Out.Fest completa programação com Liturgy, Nze Nze ou Nok Cultural Ensemble
Carlos Zíngaro e Alvin Curran, históricos da música improvisada, Dali Muru & The Polyphonic Swarn e Tiago Sousa aos comandos de um órgão tricentenário foram também anunciados esta quarta-feira.
Dois nomes históricos da música improvisada e experimental europeia, Carlos Zíngaro e Alvin Curran, co-fundador dos Musica Elettronica Viva. O peso e as sombras do black metal dos Liturgy e os misteriosos espectros de guerreiros ancestrais na música densa dos Nze Nze. As novas rotas da exploração jazz londrina desvendadas pelos Nok Cultural Ensemble, a palavra e a electrónica nas camadas sonoras de Dali Muru & The Polyphonic Swarn. São alguns dos mais recentes nomes anunciados para o cartaz do Out.Fest – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, que se realiza entre 4 e 7 de Outubro.
A Out.Ra, associação organizadora, em conjunto com a promotora Filho Único, do festival que cumprirá este ano a sua 19.ª edição, já anunciara em Junho o concerto que reúne um nome de destaque do free jazz europeu e uma figura de relevo na electrónica, ou seja, Sven-Åke Johansson & Jan Jelinek, ou a presença de Dawuna, criador de uma soul rarefeita, de uma intimidade desarmante, que ouvimos em Glass Lit Dream. Na mesma altura, consequência da habitual atenção ao desenvolvimento da cena local, foi revelada a estreia dos ΔIII / XIII (ou seja, Treze), novo grupo barreirense nascido do encontro dos Estranhas Entranhas, explosão pós-punk violenta e dilacerante, com a electrónica noise de Cavernancia — acabam de editar o seu álbum de estreia, Apokalópsia.
Na porção da programação revelada esta quarta-feira, que deixa praticamente fechado o cartaz do festival, ficamos a saber que um ilustre músico barreirense, o pianista, teclista e compositor Tiago Sousa será protagonista de um concerto inédito, tocando o órgão tricentenário da Igreja de Nª Sra. do Rosário, no que será uma forma de dar expressão grandiloquente à música que tem explorado recentemente, onde ganha preponderância o órgão eléctrico e a ideia de repetição dos compositores minimalistas.
Entre os acontecimentos preparados especificamente para o festival, anuncia-se também a colaboração entre Clothilde (Sofia Mestre), criadora de electrónica assente em sintetizadores modulares, e o trompetista barreirense João Silva. Colaboradora em palco tanto de Clothilde como de Tiago Sousa, a artista sonora viseense Joana de Sá apresentará no festival Lightwaves, álbum que editou no final de Junho.
O duo anglo-nipónico forjado em Berlim, Scoth Rolex & Shackleton, autor este ano de Death By Tickling, a portuense DJ Lynce e a holandesa DJ Marcelle, que será responsável por encerrar o Out.Fest 2023, são os restantes nomes anunciados esta quarta-feira.
Montra da música das margens
Carlos Zíngaro, o violinista dono de uma riquíssima carreira de mais de cinco décadas, apresentará um solo no festival, num concerto que, tendo em conta a geração e atitude artística de ambos, fará bom espelho com o de Alvin Curran, americano radicado em Roma que, em 1966, foi um dos fundadores dos Musica Elettronica Viva, grupo de improvisadores e exploradores da música electro-acústica — é dono de uma vasta e multifacetada carreira a solo cuja discografia recua a 1974, ano em que editou Songs and View of the Magnetic Garden.
Notabilizado pela forma como põe em cena, espalhando-se por várias salas e espaços da cidade, uma montra diversa da música das margens, o Out.Fest mantém inalterada essa matriz. No próximo Outubro, no Barreiro, ouvidos atentos aos Nok Cultural Ensemble do baterista anglo-nigeriano Edward Wakili-Hick, membro dos Sons of Kemet, Steam Down ou Kokoroko, cujo álbum de estreia, Njhyi, foi editado no final do ano passado – portal entre o presente na diáspora londrina e ancestral cultura Nok nigeriana. No Barreiro, uma viagem entre Budapeste e os Cárpatos, digressão em electrónica de fantasmas “hipnagógicos” pelas mãos do colectivo Dali Muru & The Polyphonic Swarn, cujos membros se movem no eixo Berlim, Paris e Manchester.
Na Margem Sul do Tejo, encontraremos então os Liturgy da guitarrista e vocalista Haela-Hunt Hendrix, criadores em Brooklyn do que classificaram como “black metal transcendental” (registo mais recente, 93696, editado em Março deste ano), e iremos deparar-nos com o trio parisiense Nze Nze, formado por Matthieu Ruben N'Dongo, Tioma Tchoulanov e Gaëtan Bizien. Resgatam contos tradicionais guerreiros do povo Fang da África Central, ambientando-os em música densa, intensa, ritual pós-punk emergindo entre reverberações de um dub apocalíptico, como ouvimos em Adzi Akal, editado em Outubro do ano passado.
Para além dos nomes já referidos, o Out.Fest apresenta ainda em cartaz os previamente anunciados Cucina Povera, Raja Kirik, O Carro de Fogo de Sei Miguel, Rita Silva, Afrorack, Holy Tongue, Horse Lords, J. Zunz, Luís Pestana, Lustsickpuppy, Ravenna Escaleira, Širom e Voice Actor. Os passes globais para o festival (33€) estão disponíveis na BOL e locais habituais.