Emoção Artificial de Jorge Gomes Miranda. Um robô manda um postal para casa
Poesia ou divulgação científica? Ambas, se da poesia tivermos um entendimento amplo e se a concebermos como auscultação da natureza humana.
Em finais dos anos de 1970, o poeta e crítico Craig Raine dava a conhecer o seu A Martian Sends a Postcard Home (outro poeta-crítico, James Fenton, viria a cunhar o termo “Martian Poets”, mas essa é outra história). O poema, na sua tonalidade desafectada, no afastamento pressuposto, engendrava a visão da humanidade na perspectiva de um extraterrestre. Em Emoção Artificial, poderíamos dizer que esse ponto de vista gerador de estranheza, alheio à humanidade, mas empenhado em “traduzi-la”, é transposto para a inteligência artificial – sem esquecer que, no título, “inteligência” passa a “emoção”. É certo que Jorge Gomes Miranda inclui, no seu recente livro, uma “Carta escrita por um robot” – “Estava aqui com os meus chips e lembrei-me de te escrever”; no entanto, o paralelismo com os poetas ingleses antes invocados não se pode ancorar na semelhança de processos, mas apenas na polarização, no abandono provisório da perspectiva humana, na aterragem inesperada numa outra natureza, a do robô, ou drone (primeiro momento de Emoção Artificial, de título homónimo), e n’ “o algoritmo” (como se intitula a segunda parte do livro).
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