O lago suíço que afinal tem tanta poluição de plástico como os oceanos

O lago Léman é alimentado por águas glaciares dos Alpes, mas é menos cristalino do que se pensava. É às suas margens, na parte francesa, que é recolhida a água da marca Evian.

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É numa cidade à beira deste lago Léman que vem a água da marca Evian Reuters/DENIS BALIBOUSE
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O lago Léman (ou lago Genebra), situado no sopé dos Alpes, foi durante muito tempo considerado uma massa de água quase imaculada, mas uma nova investigação descobriu que os níveis de poluição por plásticos são tão elevados como os dos oceanos.

A Oceaneye, uma organização sem fins lucrativos sediada em Genebra que há mais de uma década vasculha os mares para recolher fragmentos de plástico, voltou a sua atenção para dentro de casa, a Suíça, um país sem litoral.

“Comparámos os níveis com os dados dos oceanos e chegámos à conclusão de que a poluição por microplásticos na superfície do lago é da mesma ordem de grandeza que a dos oceanos”, disse Pascal Hagmann, fundador e director da Oceaneye.

O engenheiro falava à Reuters a partir da popa de um veleiro que arrastava um dispositivo de recolha de amostras ao longo do maior lago da Suíça.

“Isto é interessante porque muitas vezes temos a imagem do lago Léman como um grande lago alpino com águas cristalinas, mas não é bem assim”, afirmou.

O lago em forma de meia-lua é o maior da Europa Ocidental, com uma área de 580 quilómetros quadrados, abrangendo a França e a Suíça, e é alimentado em parte pelos glaciares alpinos. Desagua no rio Ródano, que por sua vez flui até chegar ao mar Mediterrâneo.

Os cantões fronteiriços da Suíça tratam a água e depois canalizam-na para as casas como água potável. No lado francês, uma das cidades à beira do lago, Évian-les-Bains, tem uma nascente natural de onde vem a água da conhecida marca Evian.

Os microplásticos resultam da decomposição ao longo do tempo de resíduos plásticos provenientes do consumo ou da indústria. As suas concentrações estão a acumular-se nos oceanos do mundo, mas não só: já foram encontrados microplásticos em amostras de sangue na placenta e no sangue humano. Os cientistas continuam a tentar compreender os riscos deste fenómeno para a saúde das pessoas e dos animais.

Pascal Hagmann, da Oceaneye afirma estar preocupado com o facto de o aumento do consumo de plástico ao longo do tempo levar a que mais lixo acabe nos sistemas hídricos. “Estamos a ver a curva de crescimento a aumentar muito rapidamente. As projecções são pessimistas se não fizermos nada”, afirmou, embora reconheça que, pelo menos, a sensibilização para o problema está a aumentar.

“Quando começámos a trabalhar nisto há 12 anos e falávamos sobre fragmentos de plástico na água, as pessoas achavam que estávamos malucos. Agora é um problema reconhecido.”