreito de Taiwan e que construirei o mais profundo alicerce para o respeito mútuo dos dois lados do estreito”, afiançou.
Caso obtenha as 300 mil assinaturas necessárias para formalizar a sua candidatura, Gou juntar-se-á a Hou (KMT), a Lai (DPP) e a Ko Wen-je, do Partido Popular (centro) na corrida ao cargo de Tsai.
Segundo os analistas citados pela Reuters, uma corrida a quatro pode contribuir para a dispersão dos votos entre os candidatos da oposição, reforçando, dessa forma, o favoritismo da candidatura do DPP.