As palhinhas de papel são mais amigas do ambiente? Estudo diz que não

O papel ou o bambu podem estar contaminados com substâncias perfluoroalquiladas (PFAS). Substituir as palhinhas de plástico pelas de metal é a opção mais sustentável.

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As palhinhas de papel foram aquelas que, no âmbito deste estudo, apresentavam maior probabilidade de conter PFAS rodgersm222/Pixabay
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As palhinhas feitas a partir de materiais vegetais, como o papel ou o bambu, são muitas vezes anunciadas como uma opção mais ecológica do que o plástico. Um estudo elaborado com cerca de 40 marcas de palhinhas mostra, contudo, que estas versões biológicas podem estar contaminadas com substâncias perfluoroalquiladas (PFAS) e não ser necessariamente biodegradáveis. As palhinhas de metal são referidas como a aposta mais sustentável, afirmam os autores.

“Com base nos nossos resultados, podemos concluir que as palhinhas de aço inoxidável são a alternativa mais sustentável às palhinhas de plástico. Elas podem ser reutilizadas ou recicladas e parecem estar livres de PFAS (pelo menos para os 29 tipos de PFAS que investigámos). Outra alternativa seria simplesmente não usar palhinha”, diz ao PÚBLICO Thimo Groffen, cientista ambiental da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, e co-autor do estudo publicado esta sexta-feira na revista científica Food Additives and Contaminants.

Os cientistas reuniram para o estudo 39 marcas diferentes de palhinhas feitas de cinco materiais – papel, bambu, vidro, aço inoxidável e plástico –, adquiridas em diferentes lojas, supermercados e restaurantes na Bélgica. Estas amostras foram testadas para diferentes tipos de PFAS, uma família de milhares de compostos químicos persistentes, que não se degradam no ambiente – e que, por isso, são conhecidas informalmente como “substâncias eternas”.

As PFAS são utilizadas em variados produtos, equipamentos e processos industriais. Possuem propriedades físico-químicas que despertam o interesse de vários sectores industriais, como a durabilidade e a capacidade de repelir o óleo e a água, além de uma alta estabilidade térmica e química. Como conferem impermeabilidade aos materiais, costumam ser utilizadas em embalagens alimentares ou produtos que entram em contacto com comidas e bebidas.

A União Europeia e o Reino Unido proibiram a venda de produtos plásticos de utilização única, incluindo as palhinhas para bebidas. Como resultado, multiplicaram-se no mercado opções feitas com outros materiais. Um estudo realizado nos Estados Unidos (EUA), e publicado em 2021, já havia identificado PFAS em palhinhas vegetais comercializadas naquele país. Thimo Groffen e colegas resolveram testar se o mesmo se verificava na Europa ou, mais precisamente, na Bélgica.

PFAS até nas palhinhas de vidro

“Houve também alguns estudos que revelaram contaminação por PFAS em materiais em contacto com alimentos, para tornar esses materiais resistentes à água e às manchas. O que nos surpreendeu foi que as PFAS não estavam presentes apenas em palhinhas nas quais seria de esperar a adição de algum produto químico para torná-las repelentes à água, também foram encontradas em palhinhas de materiais que deveriam repelir a água por si só, como as de vidro”, explicou Thimo Groffen, numa resposta enviada ao PÚBLICO por e-mail.

Quase 70% das marcas testadas (27 das 39) apresentavam PFAS. Ao todo, foram identificados 18 tipos diferentes destes compostos químicos sintéticos. O ácido perfluorooctanóico (PFOA) foi aquele que foi encontrado com maior frequência, apesar de ter sido proibido globalmente há três anos. Diferentes estudos publicados em revistas científicas sugerem uma relação entre as PFAS e determinados riscos para a saúde humana.

As palhinhas de papel foram aquelas que, no âmbito deste estudo, apresentavam maior probabilidade de conter PFAS. Foram detectadas estas substâncias em 18 das 20 marcas testadas. Estes compostos sintéticos também foram identificados em quatro das cinco marcas de palhinhas de bambu, três das quatro marcas de palhinhas de plástico e duas das cinco marcas de palhinhas de vidro. Os exemplares em metal não estavam contaminados com PFAS.

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As concentrações de PFAS encontradas nas palhinhas eram baixas. Contudo, como estas substâncias persistem tanto no ambiente como no próprio corpo humano, a exposição recorrente a baixas concentrações também contribui para um efeito cumulativo destes compostos químicos.

“Uma das limitações deste artigo, embora seja algo fora do âmbito do estudo, é que não sabemos claramente se as PFAS foram adicionadas intencionalmente ou não (especialmente no caso de palhinhas de origem vegetal). Seria muito interessante identificar as fontes de PFAS nestes diferentes materiais”, refere o cientista.

Entre as possíveis fontes de contaminação podem estar o solo onde os materiais vegetais foram cultivados ou a água utilizada no processo de fabrico. Outra hipótese aventada é que, nalguns casos, os fabricantes tenham recorrido às PFAS para conferir impermeabilidade ao produto.

Os cientistas alertam ainda para o facto de as palhinhas vegetais não serem necessariamente recicláveis ou biodegradáveis. “Materiais de origem vegetal que entram em contacto com os alimentos, sobretudo aqueles feitos de papel, são supostamente produtos recicláveis, mas muito facilmente acabam num aterro sanitário ou numa incineradora, libertando ainda mais PFAS no ambiente, lê-se na conclusão do artigo da revista científica Food Additives and Contaminants.