Ferry e moliceiros movidos a electridade evitarão emissão de 700 toneladas de CO2

Nas viagens turísticas nos canais urbanos da ria de Aveiro, a transição para os motores eléctricos tem de ser feita, no máximo, nos próximos dois anos.

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Os moliceiros passarão a funcionar com motores eléctricos, nos próximos dois anos ADRIANO MIRANDA
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O vaivém é constante e, por estes dias de época alta, acusa ainda maior intensidade. São quase três dezenas de barcos moliceiros e mercantéis carregados de turistas que procuram conhecer Aveiro através dos seus canais. A estimativa para este ano aponta para um total de 1,2 milhões de turistas a passearem nas embarcações que operam no centro da cidade. Contas feitas, no total das viagens e dos consumos dos motores de cada um dos 27 barcos em operação, são cerca de 400 toneladas de CO2 que são emitidas para a atmosfera. Um cenário que a autarquia espera que venha a ser alterado, nos próximos dois anos, com a electrificação dos motores destes barcos turísticos. A esta conta de diminuir junta-se, também, a parcela correspondente às travessias para São Jacinto, uma vez que o novo ferryboat, eléctrico, irá entrar em operação até ao final do ano. Neste caso, a poupança ambiental chegará às 300 toneladas de CO2.

“Estamos a poucas semanas de dar o sistema por terminado do ponto de vista técnico e disponibilizá-lo formalmente aos operadores”, assegurou ao PÚBLICO Ribau Esteves, presidente da Câmara de Aveiro, a propósito da electrificação dos moliceiros. A mudança acontece com algum atraso face ao que tinha sido inicialmente previsto, reconheceu o autarca, explicando que “a empresa responsável pela instalação da rede de carregamento entendeu que era preciso uma componente adicional a bordo de cada embarcação”. “É esse elemento que está agora para ser entregue e nós podermos dar como terminada a operação e dizermos aos operadores: está tudo pronto, podem começar”, explicou. A partir daí, as empresas que realizam as viagens turísticas nos canais urbanos da ria têm dois anos para fazer a substituição dos motores de combustão, sendo que há já “dois operadores prontos, com os motores em armazém”, referiu o autarca.

No transporte fluvial de passageiros e viaturas para São Jacinto, a transição irá ser mais célere, estima Ribau Esteves. “O novo ferry fica pronto neste mês de Agosto. Esperamos que os testes de mar corram todos bem para que tenhamos o ferry pronto a navegar em Setembro”, perspectivou, sem esconder que têm sido levantadas algumas dificuldades na instalação do sistema de carregamento. “É o problema de ser pioneiro”, apontou, recordando que o Salicórnia (será este o nome da embarcação) é o primeiro ferry eléctrico do Sul da Europa. “Nunca se produziu nada para condições de água parecidas com as que temos aqui. Isto não é a Dinamarca ou a Suécia em que amplitude de maré é meio metro. A nossa amplitude é de quase quatro metros”, argumenta, a propósito daquele que tem sido um dos maiores desafios do projecto: a adequação do sistema de carregamento às condições do local. Ainda assim, tudo deverá estar concluído até ao final do ano, tanto mais porque existe “a pressão do quadro comunitário Portugal 2020”. “Ou as operações acabam no final do ano ou perdemos o financiamento porque já não há mais prolongamento”, alerta.

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Ponto de carregamento eléctrico para os moliceiros ADRIANO MIRANDA

Assim que o novo ferry entrar em funcionamento, pára o “velhinho” Cale de Aveiro, cuja operação é responsável pela emissão de cerca de 300 toneladas de CO2, por ano. O seu destino? “Ele está no mercado, se alguém o quiser comprar”, anuncia Ribau Esteves, reconhecendo que aquela embarcação é “muito adequada a certas condições”. “Só para ele atracar, é preciso construir aqueles barcos-cais que custam cerca de 1,5 milhões de euros”, especifica. Caso não apareçam interessados, o navio – que “está completamente ultrapassado em termos de sistema de navegação”, aponta – será abatido e irá para a sucata.

Frota de autocarros cada vez mais eléctrica

As apostas na electrificação dos moliceiros e a aquisição do novo ferry inserem-se numa estratégia de mobilidade mais alargada e que se estende também aos transportes colectivos e às bicicletas partilhadas (sistema no qual Aveiro foi pioneira). “Nos modos suaves, em sentido estrito, quisemos aumentar o espaço e a qualidade desse espaço para os circuitos pedonais e também aumentar a quantidade e a qualidade dos circuitos cicláveis”, destaca o presidente da autarquia. “Andar a pé na Avenida Dr. Lourenço Peixinho era trágico. Na requalificação da avenida, aumentámos a área e também o conforto do seu piso voltando à avenida”, especifica, notando também que os ciclistas que fazem “o percurso entre a estação e a universidade têm hoje um nível de conforto e segurança que nunca tiveram”.

A outra frente de batalha passou pela definição de novas estratégias ao nível do transporte público. “Primeiro, foi preciso pôr em ordem a oferta municipal. Acabar com a miséria que era a Move Aveiro e fazer uma concessão com uma empresa em condições”, sustenta. O passo seguinte, já com o concessionário em operação, passou pela introdução, “gradual e com a sustentabilidade financeira devida”, do modo eléctrico nos autocarros. “Ao final do primeiro ano tínhamos três, ao final do quinto ano tínhamos quatro e, ao final do sétimo ano, vamos ter 14 autocarros eléctricos”, contabiliza. Quer isto dizer que, até ao final de 2023, a frota de autocarros a operar no município – são 20 no total – contará com mais 10 viaturas eléctricas. Tudo isto em paralelo com a operação intermunicipal, da BusWay, que espera recorrer aos novos fundos comunitários para “fazer a integração crescente e gradual dos eléctricos, tal como o grupo Transdev tem feito a nível municipal, na Aveiro Bus”, explica Ribau Esteves.

Bugas de utilização gratuita ou não

No passado mês de Junho, o município de Aveiro deu novo impulso a um projecto que, em 1999, o colocou na ribalta. As famosas BUGA (Bicicletas de Utilização Gratuita de Aveiro) viram a sua frota ser reforçada com mais de 200 novos veículos, que apesar de não serem gratuitos já percorreram mais de 470 quilómetros, num total de três mil viagens feitas por 2600 utilizadores. “Foi um processo muito longo, complexo, porque criámos uma solução inovadora e adequada à cidade, mas está a correr muito bem”, avalia Ribau Esteves.

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Presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, diz que as antigas Bugas vão continuar a circular ADRIANO MIRANDA

A nova Buga está já disponível em 21 estações no centro da cidade, mas “a perspectiva é continuar a crescer, depois de consolidar esta operação”, assevera, notando que está em causa “um investimento grande, meio milhão de euros, de uma infra-estrutura que já ficou preparada com ramais eléctricos para, na próxima fase, introduzir bicicletas eléctricas”.

Quanto às antigas Bugas, a ideia é mantê-las em circulação e de forma gratuita – Ribau Esteves garante que não está nos planos do executivo acabar com o sistema original. “São 80 bicicletas que foram todas renovadas, nos últimos anos, e que decidimos manter gratuitas, somando-lhes estas do sistema de uso pago e com dois modelos distintos”, afiança o autarca, garantindo que não existe concorrência entre os dois sistemas. “Quem quer ter uma Buga mais próximo, que a encontra em 20 locais da cidade, quem quer ter a possibilidade de levar a Buga para São Jacinto, quem quer ter a Buga ao pé do sítio onde apanhou o comboio, do seu hotel, obviamente vai usar o sistema novo. Quem se quer dar ao trabalho de ir a um só sítio, no largo do Mercado Manuel Firmino, buscar a sua bicicleta, entregar a sua identificação, pode recorrer ao sistema antigo”, exemplificou.

O novo sistema não saiu incólume a críticas, nomeadamente da parte da oposição socialista, que apontou o dedo ao facto de as novas bicicletas não serem gratuitas e à inexistência de docas de estacionamento para além da área delimitada do centro. “A esmagadora maioria dos utilizadores das nossas Bugas são os turistas. E o turista quer lá saber se no ano passado veio cá e só tinha a Buga antiga e agora tem duas Bugas. O turista quer chegar e quer usufruir da cidade”, contrapõe o autarca, reforçando: “Nós, residentes, é que olhamos para essas questões e depois não usamos nem a Buga 1, nem a Buga 2. Conclusão? É uma não-questão.”