Ministério Público de Espanha abre investigação a Luis Rubiales

Jenni Hermoso foi “informada dos seus direitos como vítima de um alegado delito” e terá 15 dias para contactar o MP. Diligência “pré-processual” foi aberta.

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Manifestação de apoio a Jenni Hermoso, em Madrid Reuters/ISABEL INFANTES
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O Ministério Público espanhol decidiu nesta segunda-feira abrir uma investigação a Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) entretanto suspenso pela FIFA. Para esta decisão terá sido providencial o comunicado assinado pela jogadora Jenni Hermoso, em que denunciava ter-se sentido “vítima de uma agressão”, aquando do polémico beijo na final do Mundial de futebol, que tem provocado uma espécie de terramoto desportivo.

Essas declarações da internacional espanhola, que contrariam em toda a linha a tese de consentimento avançada por Rubiales, são consideradas pelas autoridades espanholas como passíveis de traduzirem um delito de agressão sexual, previsto no artigo 178 do Código Penal. Mas a Fiscalía convida Jenni Hermoso a apresentar uma queixa formal, lembrando que tem um prazo de 15 dias para poder juntar-se ao processo de denúncia.

“O acto sexual sofrido pela jogadora e levado a cabo por Rubiales não foi consentido”, pode ler-se no despacho, assinado por Marta Durántez, que assinala ainda a “importante repercussão pública a nível interno e internacional”, justificando assim a abertura de uma diligência “pré-processual”.

Se, da parte da jogadora ou dos seus representantes, não chegou até à data, ao Ministério Público, uma queixa formal, a verdade é que deu entrada nos serviços uma denúncia apresentada pelo presidente da Escola Nacional de Treinadores de Futebol (Cenafe), Miguel Ángel Galán, contra Luis Rubiales, por entender que o incidente, ao ocorrer fora do território espanhol, era da sua competência.

Quem ainda não se pronunciou sobre o tema foi o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), instância para a qual o Conselho Superior do Desporto (CSD) remeteu o caso no pressuposto de que o comportamento de Luis Rubiales possa configurar uma infracção grave à Lei do Desporto. Nesta segunda-feira, o presidente do CSD, Victor Franco, fez o ponto da situação, lembrando que continua a aguardar por uma posição do TAD para dar seguimento ao processo e que espera que a RFEF “não volte a dar o espectáculo da passada sexta-feira”. “Esperamos que estejam à altura do que exige a sociedade espanhola e o povo espanhol”, acrescentou.

A RFEF, agora presidida de forma interina por Pedro Rocha, reuniu-se nesta tarde para decidir qual o rumo a seguir perante a decisão da FIFA de suspender Rubiales durante 90 dias, mas até agora não há novidades sobre o encontro.

O que é claro é que antes mesmo da nomeação de Pedro Rocha, o então secretário-geral da RFEF, Andreu Camps, tinha enviado à UEFA uma carta que denuncia a posição “intervencionista” do Governo espanhol. Ao que tudo indica, esta manobra — em linha com o que já tinha feito, há anos, o ex-presidente do organismo Ángel Maria Villar — visa accionar os alarmes e deixar no ar a ameaça de uma posição extrema por parte do organismo que tutela o futebol europeu, que passaria (no mais drástico dos cenários) pela exclusão dos clubes espanhóis das competições europeias.

Ora, a UEFA não se pronunciou e fez saber que não irá pronunciar-se sobre o caso, até porque entretanto a FIFA já avançou com o afastamento de Rubiales, mas continua no ar uma outra questão: que impacto terá esta controvérsia na candidatura de Portugal, Espanha, Ucrânia e Marrocos à organização do Mundial 2030? Victor Franco não fugiu à questão.

“Não gosto de enganar as pessoas e, portanto, tenho de dizer que estou preocupado. Há umas semanas estávamos mais bem posicionados do que hoje, mas somos um Governo pró-futebol e estamos em condições de mostrar à FIFA e à UEFA que o desporto espanhol não é o que temos visto nestes dias. Hoje mesmo falei com o vice-presidente da FIFA e vamos continuar em contacto para resolver uma situação que para eles também não é cómoda. Uma acção particular não pode impactar um desígnio colectivo”.

Notícia actualizada às 21h12

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