Borboleta-zebra: um insecto às riscas fácil de ver (e reconhecer)
É uma borboleta de grandes dimensões e pode ser vista a voar por Portugal, sobretudo em zonas de pomar ou cultivo. E não se esqueça: caçar borboletas, só com os olhos.
Tem riscas pretas e brancas e não é uma zebra. Tem escamas, mas não é um peixe. Tem “caudas” depois das asas, mas não é uma andorinha. Parece uma adivinha confusa, mas falamos da borboleta-zebra (Iphiclides feisthamelii), uma das espécies mais fáceis de observar em Portugal no Verão. “É uma bela borboleta ibérica”, resume Sérgio Teixeira, professor e coordenador do censo regional de borboletas da Madeira.
Esta borboleta pode ser observada por todo o território continental de Portugal, mas não nos arquipélagos da Madeira e dos Açores. “Uma das causas mais prováveis é a inexistência de plantas alimentares na flora destas ilhas que sejam próximas às usadas por esta borboleta no continente”, explica Sérgio Teixeira. Em Portugal, existem cerca de 140 espécies de borboletas diurnas (as nocturnas, as traças, são bem mais). A borboleta-zebra, também conhecida como flâmula ou chupa-leite, é uma das mais comuns.
O site da FCT Viva define-a como “uma das maiores borboletas da Europa” – pode ter até oito centímetros – e uma importante polinizadora. Além do corpo estreito e peludo, também a “face” é coberta por pêlos; “os olhos são grandes e salientes e as antenas são compridas em forma de taco de golfe”. Apesar de ser chamada "zebra" pela comparação ao mamífero às riscas que vive em África, esta borboleta também tem tonalidades amareladas, com uma banda negra e azul, assim como um “olho” azulado e negro pintado no fundo das suas asas, cercado por uma meia-lua alaranjada.
Se a procurar, tente não a confundir com a borboleta-cauda-de-andorinha (Papilio machaon), que tem uma aparência e cores similares – assim como as “caudas” no fundo de cada asa.
E onde se pode encontrar?
Trata-se de uma borboleta de grande tamanho facilmente reconhecível pelo padrão de riscas nas suas asas, explica Eva Monteiro, a coordenadora do censo de borboletas nacional, no qual qualquer pessoa residente em Portugal pode participar. Como tem mais de uma geração por ano, estas borboletas listradas podem ser vistas noutras alturas do ano e não somente no Verão, ainda que nesta época estival sejam mais abundantes e mais fáceis de observar. Os pomares são bons locais para começar a “caça” visual.
As adultas voam entre Fevereiro e Dezembro, mas pode vê-las mais facilmente na Primavera e no Verão, sobretudo em locais quentes e com pouca vegetação. Os seus principais habitats, lê-se no site da FCT Viva, são florestas, áreas abertas, zonas de cultivo, pomares, zonas ribeirinhas, parques e jardins. “Os machos gostam de fazer voos de patrulha no topo de colinas à procura de fêmeas que passem por perto”, conta Sérgio Teixeira, em jeito de curiosidade.
Segundo o Museu Virtual da Biodiversidade da Universidade de Évora, esta borboleta deposita os ovos nas folhas de árvores hospedeiras, das quais a lagarta se alimentará. As borboletas põem ovos “em diversas plantas da família das rosáceas” e preferem árvores como a amendoeira, o pessegueiro, o abrunheiro e o espinheiro-bravo, explica Sérgio Teixeira. Também podem escolher macieiras e pereiras – é por isso que é mais fácil vê-las em zonas de pomar. Quando ameaçadas, estas lagartas podem libertar um forte odor para repelir predadores.
Se não quiser ficar na lista negra desta borboleta (ou de qualquer outra), não lhes toque nem as capture, pois tal “causa danos nas escamas das asas e nas asas em si”, explica Sérgio Teixeira – as asas das borboletas estão cobertas de pequenas escamas coloridas e sobrepostas. “Estas espécies têm uma vida curta como adultos e, por isso, têm pouco tempo para acasalarem e reproduzirem-se, por isso qualquer interacção deletéria deve ser evitada ao máximo”, refere ainda. As capturas só deverão ser feitas por pessoas treinadas com fins de investigação e conservação.
Se tiver curiosidade em conhecer uma borboleta que voa só mesmo nos meses de Verão, apresentamos-lhe a borboleta-ziguezague (Hipparchia fidia), que pode ser avistada em áreas de bosques e florestas mediterrânicas.
As borboletas são indicadores da saúde do ambiente que as rodeia e muitas têm estado em declínio: sofrem com as alterações climáticas, mas também com a perda de habitats, aumento da agricultura intensiva e falta de alimento. Ainda assim, o cenário parece positivo para este insecto: a borboleta-zebra “não está ameaçada” e tem “um risco de extinção pouco preocupante pois tem uma área de distribuição vasta, abundante e com populações estáveis”, conta-nos o especialista Sérgio Teixeira.
Ainda assim, deixa um alerta. “Tal como todas as espécies, o crescimento urbano, os incêndios e outras ameaças levam à fragmentação do habitat e à perda de conectividade entre áreas” e podem fazer com que haja uma redução da população destes insectos e se desloquem para áreas mais favoráveis.
Animais de Verão é uma minissérie do Azul sobre animais que podemos ver em Portugal na época estival. Sai um artigo por semana