Podem os pacientes operados a um tumor da próstata ajudar a validar modelos de IA?
Este estudo integra-se num projecto europeu para criar a maior base de imagens de ressonância magnética em cancro da próstata e uma plataforma de inteligência artificial que analise estes dados.
Pacientes com cancro da próstata que são candidatos a cirurgia radical robótica permitem relacionar as caraterísticas de imagem – analisadas recorrendo a inteligência artificial (IA) – com o diagnóstico no tecido biológico. Num futuro próximo, espera-se recorrer a métodos de IA antes de qualquer cirurgia de modo a detetar o tumor precocemente e promover uma medicina personalizada com o tratamento ou vigilância adequados a cada indivíduo com cancro.
A seguir ao cancro do pulmão, o cancro da próstata é o segundo tipo de cancro mais comum no sexo masculino. Um dos principais desafios é prevenir o tratamento em excesso de pacientes diagnosticados com tumores menos agressivos.
A ressonância magnética (RM) é uma técnica de imagem médica não invasiva e isenta de radiação que permite detetar precocemente o cancro.
Apesar da experiência dos médicos radiologistas e da existência de diretrizes, a interpretação das imagens de ressonância magnética está sujeita a variabilidade. Com o aumento da capacidade de processamento dos computadores, do desenvolvimento dos algoritmos e do número de imagens médicas anotadas, a inteligência artificial é promissora quando aplicada a imagem médica.
A área de radiomics [radiómica], que resulta da combinação de radiologia com a análise de grandes quantidades de dados (omics, ou ómica), pretende extrair um conjunto de formulações matemáticas das imagens médicas que não são observáveis “a olho nu” por um radiologista.
Para promover o uso de modelos de inteligência artificial na clínica, a minha tese de doutoramento centra-se na validação biológica de caraterísticas de radiomics com base na informação clínica da peça cirúrgica.
O trabalho de investigação está a ser desenvolvido na Fundação Champalimaud, no grupo de Imagem Clínica Computacional. Após a aquisição de imagens de ressonância magnética da próstata numa população de pacientes operados, são desenvolvidos moldes impressos em 3D específicos de cada paciente. Estes permitem facilitar a correspondência entre os cortes na imagem e os respetivos fragmentos de tecido biológico. As duas modalidades são registadas com base em algoritmos de imagem, que tenho desenvolvido, e as caraterísticas de radiomics são extraídas e correlacionadas com a informação biológica correspondente. Uma das potenciais aplicações é a deteção de lesões invisíveis na ressonância magnética, apenas observáveis através da análise do tecido biológico.
Este estudo é financiado pelo projeto europeu ProCAncer-I, que reúne vários hospitais, institutos de investigação e empresas com o objetivo de criar a maior base de imagens de ressonância magnética na área do cancro da próstata e uma plataforma de IA que analise estes dados. Estamos a desenvolver modelos de IA para dar resposta a questões desde o diagnóstico ao acompanhamento do cancro da próstata.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico
Aluna do doutoramento em engenharia biomédica e biofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, técnica de investigação na Fundação Champalimaud