Bienal de Istambul rejeita curadora proposta pelo comité consultivo
Fundação que gere a bienal nomeou Iwona Blazwick para comissariar a edição de 2024, ignorando a escolha unânime dos especialistas, que tinham recomendado Defne Ayas.
A Fundação de Istambul para a Cultura e as Artes (IKVS, na sigla turca) nomeou a curadora Iwona Blazwick para comissariar a edição de 2024 da Bienal de Istambul, rejeitando o nome de Defne Ayas, uma curadora turca radicada em Berlim, que tinha sido recomendada por unanimidade pelo painel de especialistas que aconselha aquela que é a maior exposição de arte contemporânea promovida na Turquia, noticiou esta quinta-feira o jornal The Art Newspaper.
A escolha da IKCS, que gere a Bienal de Istambul, torna-se ainda mais controversa pelo facto de Blazwick ter integrado o comité de peritos que a fundação incumbiu de escolher um curador para dirigir a 18.ª edição do evento, que abrirá em Setembro do próximo ano.
Iwona Blazwick dirigiu durante vinte anos a Whitechapel Gallery, em Londres, que deixou em Abril do ano passado, e preside actualmente à Comissão Real do Painel de Especialistas em Arte Pública de AlUla, na Arábia Saudita. A sua nomeação para a Bienal de Istambul provocou já a demissão de três dos cinco elementos do comité consultivo, do qual a própria Blazwick também já se demitiu, segundo adianta o Art Newspaper, citando a IKVS.
No final de Janeiro, o painel de especialistas reuniu-se para avaliar as propostas que quatro candidatos finalistas tinham apresentado para a próxima edição da Bienal de Istambul, que é patrocinada pelo Koç Holding, o maior conglomerado industrial da Turquia. Um dos nomes na short list era o de Defne Ayas, cuja experiência em organizar grandes exposições internacionais inclui a curadoria da Trienal Báltica, na Lituânia, em 2012, da Bienal de Moscovo, em 2015, e da Bienal de Gwangju, na Coreia do Sul, em 2021, esta em colaboração com Natasha Ginwala.
Iwona Blazwick e os seus parceiros de painel seleccionaram Ayas por unanimidade, mas a IKVS rejeitou a recomendação. Segundo o The Art Newspaper, a decisão está a ser criticada e existe a convicção de que Ayas terá sido considerada uma escolha demasiado arriscada. A curadora comissariou em 2015 uma exposição do artista turco Sarkis (que também integrou o painel de especialistas nomeado pela IKVS) para o pavilhão turco da Bienal de Veneza, e incluiu no catálogo da mostra um texto de Rakel Dink, viúva do jornalista turco-arménio Hrant Dink, assassinado em 2007 em Istambul, que fazia uma referência ao “genocídio arménio” perpetrado pelo império turco-otomano. Já sob a presidência de Erdogan, o Governo turco, que não reconhece o genocídio, ordenou a retirada do catálogo, cujos exemplares sobejantes foram metidos por Sarkis num caixão, que cobriu de vidro colorido e transformou numa escultura.
O Art Newspaper contactou a IKSV, que se recusou apresentar motivos para a recusa de Ayas, bem como a esclarecer se Blazwick ainda integrava o painel de especialistas quando foi escolhida – o que constituiria um óbvio conflito de interesses –, ou mesmo se esta, que participou no referido painel em quatro edições consecutivas da Bienal de Istambul, tinha apresentado, a exemplo do que fizeram os restantes candidatos, uma proposta curatorial para esta 18.ª edição.
Agustin Pérez Rubio, um curador independente radicado em Espanha, Selen Ansen, um historiador de arte e curador de Istambul, e o já referido Sarkis demitiram-se do painel quando foram informados da decisão da fundação, que está também a gerar fortes críticas de curadores e artistas turcos nas redes sociais. Dado que Blazwick também deixou o comité de especialistas, este estará agora reduzido a Yuko Hasegawa, director do Museu de Arte Contemporânea do Século XXI, em Kanazawa, no Japão.
A própria Defne Ayas já reagiu, agradecendo aos elementos do comité consultivo e afirmando que “foi uma honra” ter sido “considerada” para o lugar. “Teria tido muito orgulho em comissariar a próxima edição, mas não guardo mágoa e desejo o sucesso da Bienal”, disse ainda Ayas, deixando uma recomendação: “Espero que, no futuro, o processo de nomeação e selecção seja totalmente transparente, e mais consonante com o legado da Bienal de Istambul, que é um dos mais proeminentes eventos culturais no mundo da arte”.