Há activistas com cones a pararem os carros sem condutor de São Francisco
Um grupo de ativistas está a pôr cones nos carros autónomos de São Francisco para travar viagens sem condutores. O Safe Street Rebel aponta problemas com segurança, privacidade e questões ambientais.
Conhecido como Safe Street Rebel, um grupo tem protestado desde 2022 contra os veículos autónomos que estão a ser testados em serviços de viagem em São Francisco.
Estes activistas defendem uma cidade com menos carros a circular, e promovem ruas mais seguras para pedestres. O grupo acredita que devem ser encontradas soluções para transportes públicos, ao invés de focar atenções e fundos para encorajar o uso de veículos pessoais, especialmente dos que se conduzem sozinhos.
Começaram a ganhar atenção no TikTok e no Twitter, especialmente pelas instruções de como desactivar os carros autónomos. Os activistas descobriram que ao colocarem um cone de sinalização no capô os veículos entram em modo de pânico e ficam desligados até um operador vir destravá-los em pessoa. A partir daí, começaram a pegar em cones.
Foi no ano passado que as empresas Cruise e Waymo começaram a funcionar, de forma restrita, nas ruas de São Francisco. Actualmente, a Cruise tem permissão para cobrar viagens sem condutores entre as 22h e as 6h da manhã em algumas partes da cidade, mas os carros devem evitar áreas com muita movimentação. A Waymo só tem autorização para cobrar taxas se um condutor de segurança estiver presente no veículo.
As empresas já se mostraram pouco satisfeitas com o comportamento do grupo. Segundo o The Guardian, a Waymo, empresa da Google, já ameaçou chamar a polícia contra os activistas por ser “vandalismo e encorajar comportamento inseguro e desrespeitoso nas estradas”. A Cruise afirmou que estes actos além de congestionarem o tráfego, estavam a interferir no trabalho que os carros da empresa faziam a fornecer viagens gratuitas a trabalhadores nocturnos e a entregar refeições.
Por sua vez, os activistas explicaram que, de acordo com a lei da Califórnia, é considerado vandalismo quando propriedade é danificada, destruída ou desfigurada, e que os cones são apenas inconvenientes. O movimento Safe Street Rebel afirma operar com alguns princípios éticos, dado que não tem como alvos veículos com passageiros, não desactiva carros no meio de cruzamentos ou em vias de alta velocidade e não bloqueia paragens de autocarros.
Além da segurança, o grupo de activistas levanta questões relacionadas com o ambiente e com um excesso de vigilância. De acordo com o Safe Street Rebel, embora os carros eléctricos sejam apresentados como uma alternativa mais ambientalmente responsável ainda apresentam riscos. Podem levantar também questões de privacidade, uma vez que as imagens obtidas pelas câmaras dos carros já estão a ser requisitadas às empresas para processos judiciais.
O Safe Street Rebel está a alavancar esforços para 10 de Agosto, dia em que é votada a permissão para as empresas expandirem as suas operações na cidade. Se a expansão for aprovada, vão poder começar a circular com mais carros em qualquer horário, além de poderem começar a cobrar aos passageiros por viagens.
Ao The Guardian, em anonimato, um dos activistas admitiu que "provavelmente a cidade não vai banir carros robô", mas procura com o movimento fazer surgir oposição a estes veículos e diz que "está a funcionar". O grupo alega ainda falta de transparência da empresa, devido a relatórios de segurança que são publicados, mas que não têm dados compreensíveis. "Se este é um serviço para o público, então o público deveria ter dados e ser capaz de verificá-los", afirmou um dos activistas ao jornal.
Os carros autónomos em São Francisco
Não é apenas este grupo que tem preocupações em relação aos carros autónomos. Segundo a chefe de bombeiros de São Francisco, só nos primeiros seis meses do ano, os veículos já interferiram em operações de emergência em 39 ocasiões diferentes.
De acordo com o LA Times, alguns dos incidentes reportados pelo departamento dos bombeiros incluem o bloqueio de entradas de quartéis de bombeiros, carros autónomos parados numa rua de sentido único que obrigou um camião dos bombeiros a seguir outra rota e veículos sem condutor a entrar numa área de fogo activo e estacionar com um pneu nas mangueiras a serem utilizadas para combater um incêndio.
De acordo com o departamento de veículos motores da Califórnia, em 2023 houve cerca de 70 colisões a envolver os veículos. Mas foram também reportados casos em que um carro autónomo da Waymo matou um cão, um veículo da Cruise obstruiu o caminho das equipas de emergência durante um tiroteio e uma obstrução de duas horas por parte de 20 veículos que pararam numa rua.