Cineasta iraniano Saeed Roustayi condenado a seis meses de prisão

Tribunal considerou-o culpado de propaganda contra o regime de Teerão por ter mostrado em Cannes e em Munique o seu mais recente filme, Os Irmãos de Leila. Produtor foi sujeito à mesma pena.

Foto
Saeed Roustayi é também o realizador de A Lei de Teerão DR
Ouça este artigo
00:00
03:11

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Leila, uma iraniana de 40 anos, dedicou a sua vida a cuidar do pai e dos quatro irmãos. A família, constantemente pressionada por dívidas num país mergulhado numa profunda crise económica e sujeito a sanções internacionais, luta contra a pobreza, pelo que esta mulher decide abrir um negócio em que todos possam trabalhar, longe dos ditames e das injustiças dos patrões. Para isso, precisa porém da aprovação – e sobretudo do dinheiro do patriarca. É este o ponto de partida de Os Irmãos de Leila, de Saeed Roustayi, cineasta que agora foi condenado a seis meses de prisão precisamente por ter mostrado este seu filme nos festivais de cinema de Cannes e de Munique.

Um tribunal de Teerão deu como provada a acusação contra Roustayi, a de que “contribuiu para a propaganda da oposição contra o sistema islâmico”, escreve o jornal francês Le Figaro. Para além do cineasta, foi condenado à mesma pena o produtor desta longa-metragem, Javad Norouzbeigui.

Os Irmãos de Leila, que passou pelas salas de cinema portuguesas, viu a sua exibição proibida no Irão depois de, segundo as autoridades iranianas, o realizador e o produtor terem “desrespeitado as regras ao participarem sem autorização [no festivais de] Cannes e de Munique”.

Apesar de terem sido condenados a seis anos de prisão, Roustayi e Norouzbeigui só deverão ficar nove dias encarcerados, de acordo com o jornal reformista iraniano Etemad, citado pela Agência France Presse (AFP). A restante pena permanecerá suspensa por cinco anos.

"Durante o período de suspensão, os arguidos devem abster-se de actividades relacionadas com o crime cometido e de comunicar com outros membros da indústria cinematográfica", acrescenta o Etemad, ainda segundo a AFP e o Figaro.

Saeed Roustayi mais conhecido pelo seu filme A Lei de Teerão (2019), policial que tem por tema o tráfico de droga e a sua repressão pelo regime iraniano e o produtor Javad Norouzbeigui não foram os únicos elementos ligados ao filme Os Irmãos de Leila a enfrentar os tribunais de Teerão. Taraneh Alidoosti, a protagonista, foi detida no final de 2022 por apoiar os protestos anti-regime.

Alidoosti, estrela de O Vendedor (2016) e colaboradora próxima do realizador Asghar Farhadi, que com ele venceu em 2017 o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, foi acusada de publicar conteúdos falsos online, de promover motins e de apoiar movimentos que visam o derrube do governo de Teerão.

A actriz esteve entre os milhares de pessoas que protestaram contra a falta de direitos das mulheres, na sequência da morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, ocorrida a 16 de Setembro do ano passado, três dias depois de ter sido detida pela polícia de costumes, sob acusações de ter violado o rigoroso código de vestuário da República Islâmica.

Alidoosti pronunciou-se ainda abertamente nas redes sociais contra a morte de Mohsen Shekari, um homem de 23 anos que foi executado por crimes cometidos durante estes protestos pelos direitos das mulheres.

Foram vários os dissidentes iranianos e as entidades internacionais – colegas de profissão, festivais de cinema e organizações de defesa dos direitos humanos – a reclamar a libertação da actriz, um dos rostos mais populares do cinema iraniano.

Taraneh Alidoosti, hoje com 39 anos, esteve três semanas detida, tendo sido libertada depois de pagar uma fiança de 22 mil euros, de acordo com o diário britânico The Guardian.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários