NASA: “Podemos prever que 2024 vai ser ainda mais quente”

Agência espacial dos EUA estima que os maiores impactos do fenómeno El Niño serão sentidos em Fevereiro, Março e Abril de 2024. E confirma: Julho foi mesmo o mês mais quente de sempre.

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Julho foi o mês mais quente no planeta desde que há registos, ou seja, 1880 NASA/DR
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Julho foi o mês mais quente no planeta desde 1880 e, durante um Verão escaldante em muitos países, “podemos prever que 2024 será ainda mais quente”, afirmou Gavin Schmidt, director do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, a agência espacial norte-americana. A NASA estima ainda que os maiores impactos do fenómeno climático El Niño serão sentidos em Fevereiro, Março e Abril do próximo ano.

O climatologista britânico falava, esta segunda-feira, numa conferência de imprensa da NASA para divulgar os mais recentes dados e objectivos climáticos. “Este Julho não foi apenas mais quente do que qualquer Julho anterior – foi o mês mais quente de todos os nossos registos [da NASA], que remontam ao século XIX”, disse Gavin Schmidt, reiterando uma conclusão que já havia sido divulgada recentemente pelo programa europeu de monitorização do clima do Copérnico.

Incêndios amplificados por altas temperaturas, ondas de calor que se arrastam no calendário, recordes de temperatura registados tanto na terra como no mar em diferentes continentes, inundações costeiras que custam vidas e bens. Vários exemplos recentes do “caos climático” foram citados, tanto por cientistas como responsáveis da NASA, para alertar para a urgência de uma acção climática sólida.

“Um ano como este [2023] dá-nos uma antevisão da forma como o aumento das temperaturas tem impacto na sociedade”, disse Sarah Kapnick, directora científica da Administração Nacional para o Oceano e a Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês) norte-americana. “Dito de outra forma, os próximos anos serão os mais frescos da minha vida se continuarmos a emitir gases com efeito estufa”, acrescentou, lembrando que o fenómeno climático El Niño vai contribuir para o acréscimo relativo de temperatura ao longo do Inverno e do próximo ano.

“A ciência é clara quando indica que isto não é normal. O aquecimento alarmante do planeta tem sido impulsionado principalmente pelas emissões de gases com efeito de estufa provocadas pela mão humana. E esse aumento nas temperaturas médias está a alimentar temperaturas extremas perigosas que estamos a enfrentar aqui e no resto do mundo”, referiu Gavin Schmidt. Ainda de acordo com dados da NASA, os cinco meses de Julho mais quentes desde 1880 tiveram lugar precisamente nos últimos cinco anos.

As altas temperaturas da superfície do mar contribuíram para o calor recorde de Julho, segundo os especialistas. Os dados da NASA indicam temperaturas oceânicas mais quentes sobretudo no Pacífico tropical oriental, como resultado do fenómeno climático El Niño. “O que acontece no oceano não fica no oceano - afecta o planeta inteiro”, referiu na mesma ocasião Carlos Del Castillo, director do laboratório de ecologia oceânica da NASA, aludindo à íntima associação entre a temperatura água e do ar.

Carlos Del Castillo recordou que a costa de Miami, nos Estados Unidos, está cinco vezes mais exposta a inundações do que há meio século. E que, na Florida, o aumento da temperatura tem aumentado a lixiviação dos corais e causado a migração de espécies marinhas com valor económico para norte ou para águas mais profundas. “Mas como os corais não têm pernas e não podem fugir, estão condenados a enfrentar as consequências das mudanças climáticas”, observou o especialista da NASA, sublinhando que esta degradação destas espécies não tem impacto apenas no turismo, mas sim na totalidade daquele ecossistema.

“Os últimos nove anos foram os mais quentes de que há registo. A mãe natureza está a passar-nos uma mensagem”, alertou Bill Nelson, administrador da NASA, no início da conferência de imprensa. E concluiu: “A mensagem a reter é: não há fronteiras políticas [na crise climática], não há fronteiras geográficas. Estamos todos juntos nisto.”