Dongmo, uma resistente entre candidatos portugueses nos Mundiais
Lançadora do peso é a maior esperança de Portugal na luta pelas medalhas em Budapeste. Sem Pichardo e sem Mamona, a comitiva nacional aponta sobretudo a finais e a recordes.
A 24.ª medalha de Portugal em Mundiais de atletismo estará, de 19 a 27 de Agosto, nas mãos e pernas de 28 atletas. Mas há uma com uma responsabilidade particular em Budapeste. Depois da confirmação da indisponibilidade de Pedro Pablo Pichardo, e a avaliar pelo currículo e experiência da lançadora, caberá a Auriol Dongmo assumir a cabeça do “pelotão” na luta por uma presença no pódio.
A notícia da ausência de Pichardo chegou já durante a viagem de parte da comitiva. Depois de ter já falhado os Campeonatos da Europa de Equipas, os Campeonatos Nacionais de Clubes e os Campeonatos de Portugal, o triplista do Benfica volta debater-se com uma lombalgia e, depois de avaliado e submetido a exames, a equipa médica nacional decidiu-se pela paragem do atleta.
Pichardo, claramente o grande favorito à conquista de uma medalha para as cores portuguesas, não vai poder defender o título conquistado em Oregon 2022, dando seguimento a uma temporada marcada por fortes condicionalismos físicos. Assim, Portugal fica amputado de um dos seus maiores activos em Budapeste e vê-se forçado a procurar o sucesso noutras paragens, apesar de contar com Tiago Pereira no triplo salto.
Neste contexto, a prestação de Auriol Dongmo no concurso do peso ganha importância acrescida. A actual campeã do mundo de pista coberta (em 2022, em Belgrado, lançou 20,43m, ainda recorde nacional) surge em cena com a quinta melhor marca do ano (19,72m, fixada em Paris, em Junho) e à procura de uma medalha em Mundiais ao ar livre, algo que lhe falta no currículo.
No ano passado, em Eugene, ficou-se pelo quinto lugar, com 19,62m, e agora deverá ter de elevar o nível para conseguir chegar ao pódio. Até porque, pela frente, terá três adversárias que neste ano já lançaram acima dos 20 metros: as norte-americanas Maggie Ewen (20,45m) e Chase Ealey (20,06m), e a chinesa Lijiao Gong (também 20,06m).
“Menos debilidade”
De resto, e novamente sem a lesionada Patrícia Mamona, também ela uma candidata regular às medalhas no triplo salto, Portugal apontará a mira a alguns recordes nacionais e a algumas finais. As da marcha, essas, estão garantidas à partida, ou não se tratasse de uma prova sem qualificação. E é já hoje, pela manhã, que João Vieira sai para a estrada para disputar os 20km — ele, que também está inscrito nos 35km.
O marchador de 47 anos vai somar a 13.ª participação em Mundiais (ficará a dividir esse recorde mundial), enquanto Inês Henriques, na versão feminina da mesma prova, vai para a 11.ª, marca que iguala o também recorde global de Susana Feitor.
Mesmo apresentando a segunda maior delegação de sempre, Portugal surge na Hungria com expectativas moderadas. “Não vou estar a dizer que espero medalhas ou finalistas. Vou esperar bons resultados e muito empenho”, assinalou José Santos, director técnico nacional, à agência Lusa, destacando a amplitude das provas em que o país marca presença. “Temos representantes em todas as disciplinas, oito nos lançamentos, seis na velocidade e outros tantos no meio-fundo, quatro na marcha, dois nos saltos... Acho que já se nota menos debilidade no nosso atletismo”.
O facto de integrarem a comitiva 13 atletas que fixaram recordes pessoais já este ano poderá abrir portas a resultados interessantes e José Santos, para além de Auriol Dongmo, não deixou de destacar outros “atletas promissores”, como Isaac Nader, nos 1500 metros, João Coelho, nos 400 metros, ou a “belíssima” estafeta dos 4x400 metros mistos, que será composta pelo próprio João Coelho, Omar Elkhatib, Ricardo Santos, Cátia Azevedo, Carina Vanessa e Fatoumata Diallo.
Obstáculo logístico
Antes de começar a competir em Budapeste, porém, a comitiva nacional teve de ultrapassar outro tipo de desafio, de ordem logística. Devido às más condições atmosféricas em Frankfurt, na Alemanha (escala para muitos atletas rumo à Hungria) foram muitos os voos que sofreram atrasos ou foram cancelados. E só pela hora de almoço de ontem começaram a deslocar-se para Budapeste os atletas que iniciarão os Mundiais mais cedo, causando perturbação no plano de descanso e de preparação para as provas.
Um percalço que não afectou, unicamente, os atletas nacionais (e nem todos fizeram o mesmo percurso), mas cujos efeitos só poderão ser avaliados a partir desta manhã.