Militares do Níger detêm o Presidente e anunciam golpe
Revoltosos justificam deposição de Bazoum com a “deterioração da situação de segurança” no país africano. Presidente deposto diz que as conquistas democráticas serão “salvaguardadas”.
Um grupo de militares do Níger deteve o Presidente Mohamed Bazoum e anunciou através da televisão nacional, na noite de quarta para quinta-feira, a suspensão da aplicação da Constituição e de todas as instituições do Estado, o encerramento das fronteiras do país e a imposição de recolher obrigatório em todo o território.
O anúncio televisivo teve lugar poucas horas depois de o chefe de Estado ter denunciado uma tentativa de golpe, que parece estar agora a ser consumada.
“Nós, as forças de segurança e defesa, decidimos pôr termo ao regime que conhecem devido segue-se à continuada deterioração das condições de segurança e à má gestão económica e social”, proclamou o major-coronel Amadou Abdramane, ladeado por outras figuras militares. “Pedimos a todos os parceiros externos para não interferirem”, acrescentou.
Depois de várias horas em silêncio, o Presidente Bazoum publicou esta quinta-feira uma mensagem no Twitter a dar conta de que todas as “conquistas” alcançadas pela antiga colónia francesa – que o elegeu em 2021, no culminar de um longo processo de transição democrática – serão “salvaguardadas” e que todos aqueles que “amam a democracia e a liberdade” se “encarregarão disso”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Hassoumi Massoudou, também recorreu à mesma rede social para apelar a “todos os democratas e patriotas” para ajudarem a pôr fim a esta “perigosa aventura”.
Segundo o Guardian, o golpe terá sido liderado pelo chefe de um grupo político e securitário regional, que terá tido o apoio de alguns membros da guarda de Bazoum. Os revoltosos, acrescenta a Reuters, bloquearam a entrada principal do palácio presidencial, em Niamei, com veículos militares, e também limitaram o acesso a vários ministérios próximos do local.
O golpe mereceu a condenação de grande parte da comunidade internacional, nomeadamente dos países ocidentais que têm no Níger um aliado-chave na luta contra o terrorismo islâmico na África Ocidental.
O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, apelou à libertação imediata do Presidente Bazoum, e António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, disse ter falado com Bazoum durante o dia e que lhe reiterou o apoio da ONU. Também a União Africana condenou o que, horas antes do anúncio do golpe, qualificou como tentativas de “minar a estabilidade das instituições democráticas” do país.
O Níger, independente desde 1960, é uma nação multiétnica de maioria muçulmana e de língua oficial francesa. O país, que faz fronteira com a Nigéria, Burkina Faso, Benim, Mali, Argélia, Líbia e Chade, ocupa uma parte estratégica do deserto do Sara, sendo um importante exportador de urânio. É, contudo, um dos países mais pobres do mundo, dependendo em grande medida de assistência financeira internacional.
A ser consumado, este será o sétimo golpe militar na África Central e Ocidental desde 2020. A queda de Bazoum e a instabilidade política pode ter repercussões imprevisíveis no combate ao terrorismo.
“Bazoum tem sido a única esperança do Ocidente na região do Sahel”, sublinha Ulf Laessing, director do programa Sahel no think tank alemão Konrad-Adenauer-Stiftung, citado pela Reuters. “França, EUA e UE têm gasto muitos dos seus recursos na região para desenvolver o Níger e as suas forças de segurança.”