Veneza de novo em risco de perder a classificação de Património da Humanidade
Comité da UNESCO renova alerta para os riscos do turismo de massas e dos distúrbios climáticos e ambientais. Decisão final será tomada em Setembro, em Riade.
O aviso não é inédito, mas está de novo na ordem do dia, e das preocupações da UNESCO, que em comunicado publicado esta segunda-feira volta a alertar para o risco de Veneza entrar na lista do património mundial em perigo, a actualizar no próximo mês de Setembro.
“Decidimos inscrever Veneza e a sua laguna na lista do património mundial em perigo”, diz o diário francês Le Figaro, citando o comunicado da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
A ausência de uma acção política e técnica efectiva perante o turismo de massas, o planeamento urbanístico não suficientemente ponderado, as ameaças climáticas e os problemas ambientais da laguna junto ao Mar Adriático são as linhas de acusação do relatório elaborado por um painel de especialistas, incluindo peritos do Icomos (Conselho Internacional dos Monumento e Sítios, na sigla inglesa).
Já em 2021 Veneza correu o risco de entrar nessa “lista negra” que actualmente inclui a mais de meia centena de sítios e monumentos patrimoniais que a UNESCO considera em risco de perderem a sua classificação em países como o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, o Líbano ou a Ucrânia – esta com uma situação agravada pela invasão russa e pelos sucessivos ataques aos seus bens patrimoniais.
Há dois anos, Itália conseguiu evitar juntar-se a essa lista depois de, no Verão de 2021, as autoridades do país terem proibido a entrada dos navios de cruzeiro no centro histórico de Veneza.
Nessa altura, o Governo de Roma tinha já também activado o “dantesco” – como lhe chama Le Figaro – "Projecto Mose" (Módulo Electromecânico Experimental, na tradução portuguesa), um complexo sistema de diques que visa proteger a laguna de Veneza das marés altas do Mar Adriático – o conhecido fenómeno da acqua alta, que provocou as mediáticas inundações dos invernos mais recentes, obrigando os turistas (e os moradores) a calçar galochas para atravessar a Praça de São Marcos…
Só que, segundo o mais recente relatório dos técnicos da UNESCO, as medidas tomadas desde essa data não têm resultado em “progressos significativos”, e o sistema "Mose" carece de mais eficácia. Itália terá de abordar a situação de Veneza com “uma estratégia de longo prazo” e “soluções duráveis”, de modo a “evitar alterações irrevogáveis e a perda da autenticidade histórica” da “Cidade dos Doges”, alerta a organização.
A decisão sobre o futuro mais imediato da classificação de Veneza como Património da Humanidade, que data de 1987, deverá ser tomada na próxima reunião do Comité do Património Mundial, que vai realizar-se em Riade, capital da Arábia Saudita, entre 10 e 25 de Setembro. Não se tratará, certamente ainda, de uma decisão definitiva, mas de um aviso: “A inscrição de um bem na lista ‘em perigo’ tem o objectivo de funcionar como um electrochoque”, nota o Figaro, lembrando que a UNESCO tem uma responsabilidade para com os sítios que classifica.
Também em Riade se deverá ficar a saber se os jardins e o edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, irão passar a integrar a lista do Património Mundial, e ainda se a classificação de Guimarães, que já conta 22 anos, irá ser ampliada de modo a incluir a Zona de Couros, como pretende a autarquia local.