O efeito nocivo do sol na pele não é novidade: pode provocar escaldões quando se apanha sol em excesso e, a longo prazo, cancro da pele. Contra isso, a melhor coisa a fazer é evitar o sol entre as 11h e as 17h, o pico de radiação de raios ultravioleta (UV), e aplicar protector solar. Mas para quem já associou a exposição solar ao estranho aparecimento de erupções cutâneas, bolhas e vermelhidão, comichão incluída, pode estar em causa outra patologia: a fotodermatose, o termo médico para a alergia à luz do sol.
A fotodermatose “é uma reacção cutânea adversa desencadeada pela exposição à luz solar ou luz UV”, explica a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), num conjunto de informações que forneceu ao PÚBLICO. “A causa exacta da alergia à luz solar não é totalmente compreendida, mas acredita-se que seja uma resposta imunológica anormal à radiação UV presente na luz solar”, segundo a SPDV.
“A forma mais frequente de fotodermatose idiopática (causa desconhecida) é a erupção polimorfa à luz”, adianta a SPDV. Este tipo de reacção alérgica pode surgir principalmente após períodos longos sem exposição solar. É por isso que, em vários casos, a pele de partes do corpo que está regularmente exposta – como a da face e a das costas das mãos – não desenvolve a reacção alérgica, de acordo com um artigo no site da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos. E a pele que fica, de repente, descoberta ao sol acaba por desenvolver a reacção.
De alguma forma, o sistema imunitário reconhece algo de diferente na pele que esteve exposta ao sol e se alterou, e tem uma resposta agressiva a esta pele activando as suas defesas imunitárias, adianta o site de educação para a saúde do consumidor da Escola Médica de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos. Apesar de a reacção surgir normalmente na área que esteve exposta, por vezes pode alastrar-se para regiões da pele que não apanharam sol.
De qualquer forma, o resultado são sintomas que podem passar por “vermelhidão, comichão, erupções cutâneas, bolhas ou pequenas pápulas na área exposta à luz solar”, de acordo com a SPDV. Há casos, que são raros, em que os efeitos podem ser mais graves, e a reacção alérgica provocar náuseas, dor de cabeça e até a anafilaxia – que pode baixar a tensão arterial, dificultar a respiração, impedir a pessoa afectada de engolir e ser potencialmente fatal.
Riscos e formas de evitar
A gravidade da reacção alérgica pode depender da intensidade de raios UV que a pessoa recebe. “Pessoas que vivem em áreas com maior incidência de luz solar ou que se expõem a altos níveis de radiação UV podem ter reacções mais intensas”, atesta a SPDV. Por outro lado, a frequência com que as pessoas apanham sol pode ter efeitos diferentes consoante o caso. Há pessoas em que a alergia vai piorando à medida que os dias de exposição solar se vão acumulando. Mas há outras pessoas em que a pele vai ganhando uma habituação e a alergia diminui ao longo dos dias. Isto tende a explicar porque é que a pele que está sempre exposta não sofre uma reacção alérgica.
Pode ainda haver um outro factor: as substâncias que se aplicam na pele, como os protectores solares. “Algumas pessoas podem desenvolver uma reacção alérgica à luz solar quando certas substâncias são aplicadas na pele. Essas substâncias podem estar presentes na composição de protectores solares ou outros produtos como perfumes e cosméticos”, explica a SPDV. Neste caso, será necessário fazer testes para identificar a substância em causa.
Junta-se, a tudo isto, o factor hereditário. “Há evidências de que existe um componente hereditário em alguns casos”, informa a entidade portuguesa. Apesar de qualquer pessoa poder desenvolver uma reacção alérgica ao sol, quem tem familiares com este problema tem maior probabilidade de vir a sofrer esta patologia.
A melhor forma de minimizar os efeitos da alergia é ter os cuidados normais em relação ao sol: evitar a exposição solar durante as piores horas dos raios UV, entre as 11h e as 17h, usar roupa, incluindo chapéu e óculos de sol, e recorrer ao protector solar. No caso de se desenvolver a alergia, o tratamento tem como objectivo o alívio dos sintomas, recorrendo-se a corticosteróides tópicos e anti-histamínicos orais. “Estes doentes devem ser avaliados em consulta de dermatologia para confirmação diagnóstica e exclusão de doenças graves que também provocam reacções cutâneas após a exposição solar”, adianta a SPDV.