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Vespa-asiática: a propagação de uma praga anunciada
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A vespa-asiática chegou a Portugal em 2011 e, desde aí, tem-se espalhado por (quase) todo o país: a presença da vespa-asiática foi confirmada no concelho de Grândola e há também registo confirmado da destruição de um ninho em Sines. Estes insectos devoradores de abelhas foram conquistando terreno desde o norte e já chegaram ao Alentejo, ainda que não haja registos confirmados no Algarve nem no distrito de Beja, segundo os dados fornecidos ao Azul esta semana pelo Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
Os cientistas já nos tinham avisado que estes insectos se continuariam a propagar pelo país se não fossem tomadas medidas de prevenção. Tem sido uma progressão "lenta" para sul, disse-nos o investigador José Aranha, que estuda há anos a progressão destes insectos. Ainda assim, são detectados milhares de ninhos por ano: só em 2022 foram mais de 17 mil ninhos encontrados e destruídos em Portugal – desde 2011, foram encontrados mais de 91 mil ninhos.
Pensa-se que esta vespa-asiática (de nome científico Vespa velutina nigrithorax) tenha sido trazida acidentalmente para a Europa em 2004, em produtos que chegaram a França vindos da China – e, há poucos dias, foi detectada pela primeira vez nos Estados Unidos. Desde 2016 que tem sido considerada uma espécie invasora. Em Portugal, foi detectada pela primeira vez na zona de Viana do Castelo e, para já, tem sido só encontrada em Portugal continental, sem registos nos Açores e na Madeira. "Felizmente", desabafa José Aranha.
Além de nunca ter deixado de ser um tema que mereça atenção, as circunstâncias que nos fizeram voltar a olhar para a expansão deste insecto invasor não foram felizes: no último mês, morreram duas pessoas após picadas de vespas-asiáticas. Segundo nos dizem os especialistas, a picada destas vespas é particularmente perigosa para quem tem alergia grave a estes insectos. Nesses casos de alergia grave, se for picado, deve contactar o 112 de imediato. Sendo um insecto de maiores dimensões, a vespa-asiática injecta também uma maior quantidade de veneno. Um grande número de picadas pode gerar uma reacção mais grave.
O problema é que pode haver quem seja alérgico às vespas e não o saiba. Segundo o Manual de Boas Práticas no Combate à Vespa velutina, "os doentes com historial de reacções alérgicas devem ser portadores de um estojo de emergência com adrenalina para auto-administração", podendo também ir a um centro de imunoalergologia, "para avaliação e eventual indicação para vacina antialergénica com extracto de veneno em ambiente hospitalar".
É nos meses de Verão que há uma "explosão" do número destas vespas – podendo chegar às milhares por ninho – e, logo, há também um aumento do risco para os humanos. O professor José Aranha considera que estas vespas-asiáticas não são necessariamente mais agressivas; só o são quando o seu ninho é ameaçado ou destruído – mesmo que acidentalmente. É por isso que a destruição dos ninhos deve ser sempre feita por pessoas especializadas e com equipamento próprio.
A propagação desta espécie é descrita num estudo de 2022 como "uma das mais impressionantes invasões de insectos na Europa". Além dos problemas nos humanos, esta vespa acarreta também perigos para a biodiversidade e para os ecossistemas. Leva também a perdas económicas, sobretudo em actividades que dependam da apicultura ou da polinização das abelhas – que já estavam ameaçadas por outros factores –, tendo também riscos ecológicos. As abelhas são as presas preferidas destas vespas, que não são esquisitas: também comem outros insectos.
Essa preocupação também ficou clara com a chegada da vespa-asiática aos Estados Unidos: "A vespa-asiática representa uma ameaça para as abelhas melíferas e para outras espécies polinizadoras no nosso estado. Estes polinizadores desempenham um importante papel na agricultura da Geórgia, o principal motor económico do estado, e é imperativo que estas espécies invasoras sejam detectadas e erradicadas", referia um comunicado do departamento de Agricultura da Geórgia, estado a que pertence a cidade de Savannah, onde a vespa foi encontrada.
A proliferação destes insectos é uma boa hipótese de reflexão sobre a forma como lidamos com espécies invasoras. O que mais poderia ter sido feito? Por agora, já não parece ser possível deixar de ter vespas-asiáticas em Portugal. "A erradicação não é possível", garante o ICNF. O que se pode fazer, considera José Aranha, é "controlar, minimizar e reduzir para números controláveis". De resto, a opinião é a mesma: "Acabar com as vespas-asiáticas em Portugal vai ser impossível." Não havendo saída, é preciso chegar a uma espécie de equilíbrio em que as medidas em vigor permitam conviver de forma segura com a vespa-asiática.
Apostar na informação é chave: saber o que fazer se for picado, como comunicar o avistamento de ninhos e de vespas e saber que é preciso chamar profissionais para eliminar devidamente os ninhos (não só por uma questão de segurança, mas também para evitar que as vespas se proliferem para novas zonas após destruição do ninho). A prevenção é igualmente importante. É preciso monitorizar e acompanhar a expansão desta espécie invasora – assim como a detecção imediata em novas zonas, para agir e evitar que se proliferem e voem por todo o país.