Cabo Verde e o espírito da morabeza

Os leitores Helder, Luísa, Sérgio e Paula partilham a sua experiência na ilha de Santiago. Uma certeza: “vamos ter de voltar!”

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A palavra morabeza é um regionalismo de Cabo Verde, com origem no crioulo, e significa amabilidade, afabilidade.

É precisamente essa afabilidade que sinto quando vou a Cabo Verde, terra onde verdadeiramente me sinto em casa. Cabo Verde é já uma paixão.

Santiago continua a ser, para mim, a ilha de eleição deste maravilhoso arquipélago.

Visitar os mercados é uma experiência para os sentidos, o cheiro dos legumes, das frutas, do peixe fresco, as cores, a alegria contagiante dos vendedores, sempre com um sorriso, quer compremos ou não qualquer produto. O importante é perder-se pelo interior da ilha, contactar com os seus habitantes e perceber a sua resiliência. As crianças e mulheres percorrem grandes distâncias carregando água, esse precioso líquido. Percebemos, então, que o simples facto de abrir uma torneira e ver a água correr não é um gesto habitual por lá.

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Sempre que vou a África, levo umas bolas que vou distribuindo pelos lugares por onde passo e que são a alegria dos jovens. Desta vez, quando passávamos pelo povoado Rui Vaz, bem no interior da ilha, vimos um grupo de jovens de uma equipa feminina de futebol, num modesto mas funcional campo de futebol, a jogar com uma bola com pouco ar e velha. Entregámos uma bola a uma jogadora e esta perguntou candidamente: “É nossa para sempre?” Ficaram radiantes.

O Tarrafal é um lugar a visitar, sempre! O campo de concentração é recordação de má memória de tempos ainda não muito distantes. No dia em que por lá passámos, era Sexta-Feira Santa e, por isso, estava fechado ao público. Ficámos no exterior e imediatamente, como vem sendo hábito, fomos abordados por muitas crianças e aqui deixámos mais uma bola.

A praia do Tarrafal, encostada à vila do Tarrafal, é, sem dúvida, para mim, a melhor praia de Cabo Verde. O mar calmo, cristalino e de águas temperadas, convida a mergulhos, muito embora estivéssemos em Abril.

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É um local com pouca gente, o que permite a quem a visita gozar de liberdade e paz. Ideal para relaxar e para passear junto ao mar, na sua areia clara, apanhar sol e desfrutar da água morna e límpida. As senhoras com cocos à cabeça calcorreiam a areia quente, na esperança de vender a água de coco.

Junto à praia existem restaurantes que servem peixe fresquinho e a preço justo.

Aproveitámos para comer as comidas típicas de Cabo Verde, não podendo faltar a cachupa, a moreia frita, algum marisco, o famoso queijo de cabra com doce de papaia e outras iguarias. Tivemos o privilégio de ter como “guias” dois amigos, o Inácio e o Pedro, naturais desta ilha e que nos levaram a sítios que, habitualmente, não são muito frequentados por turistas.

No regresso do Tarrafal, optámos pela estrada que serpenteia a costa. Piso irregular em paralelos, mas um trajecto muito bonito e variado, passando por pequenas praias e localidades, fazendo uma pausa num lado ou noutro, bebendo uma cerveja Strela.

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Antes de chegarmos à cidade da Praia, fizemos um pequeno desvio e fomos conhecer a Aldeia dos Rebelados (Rabelados em crioulo), situada em Espinho Branco. É uma pequena comunidade que, durante anos, viveu à margem das regras impostas pela sociedade, rebelaram-se e, por isso, foram perseguidos, refugiando-se no interior da ilha.

Continuam a viver em comunidade e do que produzem, nomeadamente do artesanato, vivendo, actualmente, na aldeia de Espinho Branco, mais próximo do mar.

A Josefa foi a nossa guia e explicou-nos as suas tradições e modo de vida. A Josefa é pintora e o material que consegue para pintar é "oferta" de um francês, que todos os anos passa nesta comunidade cerca de três meses, deixa as tintas e leva a mala cheia de pinturas que vende no seu atelier, em Paris.

À noite, jantámos, algumas vezes, num típico restaurante da cidade da Praia, ao som das mornas e coladeras, num ambiente agradável e intimista.

Não tivemos tempo de ir à ilha do Fogo, como tínhamos previsto. Por isso vamos ter de voltar!

Texto e fotos de Helder, Luísa, Sérgio e Paula

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