Chega e IL pedem demissão de Gomes Cravinho. PSD diz que “está muito fragilizado”
Em causa está o facto de o actual ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo responsável pela Defesa não ter revelado ao Parlamento que Capitão Ferreira trabalhou consigo numa “comissão-fantasma”.
O Chega e a Iniciativa Liberal (IL) insistiram esta quinta-feira no pedido de demissão de João Gomes Cravinho depois de terem sido noticiados novos dados acerca da sua relação com Marco Capitão Ferreira quando era ministro da Defesa. Já o PSD considera que o ministro "está muito fragilizado" e defende que o primeiro-ministro António Costa deve dar explicações. Em causa está o facto de o actual ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo responsável pela pasta da Defesa não ter dito no Parlamento que Capitão Ferreira, ex-secretário de Estado da Defesa, trabalhou directamente consigo numa alegada "comissão-fantasma" enquanto assessorava a Direcção-Geral de Recursos e Defesa Nacional (DGRDN).
A Iniciativa Liberal, através de uma publicação no Twitter do seu líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, defendeu que desde há muito os liberais afirmam que Gomes Cravinho não tem "condições para estar no Governo". "Não há outra opção para António Costa além da exoneração", escreveu o deputado liberal.
Em declarações aos jornalistas, Rodrigo Saraiva acrescentou que "já não é apenas uma questão de responsabilidade política, é também uma questão de dignidade do Estado português". Gomes Cravinho "teve todas as oportunidades para clarificar a sua relação com Capitão Ferreira" e não o fez, criticou Rodrigo Saraiva.
"Inicialmente até podíamos considerar que era uma mera questão de responsabilidade política e que tudo tinha acontecido por omissão do Ministério da Defesa. Mas com estes casos não parece só omissão. Há uma relação muito próxima" entre o ministro e Capitão Ferreira, concluiu o deputado.
Também o Chega voltou a pedir o afastamento de Gomes Cravinho do Governo. "João Cravinho mentiu e voltou a mentir na audição que teve no Parlamento", acusou o líder do Chega, num vídeo divulgado à comunicação social. André Ventura referia-se à notícia da Visão, que avançou que Capitão Ferreira trabalhou, entre Fevereiro e Março de 2019, na dependência do então ministro da Defesa, Gomes Cravinho, numa comissão informal, sem vínculo ao ministério.
O actual chefe da diplomacia portuguesa "não tem nenhumas condições para se manter" no cargo, defendeu o Chega. Para Ventura, "só há duas soluções: ou João Cravinho sai pelo próprio pé, procurando assegurar uma última réstia de dignidade, ou o senhor primeiro-ministro tem que o demitir".
Costa tem de "explicar se mantém a confiança" no ministro
Já o líder parlamentar do PSD considerou que o ministro dos Negócios Estrangeiros está "muito fragilizado" e acusou-o de ter omitido "informação relevante" ao Parlamento, considerando que o primeiro-ministro tem que explicar se mantém a confiança no governante.
"O que aqui é importante é que o primeiro-ministro venha esclarecer o que se passou e venha dizer se mantém a confiança política no seu ministro dos Negócios Estrangeiros, apesar de ele estar muito fragilizado e ainda por cima, sendo ministro e ministro de uma área de soberania, é para nós bastante grave", disse, em declarações à agência Lusa Joaquim Miranda Sarmento.
Segundo o social-democrata, "o PSD não costuma pedir a demissão de ministros porque a formação do Governo é uma competência do senhor primeiro-ministro". "O senhor primeiro-ministro é que tem que vir explicar se mantém a confiança no seu ministro dos Negócios Estrangeiros e se acha normal ter um ministro, ainda para mais numa área de soberania, visado em tantos casos e com tantas situações por esclarecer", enfatizou.
Miranda Sarmento afirmou que João Gomes Cravinho, "na qualidade anterior de ministro da Defesa, tem já várias situações que o fragilizam muito do ponto de vista político", dando como exemplos as obras do Hospital Militar e os casos envolvendo o ex-secretário de Estado da Defesa Marco Capitão Ferreira.
"É importante lembrar que o senhor ministro esteve no parlamento a semana passada e omitiu informação relevante à Assembleia da República, nomeadamente o trabalho em paralelo, simultâneo e directo, com Marco Capitão Ferreira para o gabinete do então ministro da Defesa", acrescentou.
Quando questionado pela Visão, que cita documentos e emails que comprovam esta relação laboral informal naquilo que Capitão Ferreira classificava como “comissioni fantasmi”, o ministro confirmou essa colaboração. No entanto, na audição conjunta de Gomes Cravinho com a actual ministra da Defesa, Helena Carreiras, na passada sexta-feira, o ministro não sinalizou tal realidade.
O ex-secretário de Estado da Defesa demitiu-se no início de Julho, no dia em que foi constituído arguido no âmbito da Operação Tempestade Perfeita. Capitão Ferreira é suspeito dos crimes de corrupção e participação económica em negócio e foi alvo de buscas (que também ocorreram nas instalações da Direcção-Geral de Recursos da Defesa Nacional).
Antes de tomar posse como secretário de Estado da Defesa, Capitão Ferreira foi presidente do conselho de administração da idD Portugal Defence, holding responsável por gerir as participações públicas nas empresas da Defesa. Capitão Ferreira foi nomeado por Gomes Cravinho, assumiu o cargo em 2020 e saiu dois anos depois, em Março, com a nomeação para o Governo.
Notícia e título actualizados com posição do PSD