Águas filtradas de Fukushima já começaram a ser libertadas para o oceano

Japão e a AIEA garantem que níveis de radioactividade são muito inferiores a níveis de segurança, mas China critica acção “egoísta e irresponsável”. Descargas de água contaminada devem durar décadas.

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A central nuclear de Fukushima Daiichi no dia em que a Tepco iniciou a descarga de água radioactiva tratada no Oceano Pacífico EPA/JIJI PRESS
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Um barco recolhe água do mar para monitorizar os materiais radioactivos perto da central nuclear de Fukushima Daiichi, depois de a central nuclear ter começado a libertar água radioactiva tratada no Oceano Pacífico Reuters/KYODO
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Um pescador trabalha no porto de pesca de Matsukawaura em Soma, na prefeitura de Fukushima, perto da central nuclear Reuters/KYODO
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Esta quinta-feira, manifestantes juntaram-se na cidade de Okuma, junto à central nuclear de Fukushima, em protesto contra a libertação de água filtrada para o Pacífico Reuters/KYODO
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Um grupo de activistas em Busan, na Coreia do Sul, contestam a libertação de água tratada da central nuclear de Fukushima para o Pacífico Reuters/MINWOO PARK
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A libertação da água radioactiva tratada de mais de mil tanques demorará cerca de 30 anos EPA/JIJI PRESS

O Japão começou a libertar no oceano Pacífico, esta quinta-feira, água radioactiva tratada da central nuclear de Fukushima. A empresa que gere a central, a Tokyo Electric Power (Tepco), anunciou que a libertação começou às 13h03 horas locais (5h03 em Lisboa) e que não identificou quaisquer anomalias.

O Governo japonês aprovou o plano há dois anos, tendo recebido luz verde do organismo de controlo nuclear da ONU em Julho. A descarga é um passo fundamental no desmantelamento da Central de Fukushima Daiichi, depois de ter sido destruída por um tsunami em 2011.

Trata-se de uma medida polarizadora, que levou a China a anunciar uma proibição geral imediata de todos os produtos aquáticos provenientes do Japão. A China está “muito preocupada com o risco de contaminação radioactiva provocada pelos produtos alimentares e agrícolas do Japão”, declarou a autoridade alfandegária chinesa em comunicado.

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Uma embarcação perto da central de Fukushima recolhe água para monitorização da qualidade depois de ter começado a libertação das águas radioactivas Kyodo/REUTERS

O Japão garante que a libertação de água é segura, referindo que a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) também concluiu que o impacto que teria nas pessoas e no ambiente era “negligenciável”.

Protestos contra libertação

Algumas dezenas de manifestantes reuniram-se em frente à sede da Tepco, em Tóquio, com cartazes que diziam: “Não atirem água contaminada para o mar!”

O desastre nuclear de Fukushima ainda não terminou. Desta vez, apenas cerca de 1% da água será libertada”, disse à Reuters Jun Iizuka, de 71 anos, que participou no protesto. “A partir de agora, vamos continuar a lutar durante muito tempo para impedir a descarga a longo prazo de água contaminada.”

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Esta quinta-feira, manifestantes juntaram-se na cidade de Okuma, junto à central nuclear de Fukushima, em protesto contra a libertação de água filtrada para o Pacífico Kyodo / Reuters

O Japão irá monitorizar a zona de libertação das águas e publicar os resultados semanalmente a partir de domingo, informou o ministro japonês do Ambiente. Estima-se que a libertação da água dure cerca de 30 anos.

A polícia sul-coreana prendeu pelo menos 16 manifestantes que entraram na Embaixada do Japão em Seul, embora o Governo da Coreia do Sul tenha dito que a sua própria avaliação não encontrou problemas com os aspectos científicos e técnicos da libertação.

Em Hong Kong, Jacay Shum, um activista de 73 anos, segurava uma imagem que retratava o chefe da AIEA, Rafael Grossi, como o diabo.

“As acções do Japão, ao descarregar água contaminada, são muito irresponsáveis, ilegais e imorais”, disse Shum, que fazia parte de um grupo de cerca de 100 manifestantes. “Ninguém pode provar que os resíduos e materiais nucleares são seguros. São completamente inseguros.”

Processo pode durar décadas

A Central de Fukushima Daiichi foi destruída em Março de 2011, depois de um forte sismo de magnitude 9,0 ter gerado fortes ondas de tsunami que provocaram a fusão de três reactores nucleares.

A primeira descarga das águas filtradas, num total de 7800 metros cúbicos — o equivalente a cerca de três piscinas olímpicas de água — demorará cerca de 17 dias e e será diluída 740 vezes em água marinha.

De acordo com os resultados dos testes efectuados pela Tepco, divulgados na quinta-feira e citados pela Reuters, a água continha cerca de 63 becqueréis de trítio por litro, abaixo do limite de 10 mil becqueréis por litro estabelecido pela Organização Mundial de Saúde para a água potável. O becquerel é uma unidade de radioactividade. Na legislação europeia, este isótopo tem de estar abaixo dos 100 becqueréis na água para consumo humano.

A AIEA também divulgou um comunicado em que afirma que a sua análise independente efectuada no local confirmou que a concentração de trítio era muito inferior ao limite.

“Não haverá quaisquer efeitos para a saúde. Não há qualquer razão científica para proibir as importações de alimentos japoneses”, afirmou à Reuters Geraldine Thomas, antiga professora de patologia molecular no Imperial College de Londres.

Ao PÚBLICO, o físico e vice-presidente do Instituto Superior Técnico, José Marques, contextualiza aqueles números com a realidade da indústria nuclear: “Os reactores nucleares nos Estados Unidos libertam trítio a descargas anuais em regime normal que são 68 vezes maiores do que o que se está a propor em Fukushima.”