Xi Jinping leva a cabo purga no comando de importante força militar chinesa

Mudança repentina na Força de Rockets do Exército de Libertação do Povo é considerada surpreendente e pode ter consequências nos planos da China em relação a Taiwan.

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Delegação da Força de Rockets do Exército Popular da China nas reuniões preliminares para o Congresso Nacional do Povo em 2019 Jason Lee/REUTERS
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Dois dos mais importantes generais chineses foram substituídos sem grandes explicações, na maior mudança da liderança militar do país da última década, diz o diário britânico The Guardian, acrescentando que se trata de um sinal do empenho do líder da República Popular da China, Xi Jinping, em ter um controlo mais apertado sobre as forças armadas chinesas.

O diário norte-americano The Washington Post diz que a nomeação, no início da semana, de dois novos responsáveis para a Força de Rockets do Exército de Libertação do Povo Chinês, que controla o arsenal de mísseis convencionais e nucleares chineses, marca a maior purga recente no Exército.

Os dois novos responsáveis da força, que foi criada em 2016 e que é uma das divisões militares mais importantes da China, vêm de fora – Wang Houbin, da Marinha, e Xu Xisheng, da Força Aérea, ocuparão o cargo de comandante e comissário político, um cargo equivalente ao de comandante militar, explica o diário britânico.

A nomeação de dois generais que não passaram pela força que vão comandar é outro aspecto surpreendente da mudança. Joel Wuthnow, investigador da National Defense University, em Washington, D.C., descreve a mudança como “extraordinária”, já que o ramo mais sensível do exército ter uma substituição destas, “de pessoas sem qualquer experiência de serviço” na força, “não tem precedentes”, cita o Washington Post.

E, mais, pode ter influência nos planos para qualquer conflito com Taiwan, caso a China decidisse avançar para uma anexação recorrendo à força militar. “Se não se tem confiança nos líderes de uma força destas, tão central para uma campanha em Taiwan, isso teria uma grande influência numa decisão sobre entrar em guerra”, afirmou o analista.

A força tem a seu cargo, sublinha o New York Times, um dos maiores e mais sofisticados arsenais de mísseis, que são uma ameaça não só para Taiwan, mas para as forças norte-americanas na Ásia. Em 2021, acrescenta o diário, a China lançou 135 mísseis em testes, mais do que o total do resto do mundo.

A mudança no comando aconteceu menos de uma semana do afastamento do ministro dos Negócios Estrangeiros, Qin Gang, que já tinha desaparecido de cena – tal como o comandante da força de rockets, que não era visto em público há vários meses. Tanto no caso do afastamento dos generais como no de Qin, não foram dadas quaisquer explicações, “mas estes desaparecimentos são, muitas vezes, sinais de uma investigação”, diz o Post.

“Quando se soma tudo, é provavelmente uma das maiores purgas” na história da força responsável pelos rockets, declarou Lyle Morris, do Center for China Analysis, do Asia Society Policy Institute, citado pelo Post. “As mudanças são muito raras e foram muito rápidas. Isso diz-nos que se passa alguma coisa.”

“Esta purga é ainda mais significativa”, comentou Morris, desta vez à emissora britânica BBC, “quando a China está a levar a cabo uma das mudanças mais profundas na estratégia nuclear estratégica das últimas décadas”.

Segundo estimativas do Stockholm International Peace Research Institute sobre o número de ogivas nucleares no mundo, o maior aumento de 2022 para este ano ocorreu na China, que passou de 350 ogivas para 410 (a Rússia, com 4400, e os Estados Unidos, com 3700, são os países com mais ogivas nucleares).

Xi tem sublinhado, nos últimos meses, a necessidade de apertar o controlo do Partido Comunista Chinês sobre o Exército. A sua operação anticorrupção também afectou as Forças Armadas, com um responsável da força de rockets, Fang Fenghui, condenado em 2019 a prisão perpétua por corrupção.

“Temos de ver isto como parte de uma campanha anticorrupção muito maior”, em todos os níveis dos poderes, declarou ao Guardian Meia Nouwens, do think tank International Institute for Strategic Studies.

Embora sublinhando que todas as análises a ser feitas neste momento serão necessariamente muito especulativas, Nouwens acrescentou que o facto de os novos responsáveis virem de fora da força poderá sugerir que a acção “é potencialmente uma questão de quebrar clientelismos”.

“A decisão de Xi de fazer uma purga na liderança da Força de Rockets do ELP mostra que mantém controlo do Exército, mas que a sua campanha contra a corrupção que dura há uma década não conseguiu eliminá-la entre os oficiais de altas patentes”, comentou Neil Thomas, especialista em política chinesa do Asia Society, ao Washington Post.

E isto quer dizer, apontou Li Nan, especialista da Universidade Nacional de Singapura, que Xi não tem, ainda, ligações pessoais suficientes que lhe permitam controlar e prevenir abusos dentro das Forças Armadas.

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