Avião onde seguia Prigozhin terá sido abatido e chefe do Grupo Wagner está entre os dez mortos
Autoridade da Aviação Civil Russa diz que o nome do chefe do Grupo Wagner consta do manifesto. Canal ligado aos mercenários confirma morte e acusa a defesa aérea russa de disparar contra o jacto.
Autoridades russas afirmam que um jacto executivo se despenhou na região de Tver, a norte de Moscovo, esta quarta-feira. A bordo seguiam dez pessoas, sete passageiros e três tripulantes, que morreram no acidente. De acordo com a Autoridade da Aviação Civil Russa (Rosaviatsia), Yevgeny Prigozhin, o líder do Grupo Wagner, está no manifesto de voo.
A notícia, avançada pela agência de notícias russa TASS e reproduzida pela Reuters, diz que o pequeno avião fazia a ligação entre São Petersburgo e Moscovo.
"Foi aberta uma investigação ao acidente do avião, um Embraer Legacy, que aconteceu esta noite na região de Tver. De acordo com a lista de passageiros, entre eles está o nome e o apelido de Yevgeny Prigozhin", afirma a Rosaviatsia.
O canal de Telegram Grey Zone, ligado ao Grupo Wagner, afirmou, por seu lado, que a queda do Embraer não foi nenhum acidente, mas sim que o jacto foi abatido pelas defesas aéreas russas.
O mesmo Grey Zone, citado pelo Financial Times, refere que residentes perto da zona do acidente ouviram “duas explosões características de disparos da defesa aérea” antes do avião se despenhar. “E confirma-se por traços de inversão no céu num dos vídeos”, adianta o canal, explicando, no entanto, que se trata de informações preliminares.
Mais tarde, o canal próximo dos mercenários confirmaria a morte de Prigozhin em comunicado: “O chefe do Grupo Wagner, um herói da Rússia, um verdadeiro patriota da sua Pátria, Yevgeny Viktorovich Prigozhin, morreu em resultado das acções dos traidores da Rússia”
O mesmo comunicado acrescentaria de forma enfática: “Mas mesmo no Inferno, ele será o melhor! Glória à Rússia!”
Para Alicia Kearns, presidente do comité de Negócios Estrangeiros do Parlamento britânico, “a velocidade com que o Governo russo confirmou que Yevgeny Prigozhin ia no avião que se despenhou em viagem de Moscovo para São Petersburgo deve dizer-nos tudo o que precisamos saber”.
“As informações de que a Defesa Aérea Russa abateu o avião mostra que Putin está a enviar uma mensagem muito forte”, acrescenta a deputada.
Prigozhin (Ievgueni Prigojin na transliteração em português), reaparecera na terça-feira, num vídeo alegadamente filmado em África e difundido pelos canais de Telegram afectos à milícia russa, onde afirmava: “O Grupo Wagner faz a Rússia ainda maior em todos os continentes e faz com que África seja ainda mais livre”, dizia no vídeo.
De acordo com o Guardian, o avião, identificado com o número RA-02795, tinha sido alvo de sanções russas desde 2019 pelas suas ligações a Prigozhin. Terá sido mesmo nessa aeronave que o líder do Grupo Wagner viajou para a Bielorrússia depois do motim de 27 de Junho.
No seu canal do Telegram, o Ministério das Situações de Ermergência russo, citado pela agência de notícias turca Anadolu, escreveu que “havia dez pessoas a bordo, entre elas, três membros da tripulação” e que “segundo as primeiras informações, todas as pessoas a bordo morreram”.
A notícia da agência turca é ilustrada com uma imagem dos destroços do jacto a arder num campo perto da aldeia de Kuzhenkino. Imagens parecidas já começam a circular nas redes sociais. Segundo a TASS, o avião ficou em chamas ao embater no solo e quatro corpos tinham já sido encontrados.
O diário alemão Tagesspiegel lembra que o jornalista de investigação Christo Grozev, do portal Bellingcat, disse numa entrevista após o motim liderado pelo chefe do Grupo Wagner que “dentro de seis meses ou Prigozhin está morto ou vai haver um segundo motim”. Grozev já tinha sido dos poucos que falara da possibilidade de um potencial ataque do chefe do grupo de mercenários russos contra Putin, segundo o jornal.
“Putin é alguém que geralmente pensa que a vingança se deve servir fria”, afirmava o director da CIA, William Burns, no mês passado, no Aspen Security Forum, citado pelo Financial Times.
O site Politico, citando o canal de Telegram russo VChK-OGPU, que normalmente tem fontes bem colocadas, afirma que Dmitri Utkin, fundador do Grupo Wagner também seguia a bordo. O que leva o canal a escrever: “O Wagner foi decapitado.”
No Grey Zone, o grupo acabaria por confirmar também a sua morte pela acção de “traidores”. Utkin também é apelidado de “herói da Rússia” e que “será para sempre o comandante do Grupo Wagner”.
"A ser verdade, mostra que Putin eliminará os opositores e isso assusta qualquer um que esteja a pensar expressar uma opinião diferente da dele", afirmou por seu lado a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, citada pela Reuters.
Enquanto a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adrienne Watson, sublinhava que “ninguém deveria ficar surpreendido”.
“Putin precisa de reafirmar a sua autoridade” e esta “era uma oportunidade demasiado boa para Putin não a aproveitar”, disse à Sky News Alan Mendoza, fundador e director executivo da Henry Jackson Society.