Olhar alguém de cima para baixo, “só é lícito se for para ajudar a pessoa a levantar-se”

Líder católico apontou os perigos das emoções instantâneas durante a vigília no Parque Tejo. “Quanto treino há por detrás dum golo”, enfatizou, num elogio à “constância da caminhada”.

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Papa discursa durante a vigília Nuno Ferreira Santos
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“A vida exige ser doada, não administrada; pede para sair da dependência do virtual, do mundo hipnótico das redes sociais que anestesia a alma”, considerou o Papa Francisco, no seu discurso durante a vigília com os jovens no Parque Tejo. No final de um dia de forte calor a ameaçar desidratação, o líder da Igreja Católica voltou a eleger o mundo virtual como inimigo a erradicar. “Jovens, não sejais profissionais da digitação compulsiva, mas criadores de novidade!”, apelou, desafiando-os a deixarem-se guiar por “uma sinfonia de gratuitidade num mundo que vive de lucros”.

Tal como em vezes anteriores, Francisco preferiu improvisar, embora sempre fiel nas ideias ao discurso escrito que tinha entre mãos. "A alegria não está encerrada na biblioteca, mas noutro lado. Não está guardada sob chaves; a alegria há que descobri-la no nosso diálogo com os demais, e isso as vezes cansa", disse, num discurso recheado de interpelações directas às cerca de um milhão e meio de pessoas que o foram ver e ouvir. "Os alpinistas que gostam de subir montanhas costumam dizer que o que importa não é não cair, mas não permanecer caído. Que coisa linda! O que permanece caído reformou-se da vida", acrescentou, para, mais adiante, vincar que "o único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para a ajudar a levantar-se".

Numa cerimónia marcada pela actuação da fadista Carminho, o discurso do Papa lembrou aos jovens que "a precariedade que se respira não pode ser desculpa para ficarmos parados”. Afinal, enfatizou: “Não estamos no mundo para fazer servir os nossos interesses, mas para nos desinquietarmos indo ao encontro de quem precisa de nós.”

Retomando os apelos anteriores, Francisco deixou vincada a ideia de que os jovens têm de se manter ligados. No mundo real, diga-se. “Não vos isoleis, procurai os outros, fazei juntos a experiência de Deus, caminhai em grupo sem vos cansardes. Entretanto, poderias dizer-me: ‘Mas ao meu redor cada qual segue a sua estrada com o seu telemóvel, seguem as séries televisivas, estão presos às redes sociais e aos videojogos…’. E tu vai contracorrente, sem medo (…). Apaga a TV e abre o Evangelho, deixa o telemóvel e encontra as pessoas”, invectivou o jesuíta no discurso que distribuiu aos jornalistas, mas que, mais uma vez, ficou parcialmente por dizer.

Contra as emoções instantâneas, o líder católico apontou as virtudes da constância e da resiliência. “É preciso aprender a importância do caminho. Esta exige um ritmo cadenciado, regular, enquanto hoje se vive de emoções rápidas, sensações momentâneas, instintos que duram instantes. Não!”, discursou, para lembrar aos presentes que “os campeões desportivos, assim como os músicos e os cientistas, mostram que as grandes metas não se alcançam num átimo”.

“Quanto treino há por detrás dum golo, quanto trabalho por trás duma canção que nos deixa emocionados, quanto estudo por trás de uma descoberta importante”, enfatizou, apontando o risco de deixar a vida ser comandada pela improvisação e pela preguiça do momento. Quase em jeito de despedida, deixou a frase: "Na vida, nada é grátis tudo se paga. Só há uma coisa grátis: o amor de Jesus."

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