A autarquia de Arcos de Valdevez lançou um novo roteiro turístico, inspirado nas palavras que José Saramago dedica ao concelho minhoto no livro Viagem a Portugal, publicado em 1981. Integrado ainda nas comemorações do centenário do nascimento do escritor português, celebrado em 2022, o roteiro intitulado “Os Percursos de Saramago em Arcos de Valdevez” propõe a visita a quatro dos locais mais emblemáticos do concelho, entre citações da obra e contextualizações históricas.
Para Saramago, “este rio Vez, por alturas de Sistelo (…) e depois o rio Cabreiro, que a ele flui, são maravilhas verdadeiras que juntam a doçura e a aspereza, a harmonia dos socalcos verdes e o pedregar das águas, sob a fortuna duma luz que começa a baixar e recorta, linha por linha, cor por cor, a mais bela paisagem que cabe nas imaginações”.
O único português galardoado com o Prémio Nobel da Literatura não ficou indiferente ao “pequeno Tibete português”, classificado em 2018 como monumento nacional enquanto Paisagem Cultural, o primeiro reconhecimento do género a ser atribuído em Portugal e que abrange os lugares de Igreja, Padrão e Porta Nova.
Como segunda paragem do roteiro, ao longo do qual “foram colocadas placas interpretativas”, além da “respectiva sinalética direccional na estrada nacional N202-2”, surge Cabreiro, aqui com destaque dado à sua ponte medieval, “recentemente classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Estado Português”, lê-se em comunicado.
Já a igreja de Gondoriz, voltando às palavras de Saramago, “ergue-se como um cenário sobre o vale” numa “construção teatral, setecentista, sem dúvida uma boa imagem de igreja triunfante”, com um cruzeiro, acrescenta o roteiro, de “assinalável monumentalidade”, “construído em 1771”.
Por último, o novo roteiro literário, com brochura informativa disponível na loja interactiva de turismo e no site do município, termina junto ao Paço de Giela, “um dos mais belos exemplares deste tipo de construção existentes no país”, defende o escritor de Viagem a Portugal. O edifício quinhentista, de torre “mais antiga”, “do final do século XIV”, e “casa de um tempo mais recente” onde se destaca “uma bela janela manuelina”, estava “uma ruína” quando Saramago a visitou, saindo dali um “viajante tristíssimo”.
Entretanto adquirido pelo município e recuperado num projecto “de reabilitação que respeita a importância, história e necessidades funcionais actuais”, o Paço de Giela abriu ao público em 2015, com um espaço interpretativo e a realização de vários eventos.