Seca: pêra-rocha com metade da produção (outra vez)

Pelo segundo ano consecutivo, a produção de pêra-rocha pode ficar reduzida a metade do que num ano normal devido à seca e às alterações climáticas. “Os últimos dias quentes” trouxeram quebras de 20%.

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A pêra-rocha do Oeste possui Denominação de Origem Protegida, um reconhecimento da qualidade do fruto português por parte da União Europeia Rui Gaudencio

A produção de pêra-rocha deste ano, cuja colheita começa dentro de duas semanas, poderá ser, pelo segundo ano consecutivo, metade do que num ano normal devido à seca e às alterações climáticas, estimou esta quarta-feira a associação do sector.

"Podemos estar a falar de uma produção abaixo das 100 mil toneladas, o que é dramático para a produção e coloca em causa a viabilidade económica da fileira", afirmou Filipe Ribeiro, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Pêra Rocha (ANP), que representa o sector.

Apesar de as previsões iniciais para a colheita serem de uma produção acima da anterior, "os últimos dias quentes" trouxeram quebras de 20%, deixando a produção aquém da anterior.

Em qualquer dos cenários, apontou a associação, seria sempre uma produção "baixa", com "menos de metade da produção face a um ano normal", com 200 mil toneladas de fruta colhidas.

A culpa do clima

"O clima contribuiu muito para o problema. Tivemos meses muito chuvosos, depois temperaturas amenas no inverno, o que não é muito bom para a fruta, no período da floração, tivemos calor excessivo e agora no fim da produção falta de água e temperaturas anormalmente altas, o que se traduziu num crescimento aquém e num reduzido número de frutos", justificou o dirigente.

"Nesta fase final, não temos água disponível por falta de infra-estruturas de regadio, o que é importantíssimo para o crescimento dos frutos", acrescentou, alertando que é uma prioridade executar o "Projecto Tejo", com a criação de infra-estruturas de transporte e retenção para o aproveitamento agrícola da água do rio Tejo.

As temperaturas altas dos últimos dias provocaram escaldão na fruta, agravando as quebras em 20% com fruta "sem aproveitamento comercial".

Na campanha de 2022/2023, que agora termina, foram colhidas 123 mil toneladas de fruta e facturados cerca de 123 milhões de euros que, ainda assim, voltaram a resultar em prejuízo para o sector. "Não conseguimos compensar em valor a quebra de produção, porque temos custos que não conseguimos reflectir no preço de venda do produto", explicou Filipe Ribeiro.

Nos últimos anos, mais de metade da produção foi exportada. Brasil, Reino Unido, Marrocos, França e Alemanha continuam a ser os cinco principais mercados de destino desta fruta.

A ANP possui cinco mil produtores associados, com uma área de produção de 11 mil hectares.

Produzida (99%) nos concelhos entre Mafra e Leiria, sendo os de maior produção os do Cadaval e Bombarral, a pêra-rocha do Oeste possui Denominação de Origem Protegida, um reconhecimento da qualidade do fruto português por parte da União Europeia.