Futebol: Espanha vence campeã europeia e sagra-se campeã do mundo

Na final do Campeonato do Mundo, na Austrália, a selecção espanhola impôs-se a Inglaterra e conquistou o troféu no futebol feminino pela primeira vez.

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Olga Carmona a festejar o golo EPA/DEAN LEWINS
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Pela primeira vez na história do Campeonato do Mundo de futebol feminino, a Espanha levantou o troféu. Neste domingo, em Sydney, as espanholas foram mais fortes do que a selecção de Inglaterra, venceram com justiça por 1-0 e completaram uma caminhada exigente, em que deixaram pelo caminho algumas das favoritas do torneio, incluindo as britânicas, actuais campeãs da Europa.

Acontecesse o que acontecesse, este Mundial co-organizado por Austrália e Nova Zelândia iria consagrar um novo campeão do mundo. Novo, no sentido em que iria colocar pela primeira vez o nome no palmarés da competição. Restava apenas saber quem iria desferir o golpe final, se uma Espanha que já tinha cometido a proeza de afastar os Países Baixos e a Suécia, na fase a eliminar, ou se uma Inglaterra que chegou ao derradeiro encontro sem conhecer o sabor da derrota.

No Stadium Australia, mediram forças duas selecções com um ideário muito diferente. A Espanha, em 4x3x3, a trilhar os passos da congénere masculina, com um futebol de posse, apoiado, a esconder a bola ao adversário à espera do momento certo para acelerar; a Inglaterra, em 3x4x3, a contornar a pressão contrária com passes de média e longa distância, insistindo no ataque à profundidade.

Foi a equipa espanhola a tomar conta do jogo rapidamente, mesmo que a primeira grande oportunidade tenha surgido na baliza de Catalina Coll: Laura Hemp, aos 16’, rematou já dentro da área, de primeira, e viu a bola ser devolvida pela trave. Mas Espanha não perdeu tempo e respondeu com um ataque perigosíssimo, que incluiu um cruzamento do lado esquerdo e um duplo falhanço flagrante na pequena área, ora por Salma Paralluelo, ora por Alba Redondo.

Coincidência ou não, a partir desse momento Inglaterra evaporou-se. Deixou de ter bola (a primeira parte terminou com 64% contra 36% das britânicas), deixou de conseguir sair com qualidade e limitou-se a procurar anular as combinações das adversárias, que ora alternavam entre o corredor central, libertando-se com grande qualidade da pressão, ora exploravam a verticalidade de Carmona e Paralluelo no corredor esquerdo.

Foi precisamente por essa zona que chegou o golo inaugural. Mariona Caldentey, criativa do Barcelona, lançou Olga Carmona e a lateral entrou na área, levantou a cabeça à procura de uma referência ao segundo poste mas decidiu rematar cruzado, sem hipótese para Mary Earps. Carmona, esteio do Real Madrid, repetia o que já tinha feito na meia-final.

Em cima do intervalo, Paralluelo esteve perto do 2-0, com a bola ainda a raspar no poste, e Sarina Wiegman, seleccionadora inglesa, não esperou mais para mexer no jogo. Deixou ficar Alessia Russo e Rachel Daly no balneário, lançando Lauren James e Chloe Kelly para o relvado. E a equipa melhorou. Com ligeiras alterações na estrutura, alternando entre uma linha defensiva a três e a quatro, ganhou nova dinâmica no corredor direito (o efeito-Kelly) e maior capacidade de recuperar a bola no meio-campo contrário.

Mas Espanha não deixou de insistir no corredor esquerdo e foi por lá que provocou novo desequilíbrio. Um desequilíbrio que redundou num par de tentativas de remate dentro da área inglesa, travadas por mão na bola de Keita Walsh. Com recurso ao VAR, o castigo foi sancionado (e anunciado pela árbitra através do sistema de som do estádio) e Jennifer Hermoso chamada a marcar (68’). Só que a guarda-redes Mary Earps defendeu com classe e o bálsamo anímico que resultou do lance beneficiou Inglaterra.

Mais ousada, a equipa britânica ia projectando as alas para juntar quatro elementos na frente de ataque e Lauren James esteve perto do empate aos 76', quando rematou de pé esquerdo, já na área, para defesa de Coll. Inglaterra carregava e entretanto, nos bancos, acelerava a dança das substituições. Nesta altura, as britânicas já tinham invertido a lógica da primeira parte, sobrepondo-se na posse de bola (52% contra 48%). Um sinal de mudança de paradigma.

O relógio continuava a contar e, a partir do momento em que Bethany England entrou para dar ainda maior poder de fogo às inglesas (88'), o jogo directo tornou-se regra e, com ele, as transições perigosas de Espanha, que entretanto já tinha em campo a coqueluche Alexia Putellas. Não se traduziram em golo, mas tiveram o condão de agravar o estado de tensão das adversárias, que não mais tiveram o critério necessário para abordarem a baliza espanhola. Assunto arrumado, Espanha entrava para a história como a quinta selecção (depois de EUA, Alemanha, Noruega e Japão) a conquistar um título mundial.

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