Líder do PP agradece apoio “sem condições” do Vox
Feijóo agradeceu que Abascal não tenha feito exigências para apoiar a sua investidura, mas saltou o “cordão sanitário” como o líder da extrema-direita lhe pediu e falou em “normalidade democrática”.
O líder da extrema-direita espanhola saiu, esta terça-feira, do encontro com o rei Felipe VI sem vontade de responder a perguntas dos jornalistas. A conferência de imprensa no Congresso tornou-se apenas numa curta declaração, segundo o próprio Santiago Abascal, “para ser absolutamente preciso no que queria dizer”. E o resumo é que entregava o apoio do Vox à investidura do líder do Partido Popular (PP) sem nada em troca a não ser a normalização política do seu partido.
Alberto Núñez Feijóo não se esqueceu. Na sua conferência de imprensa (essa com direito a perguntas e respostas), o presidente do PP agradeceu a Abascal o seu apoio “sem condições, para que o PP possa governar sozinho”, criticou “a censura das minorias” e acrescentou a “relação de normalidade democrática” entre os dois partidos. Em suma, tal como pedira o presidente do Vox, Feijóo apressou-se a saltar o “cordão sanitário” em torno do partido de extrema-direita para superar o mal-estar que a eleição da Mesa do Congresso havia deixado entre os dois partidos.
Do Abascal “perplexo” da votação de 17 de Agosto, depois de pela primeira vez a terceira força política do Congresso de Deputados não ter conseguido eleger um vice-presidente para a liderança da câmara, porque o PP se tinha recusado a ceder alguns votos para que o candidato da extrema-direita fosse eleito (em resposta, não votaram em Cuca Gamarra, a candidata do PP), emergiu um líder do Vox a adiantar “uma nova etapa de colaboração” entre os dois partidos. Uma etapa em que os três milhões de eleitores do Vox "merecem respeito" e o "dever da representação".
“Espero que, a partir de agora, os inimigos dos acordos de governo entre PP e Vox se abstenham de voltar a pôr em perigo a construção da alternativa”, escreveu Abascal na rede social X (antigo Twitter). Uma colaboração entre “dois partidos muito diferentes, muito distantes, mas capazes de se respeitarem e de se pôr de acordo quando necessário”.
Entre as quatro condições que leu aos jornalistas para que o Vox desse aval a um governo de Feijóo, e que este transformou num “sem condições” no seu agradecimento ao partido de extrema-direita pelo apoio, estava a “demonstração de respeito aos eleitores do Vox”, que não entenderam, tal como a direcção do partido, a razão pela qual ficaram fora da Mesa do Congresso.
Diego Rodríguez Veiga, jornalista do El Español, dava conta disso mesmo, ao escrever que “chama a atenção o facto de que Feijóo fale de ‘normalidade democrática’ depois da chamada de atenção de Abascal” e que responda com um “a colaboração irá manter-se”, quando o líder do Vox “também pediu para se ‘valorizarem’ os pactos entre o PP e o Vox em autonomias e municípios depois das eleições de 28 de Maio e Feijóo assim o fez, assegurando que a colaboração irá manter-se”.
Sinal de que Feijóo cedeu para que o Vox chegasse ao encontro desta terça-feira com o rei Felipe VI com um apoio inequívoco ao governo do PP está explícito na própria mensagem de Abascal no X: “Saúdo o facto de Feijóo ter atendido às justas solicitações do Vox.”
Elsa García de Blas, no El País, fala explicitamente de um “pagamento” cumprido. “Com essas palavras, Feijóo, que também instou o Vox a manter ‘a relação de colaboração’ que os une, cumpriu com o pagamento que havia exigido Abascal esta manhã [ontem] para o apoiar, ‘uma demonstração inequívoca de respeito’.”