Helena Freitas: “Fui preterida por ser mulher. A carreira académica não era para saias”
A bióloga Helena Freitas, professora e investigadora da Universidade de Coimbra, descreve o seu percurso profissional como “solitário”, dificultado por ser mulher e “incompreendido” pelos pares.
Foi numa pequena aldeia em Famalicão que Helena Freitas, professora catedrática e investigadora da Universidade de Coimbra na área da Biodiversidade, teve o primeiro grande encontro com a natureza. Ainda tem nítida a memória dos castanheiros e dos escaravelhos que encontrava na manta morta. Conversamos com a bióloga no Parque de Serralves, no Porto, espaço verde que dirige e conhece ao pormenor.
Nesta entrevista, fala da infância no Minho, mas também em Angola, onde esteve por causa do trabalho do pai, magistrado. Há mais de uma década, esteve em Benguela e visitou a casa onde viveu. “Tive um ataque de choro”, conta Helena Freitas, que descreve o momento como “uma reconciliação com o pai”. Foi só aí que compreendeu o fascínio que África pode exercer sobre as pessoas.
A investigadora, com vasto currículo académico e experiência de trabalho em instituições e programas europeus, descreve o seu percurso profissional como “muito solitário”, muitas vezes dificultado por ser mulher e “incompreendido” pelos pares, que a olhavam “de soslaio”.
Foi deputada, mas diz que não tem planos de voltar à política. E, a propósito das alegações de assédio sexual na Universidade de Coimbra, afirma que, no início do percurso académico, também foi “vítima”. “Acho que estas situações têm que ser desmontadas porque isto é uma realidade não só nas universidades, mas em todos os circuitos de poder”, remata.
Nasceu em Famalicão, em 1962, durante as vindimas. Ou seja, nasceu num contexto familiar de festa e muito trabalho. Acha que a circunstância em que chegou ao mundo diz algo de si?
Sim, talvez. Festa, afecto e muito trabalho. Não tinha pensado dessa forma. As vindimas eram um tempo de família, de encontro e de festa. Mas também existiam cenários muito diferentes daquilo que era o meu quotidiano, porque vinham os chamados jornaleiros. Era uma azáfama, tínhamos de alimentar toda a gente que trabalhava. Recordo-me de o meu avô me dar cinco escudos para recolher num cesto as bagas que caíam no chão. O meu avô materno era industrial têxtil de Famalicão e eu era a neta mais velha, acompanhava-o muito nas férias e assisti à emergência de uma série de movimentos sociais que me marcaram.
Pode dar um exemplo?
O meu avô era quase o proprietário de uma parte muito grande da aldeia, onde a maior parte das famílias eram operárias na fábrica do meu avô. O avô fez casas para as famílias habitarem e eu visitava esses espaços. Isto marcou-me imenso. Eu andava pelos montes e tinha toda a liberdade porque era a neta do Sr. Oliveira, digamos assim. Andava livre e depois o meu avô mandava alguém ir-me buscar às horas do dia para lanchar, para almoçar. Portanto, tive contacto com as casas que não tinham frigorífico nem televisor. O meu avô permitia que, ao domingo, os meninos que não tivessem televisor em casa viessem assistir às matinées, aos desenhos animados. Estes confrontos estavam muito presentes na minha infância. Eu percebia as diferenças e isso marcou-me.
Por que razão a marcou?
Os meus pais tiveram alguma mobilidade: o meu pai tinha numa altura ligação à magistratura e a minha mãe, embora tivesse tido acesso à universidade, não exercia nenhuma profissão. Estivemos em África durante dois anos, mas a minha mãe tinha muito receio das condições em África. Era uma mulher muito jovem, casou-se com 22 anos. A minha mãe mandou-nos, a minha irmã e a mim, para a casa dos avós, com receio da turbulência em África. Então, eu cheguei a viver na aldeia dos meus avós e estudei na Escola Primária de Mogege. Fui fazer o exame de quarta classe e tinha instruções para ajudar os colegas.
Tinha a noção do privilégio?
Completamente. Era privilegiada. Sabia que tinha ali uma função diferente. Enquanto fazia o exame, a professora primária claramente disse-me que eu tinha de ajudar os meus colegas a passarem porque, para eles, o objectivo era terminarem a quarta classe. Não tinham a mesma preparação, nem as mesmas condições. Isto marcou-me.
Escreveu que foi dessa pequena aldeia do Minho que guardou “a expressão mais pura da natureza.” Foi aí que se deu o primeiro grande encontro com a natureza?
Sim.
Qual é a sua memória mais antiga de um vegetal?
A memória dos castanheiros. E dos escaravelhos que eu via na manta morta [camada formada pela deposição de restos de plantas e material orgânico em diferentes estágios de decomposição]. Mexia numa quantidade de manta morta e surpreendia-me por conseguir ir mais fundo, nunca mais acabava. Também adorava ver as minas, os circuitos de água que vinham do monte. Tentava imaginar os cenários prévios, como é que aquilo seria muito antes, quem é que poderia ter vivido ali. Adorava explorar aquilo tudo de bicicleta e fazer viagens incríveis sem que soubessem por onde eu andava. Tive muita liberdade e, nesse sentido, fui muito amada.
Disse que o seu pai, como magistrado, havia sido colocado em Angola. Em que ano?
Acho que foi em 1968 ou 1969. Eu teria talvez seis anos. Estivemos um ano e voltámos. Havia a cólera e a minha mãe sentia-se muito intranquila, ameaçada. Lá estudámos no Colégio de São José de Cluny [em Luanda]. Depois estivemos em Silva Porto [hoje cidade de Kuito] e Benguela.
Quais são as reminiscências desse período africano?
É engraçado, eu pensava que nem tinha grandes memórias de Angola. Tinha memórias muito fugazes, nada consistente. Contudo, quando era vice-reitora [2011-2015], fui ao Lubango por causa das ligações à Universidade de Coimbra. Foi a primeira vez que fui [a África desde a infância]. Decidi então ir a Benguela, visitar a casa onde nós vivemos. Como aquela era a casa do juiz, tinha a mesma morada. Quando cheguei, lá estava a casa, estava exactamente igual.
Correspondia à imagem mental que guardou?
Completamente. Vivia alguém na casa, pedi ao senhor se me deixava entrar. Ele, simpaticamente, acabou por me deixar entrar. Eu sabia exactamente onde é que estava tudo, sabia onde estava o meu quarto. Tive um ataque de choro, uma coisa absolutamente indescritível. Chorei, chorei, chorei. Este momento também foi, de certa maneira, uma reconciliação com o meu pai. Eu tive sempre uma mágoa, não percebia porque é que lhe custou tanto deixar África. E, depois, aí, percebi.
O meu pai já tinha morrido nessa altura. Foi incrível porque, mais à frente, já na direcção de Luanda, mesmo a sair de Benguela, senti um cheiro que identifiquei como familiar. Comentei com essa amiga angolana, que conhecia aquele cheiro, e que disse que era da fábrica de açúcar, na Catumbela. Era o mesmo cheiro, eu sabia. Eu tinha esse nível de reconhecimento.
Como é que esta experiência abriu caminho para a reconciliação?
Percebi que África pode exercer sobre mim – e também, eventualmente, sobre o meu pai – uma força e uma sedução muito grande. Quando regressei, até fiz esta tatuagem [mostra um símbolo africano tatuado no antebraço]. África tem um poder brutal de aproximação à condição humana, da forma mais pura e livre. A minha vida é muito marcada pela expressão da liberdade em todos os contextos – e África desperta-me isso mesmo.
Acha que o seu pai sentia o mesmo por África?
Ele não conseguiu fazer a transição. Quando regressou, nunca mais foi feliz. Há muita gente que descreve este sentimento, mas eu não compreendia. Foi importante este entendimento mais amplo do que o meu pai sentiu. A humanidade em África tem um despojamento diferente, que tem a ver com as origens, com o início de tudo. A natureza tem esse poder sobre mim, é a força de milhões de anos de evolução, coisas que estiveram muito para além da nossa compreensão da vida.
Acredita no que está para além da nossa compreensão?
Tenho qualquer coisa em mim que acredita que há coisas que não acontecem por acaso. Tenho duas ou três situações na minha vida que são inacreditáveis. Uma delas tem a ver com África. Quando lá chegámos, tivemos de ficar num hotel em Silva Porto enquanto não tínhamos uma casa disponível. Eu tinha seis anos e havia um menino da minha idade. Demo-nos muito bem e combinámos que, aos 18 anos, nos encontrávamos numa cidade alentejana e nos casaríamos. Era uma coisa de miúdos, íamos separar-nos porque nós iríamos para a nova casa e ele ficaria ali, onde os pais eram professores. Nunca mais nos vimos. Lembrava-me de vez em quando, sabia de cor o nome completo dele. Há meia dúzia de anos, estava a ler o jornal em Agosto e li uma notícia sobre um português morto no Brasil. Comecei a chorar desalmadamente como se tivesse perdido uma pessoa que me tivesse acompanhado desde sempre. Fiquei tão triste que escrevi uma breve nota no Facebook sobre a perda de um amigo. No dia seguinte, percebi que a filha dele era minha aluna nesse ano na Universidade de Coimbra e tinha combinado com o pai que, quando acabasse a disciplina, viria ter comigo a dizer de quem era filha. Conhecemo-nos e abraçamo-nos. Nem queria acreditar.
É algo do domínio do improvável...
Sim, mas aconteceu mesmo. Isto estava previsto. Há coisas que não sei explicar, mas que aceito. Tenho dois ou três episódios assim, muito marcantes. Houve outro na Alemanha, onde fiz doutoramento.
Fez parte do doutoramento no Departamento de Ecologia da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, no histórico ano de 1989. Sei que Bielefeld fica distante de Berlim…
Sim, mas eu fui lá. Fui para a Alemanha no final de Setembro e o Muro de Berlim caiu no dia 9 de Novembro. Tinha imensa curiosidade, então vi as viagens e meti-me num autocarro para Berlim no dia 23 de Outubro. Ainda havia o muro e a viagem ainda foi muito condicionada pela República Democrática. Nós sabíamos que ia acontecer. Estava com uma família alemã – nós até hoje somos muito próximos – e eles viam aquilo tudo com apreensão, por razões diversas, porque, na verdade, a outra Alemanha era um mundo longínquo.
Formou-se em Biologia na Universidade de Coimbra. O que estudou no doutoramento?
Fui para a biologia porque achava que era a ciência do futuro. Quando ainda estava no terceiro ano, convidaram-me para ficar como monitora. Então, eu tive aí um tempo para escolher. Por exemplo: o professor Jorge Paiva até me proporcionou um estágio em Valência, para que eu pudesse perceber se aquilo tinha interesse para mim. Mas era muito descritivo, a taxonomia não me estimulava cognitivamente. O professor Jorge Paiva é um taxonomista que eu respeitava imenso, mas eu queria ecologia e não tinha um mentor nessa área em Coimbra. Comecei a pesquisar livros de ecologia na biblioteca e resolvi escrever a um professor alemão [Siegmar-W. Breckle] com trabalho feito em ambientes extremos, com plantas que resistem ao sal. Tinha muita curiosidade em perceber aquele mecanismo de extrusão salina, como é que era possível as plantas estuarinas viverem naquelas condições extremas. Nenhum ser vivo gosta de sal. Então, escrevi para aquela pessoa e disse que gostava muito de fazer um percurso na área. Mas, para isso, tinha de entregar as minhas provas. Ao fim de dois anos, fui à secretaria entregá-las e apanhei toda a gente de surpresa.
O professor alemão respondeu?
Sim, convidou-me para ir. Concorri a uma bolsa do DAAD [o serviço alemão para o intercâmbio académico]. Tive um percurso muito solitário.
Os seus pares académicos não compreendiam as suas escolhas?
Quando eu entreguei as provas, tiveram de encontrar um júri. Era um trabalho sobre as sementes, que, na minha opinião, é o embrião mais extraordinário da vida terrestre. Foram buscar o professor Fernando Catarino, de Lisboa, porque era quem havia de Ecologia Vegetal em Portugal. Ele veio e foi incrível comigo. No dia em que defendo as minhas provas – e, nessa altura, já estava todo o mundo a olhar de lado porque eu ainda era estagiária –, corre tudo bem e, no final, o professor Catarino diz, diante de toda a gente, no anfiteatro, que já sabe que eu vou para a Alemanha. Por coincidência, ele tinha estado na Turquia com esse professor a quem eu tinha escrito. Foi uma bomba. Passei a ter ali uma colecção de... bem, não diria inimigos...
Pessoas que olhavam para si de soslaio por não compreenderem?
Sim, de soslaio, por não compreenderem. Não era suposto naquela altura. Eu fiz as provas após dois anos e, passadas duas semanas, fui para a Alemanha fazer o doutoramento. Não era suposto. Mais tarde, quando voltei a Coimbra, tive de esperar mais de um ano para me deixarem concluir o doutoramento, tive de esperar que outros colegas mais velhos progredissem. Houve ali um compasso de espera. Eu havia introduzido uma aceleração no sistema que não estava prevista. Havia pessoas à minha frente.
Disse que a taxonomia não a seduz cognitivamente. O que a fascina na ecologia?
O que me seduz é a premissa de que na natureza nada existe sozinho. É a dimensão colaborativa, relacional e a obrigatoriedade do equilíbrio dessas mesmas relações. A própria vida na Terra acontece porque as plantas se associam aos fungos, e essa colaboração é determinante para o êxito da vida no planeta.
Mais tarde, já doutorada e regressada da Alemanha, concorre a uma bolsa na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, para estudar o impacto do carbono nas alterações globais. Como é que nasce este interesse científico em 1994?
Eu sabia que as alterações climáticas seriam fundamentais. Estávamos a começar com o IPCC [Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas]. Tinha muito esta vontade de estudar o carbono e perceber o funcionamento dos sistemas em carbono. Quando defendi a tese após o compasso de espera, escrevi ao professor Catarino e disse que queria concorrer à bolsa de pós-doutoramento em Stanford – mas sabia que teria de voltar na mesma a Portugal para dar aulas, uma vez que não teria dispensa.
Teve de aguardar um ano para concluir o doutoramento, mesmo já tendo a tese pronta. Não teve dispensa das aulas, mesmo estando no estrangeiro. Isto era a regra para todos ou só para alguns?
Era para alguns.
E o género tem um peso aqui?
Eu diria que sim, dou-lhe um exemplo a seguir. Quando abriu um lugar na Universidade de Coimbra em 1986, eu era monitora e fui preterida por um candidato homem. Ficaria eu, mas eu não tinha patrono, digamos, não tinha um orientador. Na altura, ficou registado em acta – e ainda estão vivas algumas pessoas que participaram nesse júri – que eu fui preterida por ser mulher, que a carreira académica não era para saias. Mas depois esta decisão foi ao [conselho] científico e não foi permitida.
Voltemos ao pós-doutoramento na Universidade de Stanford, na Califórnia...
Enviei um fax para o professor [Harold] Mooney a dizer que queria fazer um post-doc com ele. Ele respondeu positivamente. Concorri a uma bolsa da JNICT [como então se chamava a Fundação para a Ciência e Tecnologia] para ir para os Estados Unidos em 1993 e 1994. Preparei a minha candidatura numa altura em que estava a decorrer em Jasper Ridge [uma reserva biológica da Universidade de Stanford] uma experiência com CO2 muito elevado. Nós, na altura, ainda tínhamos 364 partes por milhão na atmosfera e estávamos a trabalhar com 720, o dobro. Era uma estrutura exterior, em grande escala, não tínhamos isso na Europa ainda.
Mas teve a bolsa recusada...
Foi-me recusada a candidatura por duas razões. Primeiro, porque achavam que este não era um tema de alterações climáticas. Na altura, o painel de avaliação do clima achava que nas alterações climáticas trabalhava-se sobretudo a química da atmosfera. Os sistemas vivos ainda estavam muito longe desta equação. Depois, porque a Universidade de Stanford não era vista como uma instituição com pedigree nesta área. Assim, a bolsa foi recusada. Numa escala de 1 a 5, Stanford teve nota 2.
Apresentou recurso?
Fiz uma reclamação que já foi recebida na altura pelo Mariano Gago [1948-2015], então ministro da Ciência e Tecnologia. Deram-me a bolsa após o recurso e falou-se na importância de uma renovação nos sistemas de avaliação. Fui então para Stanford no ano seguinte, em 1995.
A partir daí, a questão climática ficou indissociável do seu trabalho?
Nunca mais deixei. O Mooney é uma pessoa incrível no plano internacional e foi precursor de uma série de grandes projectos globais. Quando voltei a Portugal, queria ter projectos globais. Não podia ser o carbono, não tínhamos em Portugal escala para isso. O Mooney tinha lançado o Global Invasive Species Program, um projecto internacional sobre espécies invasoras, e eu achei que Portugal tinha de agarrar essa oportunidade. Era um problema crítico para nós em termos de conservação. Lancei o projecto das invasoras que depois resultou na plataforma Invasoras.pt.
Na mesma altura, abre um lugar para professor associado em Coimbra na área de Ecologia. A minha sorte foi que o júri era externo e eu fiquei com o lugar, mas era muito nova, fizeram-me a vida negra e eu estava cansada. Tive a sorte de encontrar um professor incrível num Congresso Nacional de Fisiologia Vegetal, o professor João Santos Pereira, do Instituto Superior de Agronomia, que me convidou para coordenar em Portugal o Biodepth, que foi o primeiro grande projecto de impacto da biodiversidade na produtividade dos sistemas.
Tem um currículo científico extenso, mas também já ocupou cargos políticos. Foi deputada pouco mais de um ano (2015-2016) e, depois, esteve outro na coordenação da Unidade de Missão para a Valorização do Interior (2016-2017). A política não lhe encheu as medidas?
Para mim, foi uma profunda… não sei se desilusão é a palavra certa. Senti que não era útil à política, tal como a encontrei. E eu gosto de ser útil.
Não voltaria a candidatar-se ou a aceitar um cargo político?
Não.
É professora catedrática na Universidade de Coimbra, que este ano foi palco do caso Boaventura de Sousa Santos, no qual o sociólogo é acusado de assédio moral e sexual. Foi uma surpresa para si?
Até certo ponto, sim. Tinha a percepção de que o professor Boaventura era muito endeusado pelo grupo e pelo Centro de Estudos Sociais. Ele foi precursor e também um grande líder das áreas nas quais trabalha, admiti que essa força emergia mais de uma narrativa e de uma adesão muito intelectual do que propriamente de uma questão de base que pudesse ser considerada assédio sexual. Mas não tenho dúvidas de que essas coisas se podem facilmente cruzar. O poder na academia pode reflectir-se de muitas formas. A academia é um microcosmos da sociedade, por isso é e não é uma surpresa.
Já foi vítima de alguma situação deste género na universidade?
Já, claramente, logo no início do meu percurso. Foi uma situação muito grave. Passei a fugir, evitar, fugi sempre. Acho que estas situações têm que ser desmontadas porque isto é uma realidade não só nas universidades, mas em todos os circuitos de poder.
Na altura, considerou denunciar?
Não, não. Coimbra é uma cidade pequena, a minha família é grande, portanto, são pessoas que acabam de uma forma ou de outra por se conhecer ou relacionar. Sentia-me até mal com a situação, preferi fugir e evitar. É absolutamente determinante que a sociedade tenha capacidade de encontrar mecanismos de salvaguarda da vulnerabilidade, esteja ela onde estiver.
Texto actualizado dia 14/8/23. Foi corrigida a definição de "manta morta" entre parêntesis.