Um abutre-preto (Aegypius monachus) será reintroduzido ao seu habitat pelo Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS) do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes (UTAD) e Alto Douro. Esta acção terá lugar no concelho de Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança, nesta quinta-feira, 10 de Agosto. A ave é classificada como espécie “criticamente em perigo” em Portugal.
Após ter sido admitida no CRAS em Outubro, esta ave de rapina passou por uma cirurgia ortopédica — devido a uma asa fracturada, resultante de um disparo enquanto voava sobre o Parque Nacional da Peneda-Gerês — e tratamento de suporte.
“Depois de ossificada a fractura, iniciou um processo de fisioterapia e de reabilitação motora, até recuperar a forma física. Nesta última fase, esteve num túnel de voo com outros abutres para socializar e poder demonstrar os comportamentos sociais típicos da espécie”, relata Filipe Silva, director do Hospital Veterinário da UTAD, em comunicado.
Segundo os especialistas em avifauna do CRAS, o abutre preto é a maior ave que ocorre em território nacional. A libertação desta ave necrófaga acontecerá a partir do meio-dia, de quinta-feira, no miradouro do Carrascalinho situado em Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, em pleno Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), no distrito de Bragança.
O momento é acompanhado por membros do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), da Palombar — Associação de Conservação da Natureza e Património Rural, do Centro de Interpretação Ambiental e Recuperação Animal (CIARA), por vigilantes da Natureza do PNDI e por quem quiser assistir.
O abutre-preto pode atingir os três metros de envergadura e nidifica quase exclusivamente em árvores (ocasionalmente, pode nidificar em penhascos). Trata-se de uma espécie monogâmica, necrófaga e não migratória, mas os indivíduos juvenis realizam frequentemente movimentos de dispersão.
No início de Novembro de 2022 foi apresentado em Freixo de espada à Cinta o projecto "LIFE Aegypius return — expansão da população de abutre-negro", que pretende duplicar de 40 para 80 o número de casais desta espécie, nos próximos cinco anos, no interior raiano. O abutre-negro é uma das quatro espécies de abutre europeias, a qual chegou a estar extinta como espécie nidificante em Portugal nos anos 70 e 80 do século passado.
Em 2010 o abutre-preto voltou a nidificar em Portugal, no Parque Natural do Tejo Internacional. Já em 2012, registou-se o primeiro casal nidificante no Parque Natural do Douro Internacional e, em 2019, o segundo.
Até 2022, cerca de 40 ninhos eram conhecidos nas quatro colónias de abutres-pretos em Portugal, sendo a maior no Parque Natural do Tejo Internacional. Esse aumento na contagem de ninhos resulta do trabalho conjunto da Rewilding Portugal, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e de outras entidades.
Medidas como a criação de campos de alimentação e a promoção de populações de ungulados para fornecer alimento contribuíram para esses avanços na conservação da espécie. No entanto, apesar dos esforços, a ameaça persiste devido à redução do habitat, envenenamento e impacto humano.
No primeiro semestre deste ano, oito ninhos de abutres-pretos com crias foram descobertos na Serra da Malcata representa um passo significativo para a preservação desta espécie ameaçada em Portugal.