Ao fim de 17 meses de perdas, salário médio voltou a subir mais que a inflação

Com a ajuda do abrandamento dos preços, a queda do salário médio real em Portugal foi interrompida em Junho. Mas a perda de poder de compra sentida ao longo desta crise ainda não foi compensada.

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Depois dos máximos de finais de 2022, inflação está a abrandar este ano Nelson Garrido
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Depois de 17 meses consecutivos de perdas, o salário médio dos trabalhadores portugueses voltou a registar, no segundo trimestre deste ano, uma variação homóloga em termos reais positiva. Uma subida face ao ano passado que não chega ainda para compensar as perdas de poder de compra registadas nos meses anteriores.

Os dados relativos às remunerações publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) obtidos através das contribuições para a Segurança Social e para a Caixa Geral de Aposentações de 4,6 milhões de trabalhadores – revelam que a tendência dos últimos meses de aceleração do salário médio em termo nominais acompanhada do abrandamento da taxa de inflação conduziu a que, no segundo trimestre deste ano, o salário médio bruto real dos portugueses (isto é, o valor do seu salário descontado o efeito da subida dos preços) passasse a registar uma subida face aos mesmos meses do ano passado. Isto é, os salários médios nominais voltaram a registar uma subida ao longo do último ano superior à taxa de inflação, interrompendo a tendência de perda de poder de compra que se vinha registando desde meados de 2021.

No trimestre terminado em Junho deste ano, revela o INE, a remuneração média bruta real foi 2,4% superior ao valor registado em Junho do ano passado. Isto acontece num cenário em que a remuneração média em termos nominais (de 1539 euros) registou uma variação anual de 6,7% no segundo trimestre, ao passo que a inflação homóloga foi caindo ao longo da primeira metade deste ano, chegando aos 3,4% em Junho (e tendo descido entretanto para os 3,1% em Julho).

Estes ganhos no salário médio em termos reais que se verificaram no primeiro trimestre não são, contudo, ainda suficientes para compensar as fortes perdas de poder de compra que ocorreram sobretudo ao longo do ano de 2022, uma altura em que a inflação atingiu níveis muito mais altos, superando mesmo os 10%, e em que a subida dos salários em termos nominais era bastante mais moderada, abaixo dos 4%.

Olhando para os números do INE é possível verificar que a variação homóloga do salário médio bruto em termos reais foi negativa em Portugal ao longo de 17 meses seguidos, entre o último trimestre de 2021 e o trimestre acabado em Abril deste ano.

Esta perda de poder de compra não compensada é evidente no facto de o salário médio bruto real registado no segundo trimestre deste ano ser ainda inferior, em 2,2%, ao registado há dois anos, no segundo trimestre de 2021.

A evolução dos salários médios é também bastante diferente consoante o sector de actividade que se está a analisar, havendo ainda áreas do mercado de trabalho em Portugal em que se continuam a acumular perdas de poder de compra.

Assim, no segundo trimestre, a remuneração média bruta continuou a cair em termos reais no sector da “Electricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio”, com uma perda homóloga de 4,3%, no sector da “Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca”, diminuindo 1,2%, e no sector das “Actividades financeiras e de seguros”, onde se registou uma descida de 0,7%.

No sentido oposto, as maiores subidas do salário médio real face ao ano passado ocorreram na “Administração Pública e Defesa; Segurança Social Obrigatória” e nas “Actividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais”, com aumentos de 4,7%, seguindo-se as “Actividades de consultoria, científica, técnicas e similares” e o “Alojamento, restauração e similares”, ambos com subidas de 4,2%.

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