Ex-militares norte-americanos pedem mais transparência sobre avistamentos de óvnis
Três antigos militares ouvidos pelo Congresso norte-americano acusam o Governo de falta de transparência. Um deles sugeriu mesmo a ocultação de provas de vida extraterrestre. O Pentágono desmente-o.
Há duas coisas em comum entre Roswell, as "luzes de Phoenix" ou as descrições do chamado Projecto Livro Azul: em primeiro lugar, são conjuntos de famosíssimos relatos de alegados avistamentos de objectos voadores não identificados (óvnis); em segundo, nenhum deles oferece provas cabais e oficialmente aceites de que se refiram a fenómenos de origem extraterrestre.
Esta é a garantia que tem sido dada por membros do Pentágono e de outras agências norte-americanas ao Congresso dos Estados Unidos, quando chamados a apresentar detalhes sobre relatos de avistamentos inexplicáveis nos céus do país. Em suma, que não há qualquer prova de que tenham sido vistos ou interceptados objectos de tecnologia extraterrestre. Em vez disso, as explicações oficiais apontam para balões meteorológicos, ou lixo espacial, ou artefactos voadores de espionagem — mas sempre terráqueos. Nada aponta para uma origem alienígena, asseguram.
Mas as explicações oficiais não são subscritas por todos. Esta quarta-feira, no Congresso norte-americano, David Grusch, um antigo oficial da Força Aérea e ex-membro de uma task-force do Pentágono que investiga casos de objectos voadores não identificados, declarou sob juramento ter sido informado de que os EUA terão em sua posse vestígios de "materiais de origem não humana" recolhidos em locais onde óvnis se terão despenhado.
"Fui informado, no decurso do exercício das minhas funções oficiais, da existência de um programa de várias décadas de recuperação de UAPs [sigla para unidentified aerial phenomena, inglês para fenómenos aéreos não identificados] ao qual me foi negado acesso", disse ainda sob juramento, escreve a Associated Press, acusando o Governo dos EUA de omitir provas sobre a possível existência de contactos com vida extraterrestre.
Pressionado a oferecer mais detalhes sobre os alegados "materiais de origem não humana", Grusch esclareceu que não os viu, e que apenas ouviu falar deles. Interrogado sobre o alegado programa secreto de recuperação de óvnis, o antigo oficial militar recusou falar em público, disponibilizando-se para prestar mais informações aos congressistas em privado.
Sem repetir as acusações bombásticas de Grusch, outros dois militares na reserva, ouvidos pelo Congresso, apelaram a uma maior transparência por parte do Governo norte-americano em torno dos casos de avistamento de óvnis.
"Se os óvnis são drones estrangeiros, isso é um problema urgente de segurança nacional. Se forem outra coisa, é uma questão para a ciência. Em ambos os casos, os objectos não identificados são uma preocupação para a segurança aérea", argumentou o piloto Ryan Graves, fundador da organização Americans for Safe Aerospace — que recolhe testemunhos de avistamentos suspeitos junto de pilotos militares e civis.
David Fravor, outro antigo piloto militar, falou ao Congresso sobre um caso que testemunhou em 2004, ao largo de San Diego, na Califórnia: um objecto "em forma de tic-tac" (um conhecido rebuçado) que se movia de forma que "desafiava as leis da física". Sem afirmar explicitamente que se trataria de um objecto extraterrestre, Fravor declarou que terá observado uma tecnologia "muito superior a qualquer coisa que nós [os Estados Unidos] tínhamos" à data.
Apesar de os congressistas democratas e republicanos terem convergido e concordado com os depoentes acerca da necessidade de maior transparência das autoridades norte-americanas sobre supostos casos de avistamentos de óvnis, a sessão de quarta-feira ficou marcada pelo cepticismo dos legisladores face às declarações mais dramáticas de Grusch. Um deles foi o republicano Eric Burlison, que considerou "rebuscada" a ideia de que um ser inteligente vindo do espaço tenha capacidade de viajar até ao planeta Terra, mas que não consiga sobreviver a uma aterragem.
Em reacção às audições de quarta-feira, e citada pelo New York Times, Susan Gough, porta-voz do Pentágono, declarou que o Departamento de Defesa norte-americano não tem qualquer "informação verificável" de que os alegados programas secretos de recuperação de óvnis "tenham existido no passado ou existem actualmente”, negando ainda a posse dos referidos vestígios de origem não humana.