Uma superfície frontal fria que não só fez descer a temperatura, como trouxe alguma chuva ao Norte e centro e até à região de Lisboa, marcando o dia em que o Papa Francisco chegou a Portugal, para participar na Jornada Mundial da Juventude. Mas as nuvens e tempo mais fresco são de pouca dura: a partir de sexta-feira, uma massa de ar quente vinda do Leste vai acalmar o vento e permitir que as temperaturas (sobretudo as máximas) se elevem para valores bem acima dos 30 graus.
Vem da zona noroeste do Atlântico a superfície frontal fria que marcou o tempo desta quarta-feira, mas já está em dissipação, explica a meteorologista Ângela Lourenço, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “Tem estado a ocorrer precipitação, principalmente no Minho, Douro Litoral, em alguns locais do distrito de Viseu, zonas do distrito de Viseu mais próximas do litoral, distrito de Aveiro. E pode chegar até à região de Lisboa, à faixa costeira, Cascais”, adianta. Até ao fim do dia deverá ter atravessado praticamente todo o território português.
Assim, nesta quinta-feira, a temperatura desce gradualmente, com valores entre 25 e 30 graus na generalidade do país. Mas uma reviravolta meteorológica na sexta-feira trará um “episódio de tempo quente a partir do dia 5, em alguns locais já no dia 4, que se estende até pelo menos terça-feira, 8 de Agosto”, disse ao PÚBLICO Ângela Lourenço. As temperaturas máximas em todo o território oscilarão entre 30 e 40 graus.
“Vamos ter uma subida significativa de temperatura, as pessoas vão notar a diferença em relação aos dias anteriores. Tem potencial de alerta amarelo, ou até laranja em alguns locais. Mas não é uma anomalia: é normal haver períodos em que as temperaturas sobem mais no Verão”, realça a meteorologista. Ainda assim, admite, é provável que sejam emitidos avisos de tempo quente, amarelos ou eventualmente laranjas.
Será uma onda de calor? “As ondas de calor têm de seguir um conjunto de critérios, que só podem ser clarificados a posteriori”, salienta Ângela Lourenço. Uma onda de calor é declarada quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos a temperatura máxima diária é superior em 5 graus Celsius ao valor médio diário no período de referência.
O que fará subir a temperatura é “uma massa de ar que tem um trajecto continental, ou seja, vem do interior de Espanha, e tem eventualmente também uma componente do Norte de África”, explica Ângela Lourenço. Traz ar mais seco e quente, o que vai significar uma subida de temperatura a partir de sexta-feira, sobretudo das máximas.
“Começa pelo Sul e vai-se estendendo para norte. Tanto que no Sul é provável que o dia mais quente seja domingo, e no Norte só na segunda-feira”, acrescenta Ângela Lourenço.
Na região de Lisboa, que acolhe a Jornada Mundial da Juventude, a partir de sexta-feira a temperatura mínima andará por valores entre os 17 e 21 graus, e a máxima entre 29 e 33, na sexta-feira. Mas haverá um aumento das máximas no sábado, quando se esperam valores entre os 34 e os 38 graus. Na região de Fátima, no dia 5, quando o Papa Francisco visita o santuário, as mínimas esperadas são entre 16 e 18 graus, e as máximas entre 33 e 38 graus.
Estarão de volta também as chamadas “noites tropicais”, em que a temperatura não desce abaixo de 20, 22 graus, prevê a meteorologista do IPMA.
Europa refrescou, mas ondas de calor podem regressar
Portugal não sentiu os efeitos da grave onda de calor que afectou o Mediterrâneo em Julho (graças ao anticiclone dos Açores), que teve consequências como os incêndios florestais na Grécia. A Europa, e em particular o Mediterrâneo, vão continuar assolados por temperaturas infernais nos próximos dias? “Neste momento, no resto da Europa há uma grande mudança em relação às últimas três semanas, principalmente a região sul da Europa, o Mediterrâneo. Com o tempo mais fresco, inclusivamente com passagem de superfícies frontais”, avança Ângela Lourenço.
“Temos a depressão Patrícia, que está a afectar as ilhas britânicas esta quarta e quinta-feira, e afecta também França, com o aumento da intensidade do vento, ou seja, temos aqui um padrão de tempo ligeiramente diferente na Europa”, explica. Abriu-se o punho de ferro das ondas de calor. “É óbvio que estamos no Verão, as superfícies frontais terão sempre uma intensidade um bocadinho diferente do Inverno”, explicita.
Mas depois de um mês de Julho que a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o programa europeu de monitorização do clima Copérnico avaliaram como tendo sido, provavelmente, o mais quente desde que há registos, o facto de o calor ter abrandado não quer dizer as ondas de calor não possam voltar. A OMM alertou que pelo menos em algumas zonas do Mediterrâneo é possível que continue a haver episódios extremos de calor em Agosto.
Mar quente
A temperatura da água do mar bateu recordes no Atlântico e no Mediterrâneo, com valores três e quatro graus acima do normal para a época, que se mantiveram durante um período extenso, configurando uma onda de calor marinho, diz uma avaliação feita pela Mercator Ocean International. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que agrupa várias instituições científicas europeias e funciona na prática como o serviço marinho do programa Copérnico.
A previsão desta organização para a primeira semana de Agosto é a de que a onda de calor marinho no Mediterrâneo desapareça gradualmente a partir da costa norte. Mas deve manter-se condições extremas no mar de Alborão (a parte mais ocidental do Mediterrâneo, delimitada a oeste pelo estreito de Gibraltar, que faz a ligação com o Atlântico) e junto à Líbia. No Noroeste do Atlântico, a onda de calor está também a atenuar-se e no Atlântico Norte tropical deverá manter-se estável.
Sobre a temperatura da água do mar junto à costa portuguesa Ângela Lourenço avança que “as temperaturas estão a variar na costa ccidental entre 17 e 18 graus. E na costa sul entre 18 e 20 graus, com valores mais elevados na zona do Sotavento”.
São valores acima do normal? “Na costa ocidental deverá estar ligeiramente acima do normal. A temperatura média na costa sul do Algarve tem uma variação um bocadinho mais significativa, porque os ventos de leste no estreito de Gibraltar provocam episódios de levante, que originam o aumento da temperatura da água do mar”, explica a meteorologista.