À procura de analgésicos potentes alternativos aos opioides

Os opioides causam uma grande dependência, a que está associada uma elevada tendência para desenvolver tolerância. Como podemos então ajudar as pessoas com dores crónicas fortes?

Foto
Representação de uma família de proteínas, as ASIC: se forem bloqueadas, levam à produção de efeitos analgésicos potentes DR
Ouça este artigo
00:00
02:41

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Sabia que mais de um terço da população adulta em Portugal sofre de dor crónica? Isto significa que é muito provável que você, ou alguém da sua família próxima, passe por isso mesmo. Se esse for o seu caso, possivelmente também está ciente de que existe uma classe de medicamentos comummente prescrita para tratar estes sintomas: os analgésicos.

Estes medicamentos, pelo seu efeito incrivelmente positivo que a maioria de nós já experimentou em momentos difíceis (quem nunca tomou uma aspirina para aliviar a dor?), acabam por se tornar companheiros indispensáveis para muita gente. No entanto, a tolerância que se desenvolve com o seu uso contínuo e ininterrupto significa que, para atenuar a dor com a mesma eficácia, vai sendo preciso tomar doses cada vez maiores. Ou então, é preciso recorrer a analgésicos mais fortes, e aí surge um problema ainda maior.
Atualmente são poucos os analgésicos disponíveis para ajudar as pessoas que sofrem de dores moderadas a severas e a maioria deles são opioides. Já quase todos nós ouvimos este nome, mas o que de facto são os opioides? Não são, nada mais nada menos, do que uma classe de compostos químicos que produzem efeitos farmacológicos semelhantes ao do ópio (uma substância obtida das papoilas).

Foto
Representação de uma família de proteínas: as ASIC DR

Mas há um grande problema com os opioides. Eles causam uma grande dependência, a que está associada uma elevada tendência para desenvolver tolerância. Então, como podemos ajudar as pessoas com dores crónicas fortes?

O ideal seria encontrar medicamentos que produzissem um efeito analgésico tão potente quanto os opioides, mas sem os problemas a estes associados. E é disso mesmo que andamos à procura. No grupo de Miguel Machuqueiro, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, utilizamos computadores para estudar as entidades mais pequenas da vida: como as proteínas. Nós suspeitamos de que existe uma família de proteínas, as ASIC, que, se forem bloqueadas, levam à produção de efeitos analgésicos potentes.

Foto
O investigador João Sequeira DR

Assim, estamos a estudar detalhadamente o modo de funcionamento destas proteínas de modo a torná-las um alvo para a descoberta de novos fármacos capazes de produzir os desejados efeitos analgésicos e, preferencialmente, sem os problemas associados às alternativas atuais.

Para compreender como funcionam as ASIC, são necessários métodos computacionais avançados, que estamos atualmente a desenvolver em colaboração com a Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Deste modo, com este estudo, estamos cada vez mais perto de encontrar alternativas aos analgésicos opioides. Caso tenha ficado interessado nesta linha de investigação (e em conhecer o que mais fazemos no grupo), sinta-se à vontade para entrar em contacto connosco.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Aluno de doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Sugerir correcção
Comentar