Grã-Bretanha vai conceder mais de 100 novas licenças de petróleo e gás no Mar do Norte
A Agência Internacional da Energia afirmou que, para que os objectivos climáticos globais sejam atingidos, nenhum novo projecto de petróleo e gás deve avançar. Ambientalistas criticam o plano.
A Grã-Bretanha comprometeu-se esta segunda-feira a conceder centenas de licenças para a extracção de petróleo e gás no Mar do Norte, como parte dos esforços para se tornar mais independente em termos energéticos, atraindo críticas de activistas ambientais.
O primeiro-ministro Rishi Sunak confirmou os planos para mais de 100 licenças deste tipo, que atraíram licitações no início deste ano, e disse que centenas de licenças futuras também poderiam ser concedidas. Anunciou também um novo apoio a dois pólos de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) na Escócia e no Norte de Inglaterra.
A Grã-Bretanha tem o objectivo de atingir emissões líquidas nulas até 2050, mas o primeiro-ministro Rishi Sunak afirmou que, mesmo nessa data, o país deverá obter mais de um quarto da sua energia a partir do petróleo e do gás. Os novos combustíveis fósseis nacionais ajudarão a melhorar a segurança energética e a reduzir a dependência de países como a Rússia.
"Todos nós testemunhámos a forma como Putin manipulou e armou a energia. Agora, mais do que nunca, é vital que reforcemos a nossa segurança energética", afirmou em comunicado.
Os esforços britânicos para atingir o objectivo de emissões líquidas nulas tornaram-se uma linha divisória entre os conservadores no poder e o Partido Trabalhista na oposição, antes das eleições previstas para o próximo ano, com Sunak a afirmar que o objectivo deve ser atingido de uma forma "pragmática" que não aumente as contas das famílias.
O Governo argumenta que a redução da oferta interna reduziria a pegada de carbono em comparação com a opção alternativa de importação de gás natural liquefeito, mas enfrenta desafios legais por parte de activistas do clima e de grupos ecologistas que alertam para o facto de o aumento da produção fóssil ser contrário ao objectivo.
A Agência Internacional da Energia afirmou que, para que os objectivos climáticos globais sejam atingidos, nenhum novo projecto de petróleo e gás deve avançar. Sunak afirma, por seu lado, que as novas licenças estão em conformidade com os objectivos ambientais do governo.
Compensar com captura de carbono
O regulador da Autoridade de Transição do Mar do Norte (NSTA) espera que a primeira das novas licenças seja atribuída no Outono. Está ainda a avaliar 115 propostas de produtores para campos na ronda de licenciamento em curso, que terminou em Janeiro.
Sunak, que visitará um local de infra-estruturas energéticas na Escócia na segunda-feira, afirmou que os novos clusters de CCS também ajudarão a criar milhares de empregos.
Os planos foram bem recebidos pelas empresas do sector da energia, incluindo a Shell e a Harbour Energy, que se encontram entre os parceiros do projecto Acorn CCS, que entrará agora em negociações comerciais com o Governo.
A Grã-Bretanha pretende utilizar a tecnologia CCS, que consiste em capturar o carbono que aquece o planeta das chaminés industriais antes de atingir a atmosfera e armazená-lo no subsolo, para reter 20 milhões a 30 milhões de toneladas de CO2 até 2030.
Actualmente, não existe nenhum projecto de captura e armazenamento de carbono em grande escala ou comercial a funcionar na Grã-Bretanha e o governo tem sido criticado pela lentidão dos progressos na sua implementação.
"Falar da captura e armazenamento de carbono é uma tentativa óbvia de dar um toque verde ao anúncio do primeiro-ministro. A captura e armazenamento de carbono não vai capturar toda a poluição climática causada pela queima de combustíveis fósseis", sublinha Mike Childs, director de política da Friends of the Earth.