EUA perdem mais um dos seus ratings AAA

Fitch seguiu agora o exemplo dado pela Standard & Poor’s em 2011, e baixou o rating dos EUA para AA+. “Tem havido uma deterioração dos padrões de governança nos últimos 20 anos”, diz a agência.

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Acordo para a suspensão do limite da dívida não chegou para evitar corte no rating EPA/Yuri Gripas / POOL

Tal como tinha acontecido há 12 anos com a classificação atribuída pela Standard & Poor’s, os Estados Unidos da América (EUA) perderam esta terça-feira ao fim do dia mais um rating AAA. Desta vez foi a Fitch a retirar a nota máxima ao Tesouro norte-americano, numa decisão fortemente criticada pela Casa Branca e que está, para já, a conduzir a perdas moderadas nos mercados accionistas.

Das três grandes agências de rating internacionais, apenas uma, a Moody’s continua a dar uma classificação máxima, de AAA, aos EUA. A Standard & Poor’s passou a sua classificação para AA+, que é o segundo nível mais alto, em 2011, no rescaldo da crise financeira internacional e, agora, foi a vez de a Fitch fazer o mesmo.

Os ratings atribuídos aos países por estas agências internacionais constituem uma avaliação à probabilidade de quem adquire títulos de dívida de um país acabar por receber o seu dinheiro de volta – isto é, avaliam a capacidade de um Estado cumprir os seus compromissos com os credores. No caso da Fitch, o nível mais alto é AAA e o mais baixo D. A Portugal, neste momento, é atribuído um rating BBB+.

Para a Fitch, no caso dos EUA, a maior economia mundial, o risco de o Estado entrar em incumprimento com os seus credores já não é suficientemente baixo para assegurar um rating AAA para o país.

Apesar de, já desde o início do ano, a agência ter alertado para a possibilidade de tomar uma decisão deste tipo, o anúncio apanhou de surpresa investidores e responsáveis políticos, principalmente porque ocorreu depois de o Congresso ter conseguido chegar, em Junho, a um entendimento em relação à suspensão do limite da dívida, adiando o risco mais imediato de um incumprimento do Tesouro dos EUA.

A Fitch, no entanto, parece não ter ficado impressionada com o acordo entre republicanos e democratas, revelando para além disso uma preocupação com a tendência de aumento do peso da dívida pública americana que se verifica ao longo dos anos. Na nota em que anunciou a decisão, os responsáveis da agência dizem que tem havido uma deterioração dos padrões de governança durante os últimos 20 anos, incluindo em assuntos relacionados com o orçamento e a dívida, mesmo levando em conta o acordo bipartidário para suspender o limite da dívida até Janeiro de 2025”.

A decisão foi recebida com grande insatisfação pela Casa Branca. A porta-voz disse que “descer o rating dos EUA numa altura em que o Presidente Joe Biden garantiu a mais forte recuperação entre as maiores economias do mundo desafia a realidade”.

E a secretária do Tesouro, Janet Yellen, classificou a decisão da Fitch como “arbitrária e baseada em dados desactualizados”.

Nos mercados, a reacção foi de surpresa, com os índices bolsistas na Ásia e na Europa a registarem, na manhã desta quarta-feira, desvalorizações moderadas em torno de 1%, uma perda que foi seguida depois pelos mercados dos EUA logo na abertura, também com recuos entre 0,8% e 1,2%. O dólar também se depreciou face ao euro, mas as taxas de juro da dívida pública, que à primeira vista poderiam ser as mais afectadas, até diminuíram, num fenómeno que pode ser explicado pelo facto de se ter registado uma transferência de investimentos dos mercados accionistas para o refúgio das obrigações.

Apesar de assinalarem o impacto negativo que esta decisão pode ter na imagem dos EUA como porto seguro do investimento, os analistas não prevêem repercussões muito significativas nos mercados a curto e médio prazo. Quando, há 12 anos, a S&P cortou o rating dos EUA, os mercados estabilizaram rapidamente depois de uma reacção imediata moderadamente negativa. É isso que se espera que possa acontecer agora.

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