Câmara de Oeiras manda remover cartaz que lembra abusos sexuais na Igreja

Câmara de Oeiras mandou retirar o outdoor ao início da tarde. Era um dos três cartazes instalados em Loures, Algés e na Alameda depois de uma recolha de fundos.

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Um dos outdoors que lembram as conclusões do relatório da comissão independente sobre os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica foi removido, no início da tarde desta quarta-feira, pela Câmara Municipal de Oeiras. Durante a madrugada, três cartazes foram instalados em Loures, Algés e na Alameda, em Lisboa, depois de uma recolha de fundos online organizada por uma iniciativa cidadã. Telma Tavares, designer e autora do cartaz, confirma que foi retirado o outdoor em Algés, Oeiras, onde se lia, em inglês: "Mais de 4800 crianças" foram abusadas por elementos da igreja.

"No município de Oeiras toda a publicidade ilegal é retirada, neste e em todos os casos", respondeu ao P3 o gabinete de comunicação da autarquia liderada por Isaltino Morais. A câmara não esclareceu se comunicou a remoção do cartaz à empresa que o instalou, mas confirmou não ter recebido nenhum pedido de licença e remeteu mais questões sobre as regras de outdoors para o departamento de urbanismo.

O suporte publicitário onde foi colocada a lona com "a mensagem política e não publicitária" não foi removido e, segundo o que a empresa que instalou o outdoor disse a Telma Tavares, tem licença municipal. A câmara disse ao P3 que "o suporte também vai ser removido".

Nos cartazes com as cores da JMJ – vermelho, verde e amarelo –, cada ponto vermelho representa uma pessoa vítima de abusos sexuais cometidos por clérigos. A mensagem está em inglês para que todos os peregrinos a consigam perceber, justificou Telma Tavares, acrescentando que colocar informação verídica “e de forma ordeira na via pública” não pode ser confundido com vandalismo e acusando a câmara de "censura". Em conjunto com os nossos advogados, estamos a analisar o recurso à via judicial para reagir a esta injustiça, de forma a compensar, dentro do possível, esta forma de censura ilegal por parte da Câmara de Oeiras”, disseram os membros do This Is Our Memorial ("este é o nosso memorial", em português). “Temos o direito de expor o cartaz e iremos lutar por esse direito.​

Apesar do esforço para alertar para a situação, os promotores da iniciativa lembram que "nada poderá reparar a experiência e a vida" das vítimas. Por isso, reforçam, assumem a missão de "denunciar o silêncio ensurdecedor". No site do This Is Our Memorial também são disponibilizados os contactos de várias associações de apoio a vítimas de abuso sexual.

“Acho que há aqui muita gente que, tal como nós, está revoltada por não ter acontecido justiça. Parece que os membros da igreja são intocáveis. Queremos lembrar que estas vítimas existem, que não tiveram indemnizações, não tiveram um memorial, o que é extremamente injusto, e estamos a fazer isto por elas”, conclui Telma Tavares.

A designer reforça que os cartazes são mensagens políticas e, como tal, não precisam de licença. Mesmo assim, e como o grupo receava que fossem removidos, contactaram apenas a autarquia de Lisboa no dia 31 de Julho a fim de pedir autorização, mas a resposta continua pendente. A par disto, preencheram questionários de licenças online que “não estavam preparados para pedidos particulares”, comenta.

“De momento, nem a PSP nem o Sistema de Segurança Interna têm informação para comentar esse assunto”, disse Artur Querido, porta-voz do Sistema de Segurança Interna, depois de ter sido questionado pela Reuters numa conferência de imprensa.

Oeiras instalou cinco ecrãs gigantes para transmitir a visita do Papa Francisco a Portugal, entre 4 e 6 de Agosto, lê-se no site da câmara.

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