Lucros do BCP aumentam quase sete vezes para 423,2 milhões no primeiro semestre

O crescimento de mais de 60% da margem financeira, impulsionada pela subida dos juros, explica o resultado do maior banco privado português nos primeiros meses do ano.

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BCP é liderado por Miguel Maya. LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O BCP teve lucros de 423,2 milhões de euros no primeiro semestre, quase sete vezes os 62,2 milhões de euros registados dos primeiros seis meses de 2022, divulgou esta quinta-feira o banco liderado por Miguel Maya.

Em comunicado, o banco explica que a “evolução do resultado líquido consolidado reflecte o desempenho favorável quer da actividade em Portugal, quer da actividade internacional, levando a que a rendibilidade dos capitais próprios (ROE) do Grupo aumentasse significativamente face aos 2,4% apurados no primeiro semestre de 2022, fixando-se em 16,8% no primeiro semestre de 2023”.

Um desempenho explicado pela “evolução dos proveitos core [estratégicos], que aumentaram 28,3%, de 1372,7 milhões de euros no primeiro semestre de 2022 para 1761,4 milhões de euros no mesmo período de 2023, beneficiando do crescimento de 39,5% (389,2 milhões de euros) registado na margem financeira”.

A margem financeira (a diferença entre os juros pagos nos depósitos e os juros pagos no crédito) do grupo cresceu 39,5% para 1374,4 milhões de euros. Na actividade em Portugal, “a margem financeira ascendeu a 707,5 milhões de euros, nos primeiros seis meses de 2023, apresentando um crescimento muito expressivo de 64,3% face aos 430,5 milhões de euros apurados no final do primeiro semestre de 2022”

“Este desempenho da margem financeira reflecte, em larga medida, o maior rendimento gerado pela carteira de crédito a clientes, decorrente dos aumentos registados nas taxas de juro, parcialmente compensado pelo aumento da remuneração da carteira de depósitos”, conclui o banco

As comissões ficaram praticamente estáveis em 387 milhões de euros.

Ainda no primeiro semestre, o banco registou encargos com 399,12 milhões de euros (dos quais provisões para perdas de 331,63 milhões de euros) relacionados com os créditos hipotecários em francos suíços na operação na Polónia.

Total de 9600 renegociações de crédito

O BCP fez 9600 renegociações de créditos no primeiro semestre, sendo que 1885 foram ao abrigo do decreto-lei do Governo, disse ainda o presidente executivo do banco na conferência de imprensa.

"Renegociámos muito mais do que ao abrigo do decreto-lei, porque tivemos a preocupação de analisar todas as situações e tentar encontrar soluções para todos os clientes", disse Miguel Maya.

O CEO do banco foi ainda questionado sobre as declarações do ministro das Finanças, Fernando Medina, que em entrevista ao PÚBLICO disse que o Governo está a trabalhar com os bancos para mitigar a subida das prestações do crédito.

Em resposta, Miguel Maya disse que isso não altera a prática do banco, pois já propõe taxa fixa, quer para novos créditos, quer para quem renegoceia o crédito. "O que quer que diga o Governo, o ministro das Finanças, não altera nada, porque isso já é prática. (..) Taxa fixa temporária é o que chamamos de taxa mista, nada disto é novo", afirmou.

Quanto à bonificação de juros, Miguel Maya disse que há mais 700 clientes do BCP a beneficiar dessa medida e que, em média, a bonificação é de 37 euros.

Sobre a dificuldade das famílias em pagarem crédito à habitação, no actual contexto de forte aumento da taxa de juro, o presidente executivo do BCP disse: "olhando para o todo não há um problema, mas olhando cada caso concreto há problemas” e aí é que é preciso "encontrar soluções que permitam que os problemas sejam ultrapassados".