Falta de planeamento leva Carris a encostar eléctricos que estão operacionais

Em três anos a empresa não conseguiu ampliar as suas instalações em Santo Amaro, em Lisboa, para acomodar os novos eléctricos e está a mandar os mais antigos para ficarem parados em Miraflores.

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A empresa já tem em Miraflores 11 eléctricos dos antigos e deslocou para lá um primeiro eléctrico articulado da série 500-510 Guilherme Marques/Arquivo
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A chegada dos novos eléctricos articulados que a Carris encomendou à construtora ferroviária basca CAF está a obrigar a empresa a enviar para Miraflores veículos em estado operacional por falta de espaço nas suas instalações de Santo Amaro. Entre a adjudicação dos novos eléctricos e a entrega da primeira unidade, mediaram três anos, um tempo durante o qual a Carris não conseguiu ampliar aquele parque oficinal para acomodar a sua agora maior frota de eléctricos.

A empresa já tem em Miraflores 11 eléctricos dos antigos e deslocou para lá um primeiro eléctrico articulado da série 500-510 para ir dando espaço aos novos. À medida que estes forem entregues pelo fabricante, a Carris terá de continuar a enviar para aquele seu terminal rodoviário eléctricos ainda em estado operacional (datam de 1995).

O PÚBLICO apurou que foi feito um estudo para ampliação de Santo Amaro, que foi rejeitado devido a erros técnicos. Fonte oficial da Carris diz que “foi elaborado um estudo prévio, para efectuar o levantamento das condições existentes na Estação de Santo Amaro” e que está agora a ser desenvolvido “um projecto mais amplo e detalhado, com vista a definir as condições adequadas ao parqueamento dos novos eléctricos articulados e também a garantir uma intervenção mais alargada para a valorização do todo o património histórico da Estação de Santo Amaro”.

Quanto ao número de eléctricos articulados que vão ser encostados, a empresa diz que tal se encontra “em avaliação”, mas assegura que “com a entrada em operação dos novos eléctricos articulados, em conjugação com o parque existente, haverá um claro aumento da frequência e da oferta de serviço com esta tipologia de veículo”. Por outro lado, como está prevista a expansão da linha 15 [Cais do Sodré-Algés], isso “implicará a utilização de todo o material circulante disponível”.

A Carris afasta, assim, a hipótese de o material transferido para Miraflores ficar encostado definitivamente, mas, por enquanto, o certo é que se trata de importantes activos que vão ficar parados, apesar de poderem circular. Eléctricos com 28 anos estão longe de se considerar velhos, havendo vários exemplos de cidades europeias que têm ao serviço veículos similares com 40 anos de serviço, como é o caso de Helsínquia, Milão, Bruxelas, bem como praticamente todas as capitais dos países do Leste.

O exemplo de Milão é paradigmático: ainda circulam actualmente eléctricos dos anos 30 que foram modernizados entre 1947 e 1950, transportando diariamente milhares de pessoas. Em Lisboa, nos anos 90 – quando ainda não se sonhava com o boom do turismo, nem na popularidade que os velhos “amarelos” viriam a ter junto dos visitantes –, a Carris demoliu dezenas de eléctricos antigos articulados com o argumento de que eram demasiado velhos.

O transporte dos eléctricos para Miraflores (que não tem linhas de acesso) é realizado durante a noite por pesados camiões que rebocam zorras que suportam aqueles veículos.

O regresso destes eléctricos aos carris da Carris está agora dependente da ampliação de instalações de Santo Amaro para as quais, de momento, ainda só há um projecto a ser desenhado e nenhuma obra iniciada.

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