No dia — ou na noite — em que o Aquário da ZDB passe a dispor de um sistema de ar condicionado em condições, vamos todos sentir saudades dos concertos quentes e suados que ali tiveram lugar. Funcionamos assim: primeiro, queixamo-nos; mais tarde, acostumamo-nos à mudança; e, no fim, entregamo-nos à nostalgia que associamos a episódios, neste caso musicais, do passado. Porém, se esse dia — ou noite — chegarem, vamos estar bem mais descansados e frescos — e igualmente contentes.
Contentes porque continuaremos a estar a escassos metros de algumas das nossas bandas preferidas, compostas quase sempre por miúdos inventivos que, pegando em instrumentos, dão cor à nossa vida e justificam o número de horas que gastamos a escutá-los durante viagens de comboio, jornadas de trabalho, passeios a pé ou voltas de carro.
O Aquário da ZDB não é propriamente uma peça fundamental neste processo, claro. A cidade apresenta diversos problemas estruturais, mas o que nela não falta são palcos que convocam figuras mais ou menos importantes dos circuitos alternativos; o do Aquário é só mais um, na verdade.
Foi na ZDB que vi, há poucas semanas, uma das bandas mais importantes da minha vida — fiz força com a mão direita, porque não me quis enterrar, escrevendo a minha banda preferida, pois é bastante provável que, daqui a três ou quatro dias, tenha outra (ou escreva sobre outra).
Não sei precisar as razões que estabelecem esta importância, mas julgo que essas têm que ver com o facto de a música deste grupo me fazer lembrar, não ignorando as suas diferenças bem evidentes, a obra de Penguin Café Orchestra. Enfim, é uma opinião. A circunstância de esta banda ser constituída por kids da minha idade também faz com que tenha estabelecido uma relação especial com o projecto: numa outra vida, num outro país, num outro tempo, podíamos ter sido amigos, parece-me.
Nesta vida, neste país e neste tempo, não o somos. Eu não sou mais do que um simples fã que, à semelhança de tantos outros, está a suar como um louco desidratado, no Aquário da ZDB, que sabe sempre como preparar surpresas memoráveis — e alcançáveis apenas por aqueles que, por sorte, estão a fazer scroll no momento certo, pois só esses foram a tempo do concerto, tipo pop-up, dos Black Country, New Road.