A imprescindível transição energética

A sustentabilidade deve ser garantida em toda a cadeia de produção de um determinado recurso, incluindo as fases de implementação no terreno.

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Comecemos pelo que é atualmente aceite na comunidade científica que estuda os fenómenos climáticos globais. A crise climática é real, atingir os objetivos assinados na Conferência das Partes (COP) em Paris, e nas seguintes, parece estar cada vez mais longe.

Manter o rumo atual irá muito provavelmente resultar no cenário mais pessimista sobre o aumento da temperatura média da Terra e a consequente destruição da biodiversidade do planeta. Hipotecaremos o futuro das próximas gerações e aos poucos migraremos todos para os polos, deixando grande parte do planeta inabitada.

Apesar de não ser exclusivo, o combate à crise climática passa por alterar profundamente a atual matriz energética global e acelerar a transição energética. Um novo paradigma em que a energia deixa de ser produzida através da utilização de combustíveis fósseis e passa a ser suportada maioritariamente, ou exclusivamente, por fontes renováveis. Esta transição é, no entanto, multidimensional e global, e se a sua implementação considerar apenas critérios unidimensionais tem o potencial de criar novos problemas substituindo os antigos.

Tenho escrito sobre a necessidade de assegurar grandes quantidades de recursos minerais e de matérias-primas críticas que são necessárias à tecnologia associada à produção de energia renovável, por exemplo a eólica e solar. Uma posição também assumida pela União Europeia através do Critical Raw Materials Act. Também tenho escrito sobre a necessidade de que estas matérias-primas sejam exploradas e produzidas de forma sustentável, quer ambiental quer social, em toda a sua cadeia de fornecimento. Que existem técnicas complementares para a diminuição do dióxido de carbono na atmosfera, como por exemplo o geoarmazenamento de dióxido de carbono em formações geológicas com características específicas que existem no subsolo. A tecnologia de geoarmazenamento existe e os projetos-piloto em curso em diversas regiões do globo, nomeadamente no setor norueguês do mar do Norte, comprovam, para já, a sua viabilidade.

A notícia do Azul sobre o despacho assinado pelo ministro do Ambiente e Ação Climática para o abate de 1821 sobreiros no Alentejo para que seja possível a instalação de um parque eólico de grandes dimensões pela EDP Renováveis revela a complexidade inerente à transição energética. O uso do solo para a instalação de infraestruturas de grande escala em detrimento do uso do solo para agricultura ou da proteção da biodiversidade local, e com o abate de património ambiental, tem custos que têm de ser obrigatoriamente considerados na equação.

A sustentabilidade não se pode reduzir à utilização ou não de combustíveis fósseis ou a uma discussão sobre a quantidade de gases de efeito de estufa emitidos numa determinada operação. A sustentabilidade deve ser garantida em toda a cadeia de produção de um determinado recurso, incluindo as fases de implementação no terreno.

Embarcar numa visão maniqueísta e monolítica do problema levar-nos-á de forma semelhante a uma condição de insustentabilidade. Uma visão holística do problema deve considerar e avaliar o potencial das fontes de energia de transição, como o gás natural e a energia geotérmica, ou do nuclear como opções viáveis a uma transição energética, rápida e sustentável.

Se ninguém se opõe ao escrutínio sobre a abertura de novas zonas de exploração de recursos minerais e de matérias-primas críticas, essenciais à transição energética, estes megaprojetos devem ser igualmente avaliados, ponderados e o seu impacte calculado. Imprescindível é garantir o futuro.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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