Era, até hoje, um dos segredos mais bem guardados de Affalterbach, com uma série de medidas para manter o efeito surpresa: vimo-lo em Viena, há cerca de um mês, mas não sem antes assinarmos documentos de confidencialidade e, claro, entregarmos telemóveis.
O novo Mercedes-AMG GT Coupé, que acaba de ser revelado na Semana Automóvel de Monterey, na Califórnia (EUA) — onde a marca deu ainda a conhecer uma edição especial do roadster SL —, estrear-se-á nos mercados com a apimentada versão 63 4Matic+ e com a espevitada 55 4Matic+.
Em ambos os casos, acrescenta-se potência à gama do braço desportivo do emblema alemão, ao mesmo tempo que a divisão mostra estar apta a abraçar novas etapas das vidas dos seus clientes, com uma segunda fila com dois bancos (opcional), talhada para transportar miúdos pequenos, sejam filhos ou netos (a marca não engana ninguém e deixa claro que estes assentos foram idealizados para pessoas com uma altura máxima de 1,50m). “Com o novo conceito de dimensão e a opção de 2+2 lugares, estamos a responder directamente aos desejos dos nossos clientes”, confirma o CEO da Mercedes-AMG, Michael Schiebe, citado em comunicado.
Com esta fila rebatida, a mala torna-se impressionantemente grande, algo que parecia impensável acontecer na anterior geração. Isto sem beliscar o conceito desportivo com que o automóvel se veste — à primeira vista, apetece-nos apelidá-lo de “animal”. É que, mesmo com uma longa distância entre eixos e dimensões avantajadas, o modelo não perdeu pitada de encanto. Para tal, a equipa de design encontrou o equilíbrio num pára-brisas inclinado a contrastar com as cavas das rodas volumosas, de tal forma que se tem a sensação de se estar diante de um hot hatch.
Em suma, a equipa de desenvolvimento procurou uma elevada eficiência aerodinâmica, ao mesmo tempo que os vários parâmetros trabalhados potenciam a estabilidade de condução, controlando a resistência do ar, o arrefecimento e o ruído do vento. Isto, promete-se, é particularmente evidente em situações limite, em que é preciso realizar alguma manobra evasiva a alta velocidade.
Trocando por miúdos, há um sistema de controlo activo do ar, composto por duas partes: uma funciona com lâminas verticais, ocultas atrás da entrada de ar inferior no avental dianteiro; outra, com lâminas na horizontal, encontra-se atrás da entrada de ar superior. Numa situação quotidiana, ambas estão fechadas, permitindo que o ar se desloque sob a carroçaria; quando se aperta mais com o carro e alguns componentes atingem temperaturas elevadas, as lâminas abrem-se (o segundo apenas entra ao serviço a partir de 180 km/h!).
De perfil, de destacar a ausência de arestas agressivas, com superfícies de formas suaves e pelas quais nem os puxadores das portas se percebem. A traseira, baixa e arredondada, na qual o spoiler activo (altera a posição consoante o modo de condução ao ponto de colar o carro à estrada e reduzir a elevação do eixo dianteiro) atrai o olhar, assim como o difusor com dois tubos de escape, destaca ainda mais a linha musculada e bem pronunciada de ombros. Já à frente é a grelha imponente que distingue a personalidade, sendo que os faróis com tecnologia Digital Light são de série.
E, no caso, quem vê cara vê coração. Sob o capot bate um motor AMG 4.0 litros V8 biturbo, com um novo cárter de óleo, um intercooler reposicionado e ventilação activa do cárter, ao qual se junta, pela primeira vez no coupé desportivo, a tracção integral variável AMG Performance 4Matic+, prometendo emoções em harmonia com o traçado asfalto, sejam quais forem as condições de aderência. Inicialmente, o Coupé será lançado nas variantes AMG GT 63 4Matic+, com expressivos 585cv, e AMG GT 55 4Matic+, a debitar respeitosos 476cv.
No primeiro, com um binário máximo de 800 Nm, disponível entre as 2500 e as 4500rpm, a aceleração de 0 a 100 km/h cumpre-se em 3,2 segundos, atingindo uma velocidade máxima de 315 km/h. Já o 55 4Matic+ vai dos 0 aos 100 em 3,9 segundos, rolando a um máximo de 295 km/h.
A gestão fica a cargo de uma caixa de velocidades AMG Speedshift MCT 9G, de relações curtinhas para uma experiência mais emotiva, o que se torna especialmente relevante nos modos de condução apurados para o desempenho, seja no Sport+ ou no Race, mais adequado para condução em pista (há ainda os modos Slippery, Sport e Individual).
Mas as emoções fortes prometidas não se ficam por aqui, já que em ambos os casos os carros são servidos por suspensão AMG Active Ride Control, com estabilização activa do rolamento. “O novo AMG GT Coupé combina características de condução altamente dinâmicas e um carácter desportivo distinto com um elevado nível de conforto quotidiano”, destaca Schiebe.
Se isto não bastar, há pacote aerodinâmico entre os opcionais, com frisos adicionais nas entradas de ar exteriores e nas cavas das rodas, abas laterais no avental traseiro, um difusor maior e uma asa traseira fixa.
Luxo envolvente
Quando nos sentamos no interior do automóvel (escusado será dizer que, com mais de 1,70m, nem tentei os dois lugares traseiros), há a sensação de se estar dentro de um casulo luxuoso (a qualidade, tanto dos materiais como da construção, é evidente), pensado para envolver, sem que a tecnologia tenha sido desprezada.
A Mercedes-AMG fala numa combinação “hiperanalógica” ao casar os genes desportivos com o que de melhor o mundo digital tem para oferecer. Todo o cockpit, e mesmo o ecrã central, táctil e de 11,9 polegadas, na vertical, estão desenhados para tornarem a sua utilização pelo condutor muito fácil.
O painel de instrumentos pode ser personalizado e o sistema de informação MBUX (Mercedes-Benz User Experience) promete ser capaz de aprender com os padrões de comportamento do condutor, independentemente do modo de condução seleccionado, que vai de Comfort a Race. Em opção, há ainda um head-up display de realidade aumentada e, anuncia a marca, tridimensional.
Os bancos desportivos com apoios de cabeça integrados são de série, mas podem exibir diferentes revestimentos e oferecer três programas de massagem. Com os opcionais AMG Performance, os apoios laterais dos bancos adaptam-se ao corpo automaticamente quando se escolhem os modos de condução destinados a apertar com o acelerador.
Como seria de esperar, o Mercedes-AMG GT Coupé tem uma longa lista de elementos opcionais que permitem personalizar o carro e tornar cada um único, a começar por 11 tons para a carroçaria e oito desenhos de jantes (de 20 polegadas de série ou de 21).
E, claro, conta com um rol de sistemas de assistência à condução, os quais, afiança a marca, numa situação de perigo, são capazes de “intervir à velocidade da luz”, fazendo jus às premissas do próprio coupé.